"Depois do crescimento de Aécio Neves nas pesquisas, declarações de Ciro Gomes passaram a desagradar a petistas e a tucanos."
A reação irada de petistas e de tucanos à intenção do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), pré-candidato à Presidência da República, de retirar-se da disputa caso a opção do PSDB seja pelo governador de Minas, Aécio Neves, está sendo interpretada como um termômetro para medir o fortalecimento do mineiro em relação ao governador de São Paulo, José Serra, na disputa das eleições de 2010. O nome do candidato tucano só deve ser decidido pelo partido no próximo ano e Ciro há tempos declara sua preferência por Aécio publicamente. Desde o início do ano, Ciro tem se aproximado de Aécio e em pelo menos quatro oportunidades — março, julho, agosto e novembro —, confessou sua simpatia pelo governador de Minas.
Enquanto serristas históricos interpretaram o apoio de Ciro a Aécio apenas como uma jogada de marketing para aumentar a pressão sobre José Serra por uma definição de sua possível candidatura ainda este ano, pesquisa do Vox Populi, na última semana, aponta em sentido contrário. Encomendada por um partido da base aliada, ela revelou que Aécio só perde em intenção de votos, em consulta espontânea, para o presidente Lula. Ou seja, estaria na frente do concorrente paulista no PSDB e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata petista à sucessão. Entretanto, para o cientista político Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populli, a pesquisa não é o melhor indicativo do fortalecimento de Aécio como o nome do PSDB para disputar a Presidência.
“O forte indicativo do crescimento do governador de Minas é o próprio apoio de Ciro Gomes e de outros representantes da base aliada do atual governo. As articulações em torno do mineiro são muito maiores do que de Serra”, afirmou. Ele lembrou ainda que a insatisfação do PT com a ampliação dos apoios já ficou evidente em declaração de um petista histórico, José Dirceu, ao revelar que a disputa de Dilma com Aécio é considerada muito mais difícil do que com o governador paulista.
Em seu blog, ontem, José Dirceu voltou a afirmar que o PSDB não quer Serra e alfineta: “Além do mais, a tucanada está às voltas com um racha em seu mais tradicional aliado, o ex-PFL-DEM, capitaneado pela dupla Cesar Maia (ex-prefeito do Rio) e Rodrigo Maia (presidente nacional pefelista-demo). Uma fratura exposta, porque a maioria demo também não quer Serra e prefere Aécio”.
Coimbra lembrou também que as eleições em 2010 não serão pautadas pelas pesquisas: “Se fosse assim, a candidata do PT à sucessão de Lula não seria de forma alguma Dilma Rousseff. A escolha do presidente por ela foi exatamente porque ela tem mais a cara do governo que vai representar”. E conclui: “Nessa linha, podemos entender que as intenções de votos para Aécio reveladas em pesquisas têm menos importância do que os apoios declarados que vêm recebendo de líderes partidários, como Ciro Gomes e Rodrigo Maia, presidente nacional do Democratas”.
Alianças
Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), uma chapa composta por Aécio e Ciro ainda não foi objeto de discussão no partido. Ele disse que a política de aliança dos dois presidenciáveis terá peso na hora de o partido definir seu nome à sucessão. “Essa aliança entre Ciro e Aécio nunca passou pelo partido, mas é claro que as políticas de aliança dos dois candidatos são uma variável que será considerada”, afirmou.
No cenário de ranger de dentes causado pelo encontro de Ciro e Aécio, quem saiu para pôr fim ao debate foi o próprio governador José Serra. Ontem, quando vistoriava as obras de ampliação do metrô de São Paulo, o tucano disse que não caberia a ele nenhuma análise. “Não tem nenhum comentário. O Aécio tem o direito de ver as pessoas que ele quiser. A mim, não cabe comentar”, afirmou.
Elogios ao tucano
Nos últimos meses, o deputado Ciro Gomes vem ressaltando que o governador Aécio Neves terá apoio incondicional caso seja candidato ao Palácio do Planalto. Veja algumas das declarações do parlamentar do PSB-CE:
Março
“O governador de Minas tem a obrigação de expor sua posição no debate político nacional. Boa parte do que está sofrendo o Brasil deve-se ao desmantelamento da presença equilibradora de Minas Gerais na política”
Julho
“O governador Aécio, sendo candidato a presidente da República, descomprime gravemente a necessidade estratégica de eu apresentar uma candidatura”
Agosto
“Se for Aécio (o candidato), fica praticamente imbatível, porque, para ele ser candidato, terá de fazer acordo com o Serra, que nessas circunstâncias disputaria a reeleição em São Paulo”
Novembro
“Se Aécio se viabilizar candidato, sua presença é tão importante para o Brasil que torna minha candidatura não mais necessária.”
(Fonte: Maria Clara Prates - Correio Braziliense)
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