"Numa entrevista coletiva bastante concorrida, ontem pela manhã (06/11/2009), na sede do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do Ceará (Sindepol - CE), a delegada Alexandra Medeiros não poupou palavras e acusações ao superintendente da instituição, Luiz Carlos Dantas: "O que acontecer com minha família ou qualquer um de nós, eu responsabilizo o Dantas. Toda essa trama foi armada por ele para que a gente se afastasse das investigações".
Alexandra, o marido Fernando Cavalcante (inspetor) e o irmão dele, delegado Francisco Cavalcante, foram afastados das funções policiais, após terem sido apontados em suspeita de tortura a presos de uma quadrilha que teria cometido, em agosto, um atentado contra a família da delegada. O grupo foi preso na semana passada e denunciou a suposta sessão de agressões. Revelação só seis dias após a prisão.
A investigação sobre a morte de um exportador lagosteiro, ocorrida em 2004, que desde julho tem a participação de Alexandra, seria um dos elos de todo o entrevero. Dantas estaria citado na investigação, que corre sob segredo de justiça. Membros da quadrilha presa seriam próximos a gente envolvida com o Caso Lagosteiro. "Minha vida se transformou num inferno", diz a policial.
A delegada, o marido e o cunhado cobram tratamento igual da Secretaria da Segurança. Pedem o afastamento de Dantas para que a apuração tenha lisura e isenção. O superintendente, ontem, divulgou apenas nota oficial e não quis mais uma vez falar sobre o episódio. A seguir, trechos da coletiva. (Colaborou Diego Lage)
CASO LAGOSTEIRO
Fomos convidados a participar das investigações do tão falado Caso Lagosteiro (que apura a morte do empresário Cláudio Kmentt, ocorrida em dezembro de 2004). Fomos conversar com o doutor Dantas. "Vocês não tinham me informado que queriam uma delegacia mais tranquila para organizar a vida de vocês? Pois deixe esse caso pra lá e vão trabalhar na Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (DADT)". Passado um tempo, o GCOC (Grupo Especial do Ministério Público de Combate ao Crime Organizado) solicitou a gente para atuar com eles na investigação do crime organizado. Fizemos algumas operações. Em julho deste ano, o doutor Ronaldo Melo Bastos chega com um monte de documentos e uma portaria do secretário (assinada pelo adjunto Nival Freire, então no cargo, com o conhecimento do titular Roberto Monteiro, à época sob licença médica), que o designou para ficar na DADT o tempo necessário para concluir as investigações do Caso Lagosteiro. E a portaria diz que ficaria sendo auxiliado pela doutora Alexandra. Ligo para o doutor Dantas, ele foi na delegacia. "Como a gente combina que eu não ia entrar no caso do lagosteiro e chega esse documento do secretário?". E ele: "Fui pego de surpresa tanto quanto você. A determinação foi exclusiva do secretário. Mas será que você não sabia?". Ele achou que descumpri o acordo. E até então eu não sabia, como até hoje não posso revelar, do envolvimento dele no caso. "Eu não queria, combinei com o senhor de não pegar, mas o procedimento chegou na delegacia, está determinado meu nome e vou fazer como fiz com os demais, vou até o fim, não importa onde vai chegar". Ele disse: "Você vai, mas vai assumir as consequências dos seus atos". E eu: "Perfeitamente".
INTIMIDAÇÃO
A partir desse momento, a minha vida se transformou num inferno. Isso foi no final de julho. No dia 16 de agosto deste ano, invadem nossa casa. Tentaram matar a mim e a minha família. Digo isso porque conheço bandido, sei quando o cara vai assaltar e quando vai matar. Tomo conhecimento que o doutor Dantas tinha ido pra imprensa dizer que foi tentativa de roubo. Ele não é inexperiente, pra de uma primeira olhada de uma cena de crime, sem conversar com as vítimas.
DE VÍTIMA A ACUSADA
Sai matéria num jornal dizendo "Bandido morto na casa de delegada deixou o celular e já está na perícia, onde vai ser feita a comparação das ligações que ele recebeu, pra quem ligou, para que a quadrilha seja identificada". Isso foi um aviso velado aos bandidos. Quem vai divulgar um negócio desses? Ele vai ao secretário e diz: "É bom investigar esse caso com cuidado porque está me cheirando a execução sumária. O bandido levou muito tiro, tudo à queima-roupa". Ou seja, fui vítima de atentado e ele queria reverter para dizer que eu havia executado sumariamente o bandido.
LIGAÇÃO DOS CASOS
A quadrilha do Carvalho e do Otacílio já havia sido presa em outras ocasiões com pessoas que estão sendo investigadas acusadas de participação no caso do lagosteiro. O procedimento está em sigilo.
VAZAMENTO
Acontece a prisão de uns PMs que vinham tirando bandidos de cenas de crime. No dia seguinte, sai uma matéria dizendo que os policiais estavam interceptados. Destruiu criminosamente todo o resto do trabalho. Vazou a informação. Destruiu as investigações que até o momento iam bem.
PRISÕES
Por força divina, doutor Cavalcante de plantão no Eusébio, e de madrugada houve o roubo de uma Hilux, agrediram as vítimas. O veículo é encontrado dentro de um haras. O caseiro, preso, chega e diz que "um dos envolvidos no crime estava envolvido na tentativa de homicídio na residência do seu irmão". Ele liga para a Coin (Coordenadoria de Inteligência) e faz a prisão dos indivíduos. Isso foi numa quinta-feira (29/10). Um dos presos foi levado para a delegacia, ouvido pelo Ministério Público e delegado, feito exame de corpo de delito onde não deu lesão de tortura. Na terça-feira (3/11) aparece a história que os presos tinham sido torturados para dizer que o Dantas estaria envolvido com a tentativa de homicídio lá em casa. Fizeram exame, não deu tortura. Depois, novo exame que os caras estão todos quebrados, torturados, e desta vez, sim, eles assinam um documento que foram torturados por nós. Quem torturou?
FARSA
"Fomos afastados acusados de tortura, ele (Dantas) era para ter sido afastado também porque paira no ar a dúvida de que, se ele não torturou, está envolvido com as torturas posteriores à prisão. O secretário está no seu papel. O que foi apresentado a ele é uma farsa, mas foi apresentado pelo superintendente. O que o Dantas queria ele conseguiu. Uma vez que não morremos quando era para morrer, morremos na polícia agora. Tiraram nossas armas e nossa carteira. Não podemos investigar nada, os procedimentos foram retirados de nossa mão numa fase muito crítica, em que muita coisa iria ser revelada. Quero deixar bem claro: o que acontecer com minha família ou qualquer um de nós aqui, eu responsabilizo o Dantas. Toda essa trama foi armada por ele para que a gente se afastasse das investigações. O doutor Roberto disse pra mim, "a coisa vai ser apurada com toda lisura. E eu disse "vai não porque quem tem o poder é o Dantas, ele é o superintendente". Ele usa os outros para atingir os objetivos, como está usando o secretário.
CERTEZAS
Tenho certeza absoluta que ele violou local de crime e coagiu testemunhas. Isso tenho certeza. O envolvimento dele, até que ponto chega, só com a conclusão do inquérito.
ISENÇÃO
Quem pode apurar com isenção? O Ministério Público e alguém da Polícia Civil, no caso de afastamento do superintendente. Enquanto ele for superintendente, nenhuma investigação vai ser feita com lisura.
GENTE DE BEM
Na Polícia Civil tem essas coisas criminosas, mas tem muita gente de bem que eu conheço de perto. Não se intimidem. Muita gente me avisou: "Não bate de frente com o homem, vai ver o que vai acontecer contigo".
ÚLTIMA VEZ COM PRESOS
Na sexta-feira (30) pela manhã eu vi o Otacílio. Eu, Ministério Público, a delegacia, tanta gente viu. O promotor Sávio Amorim também esteve na delegacia.
(Fonte: O Povo)
Alexandra, o marido Fernando Cavalcante (inspetor) e o irmão dele, delegado Francisco Cavalcante, foram afastados das funções policiais, após terem sido apontados em suspeita de tortura a presos de uma quadrilha que teria cometido, em agosto, um atentado contra a família da delegada. O grupo foi preso na semana passada e denunciou a suposta sessão de agressões. Revelação só seis dias após a prisão.
A investigação sobre a morte de um exportador lagosteiro, ocorrida em 2004, que desde julho tem a participação de Alexandra, seria um dos elos de todo o entrevero. Dantas estaria citado na investigação, que corre sob segredo de justiça. Membros da quadrilha presa seriam próximos a gente envolvida com o Caso Lagosteiro. "Minha vida se transformou num inferno", diz a policial.
A delegada, o marido e o cunhado cobram tratamento igual da Secretaria da Segurança. Pedem o afastamento de Dantas para que a apuração tenha lisura e isenção. O superintendente, ontem, divulgou apenas nota oficial e não quis mais uma vez falar sobre o episódio. A seguir, trechos da coletiva. (Colaborou Diego Lage)
CASO LAGOSTEIRO
Fomos convidados a participar das investigações do tão falado Caso Lagosteiro (que apura a morte do empresário Cláudio Kmentt, ocorrida em dezembro de 2004). Fomos conversar com o doutor Dantas. "Vocês não tinham me informado que queriam uma delegacia mais tranquila para organizar a vida de vocês? Pois deixe esse caso pra lá e vão trabalhar na Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (DADT)". Passado um tempo, o GCOC (Grupo Especial do Ministério Público de Combate ao Crime Organizado) solicitou a gente para atuar com eles na investigação do crime organizado. Fizemos algumas operações. Em julho deste ano, o doutor Ronaldo Melo Bastos chega com um monte de documentos e uma portaria do secretário (assinada pelo adjunto Nival Freire, então no cargo, com o conhecimento do titular Roberto Monteiro, à época sob licença médica), que o designou para ficar na DADT o tempo necessário para concluir as investigações do Caso Lagosteiro. E a portaria diz que ficaria sendo auxiliado pela doutora Alexandra. Ligo para o doutor Dantas, ele foi na delegacia. "Como a gente combina que eu não ia entrar no caso do lagosteiro e chega esse documento do secretário?". E ele: "Fui pego de surpresa tanto quanto você. A determinação foi exclusiva do secretário. Mas será que você não sabia?". Ele achou que descumpri o acordo. E até então eu não sabia, como até hoje não posso revelar, do envolvimento dele no caso. "Eu não queria, combinei com o senhor de não pegar, mas o procedimento chegou na delegacia, está determinado meu nome e vou fazer como fiz com os demais, vou até o fim, não importa onde vai chegar". Ele disse: "Você vai, mas vai assumir as consequências dos seus atos". E eu: "Perfeitamente".
INTIMIDAÇÃO
A partir desse momento, a minha vida se transformou num inferno. Isso foi no final de julho. No dia 16 de agosto deste ano, invadem nossa casa. Tentaram matar a mim e a minha família. Digo isso porque conheço bandido, sei quando o cara vai assaltar e quando vai matar. Tomo conhecimento que o doutor Dantas tinha ido pra imprensa dizer que foi tentativa de roubo. Ele não é inexperiente, pra de uma primeira olhada de uma cena de crime, sem conversar com as vítimas.
DE VÍTIMA A ACUSADA
Sai matéria num jornal dizendo "Bandido morto na casa de delegada deixou o celular e já está na perícia, onde vai ser feita a comparação das ligações que ele recebeu, pra quem ligou, para que a quadrilha seja identificada". Isso foi um aviso velado aos bandidos. Quem vai divulgar um negócio desses? Ele vai ao secretário e diz: "É bom investigar esse caso com cuidado porque está me cheirando a execução sumária. O bandido levou muito tiro, tudo à queima-roupa". Ou seja, fui vítima de atentado e ele queria reverter para dizer que eu havia executado sumariamente o bandido.
LIGAÇÃO DOS CASOS
A quadrilha do Carvalho e do Otacílio já havia sido presa em outras ocasiões com pessoas que estão sendo investigadas acusadas de participação no caso do lagosteiro. O procedimento está em sigilo.
VAZAMENTO
Acontece a prisão de uns PMs que vinham tirando bandidos de cenas de crime. No dia seguinte, sai uma matéria dizendo que os policiais estavam interceptados. Destruiu criminosamente todo o resto do trabalho. Vazou a informação. Destruiu as investigações que até o momento iam bem.
PRISÕES
Por força divina, doutor Cavalcante de plantão no Eusébio, e de madrugada houve o roubo de uma Hilux, agrediram as vítimas. O veículo é encontrado dentro de um haras. O caseiro, preso, chega e diz que "um dos envolvidos no crime estava envolvido na tentativa de homicídio na residência do seu irmão". Ele liga para a Coin (Coordenadoria de Inteligência) e faz a prisão dos indivíduos. Isso foi numa quinta-feira (29/10). Um dos presos foi levado para a delegacia, ouvido pelo Ministério Público e delegado, feito exame de corpo de delito onde não deu lesão de tortura. Na terça-feira (3/11) aparece a história que os presos tinham sido torturados para dizer que o Dantas estaria envolvido com a tentativa de homicídio lá em casa. Fizeram exame, não deu tortura. Depois, novo exame que os caras estão todos quebrados, torturados, e desta vez, sim, eles assinam um documento que foram torturados por nós. Quem torturou?
FARSA
"Fomos afastados acusados de tortura, ele (Dantas) era para ter sido afastado também porque paira no ar a dúvida de que, se ele não torturou, está envolvido com as torturas posteriores à prisão. O secretário está no seu papel. O que foi apresentado a ele é uma farsa, mas foi apresentado pelo superintendente. O que o Dantas queria ele conseguiu. Uma vez que não morremos quando era para morrer, morremos na polícia agora. Tiraram nossas armas e nossa carteira. Não podemos investigar nada, os procedimentos foram retirados de nossa mão numa fase muito crítica, em que muita coisa iria ser revelada. Quero deixar bem claro: o que acontecer com minha família ou qualquer um de nós aqui, eu responsabilizo o Dantas. Toda essa trama foi armada por ele para que a gente se afastasse das investigações. O doutor Roberto disse pra mim, "a coisa vai ser apurada com toda lisura. E eu disse "vai não porque quem tem o poder é o Dantas, ele é o superintendente". Ele usa os outros para atingir os objetivos, como está usando o secretário.
CERTEZAS
Tenho certeza absoluta que ele violou local de crime e coagiu testemunhas. Isso tenho certeza. O envolvimento dele, até que ponto chega, só com a conclusão do inquérito.
ISENÇÃO
Quem pode apurar com isenção? O Ministério Público e alguém da Polícia Civil, no caso de afastamento do superintendente. Enquanto ele for superintendente, nenhuma investigação vai ser feita com lisura.
GENTE DE BEM
Na Polícia Civil tem essas coisas criminosas, mas tem muita gente de bem que eu conheço de perto. Não se intimidem. Muita gente me avisou: "Não bate de frente com o homem, vai ver o que vai acontecer contigo".
ÚLTIMA VEZ COM PRESOS
Na sexta-feira (30) pela manhã eu vi o Otacílio. Eu, Ministério Público, a delegacia, tanta gente viu. O promotor Sávio Amorim também esteve na delegacia.
(Fonte: O Povo)
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