“Cadete, ides comandar, aprendei a obedecer”.
A frase, emblemática, encima o prédio principal da Academia Militar das Agulhas Negras. É vista, digerida e encrua – se, inexoravelmente, na pele, na mente e no caráter do jovem cadete.
A frase é lapidar, peremptória, irretorquível, solene e educativa e tem sido a bússola que norteia o imaginário hierárquico e o de estrita obediência de todos os Oficiais do Exército Brasileiro.
Contudo, aquela esplêndida construção literária merece devaneios. Senão vejamos: tal qual bula de remédio, poderia conter alertas sobre o seu uso indiscriminado, excessivo, em doses cavalares, fora de hora, e assim por diante. Ou ainda, caberia um aviso do tipo, em excesso pode acarretar efeitos colaterais, como a síndrome da subserviência. Ou mesmo, só vale no âmbito da caserna, ou só entre os militares, etc.
Em caso contrário, poderemos ter nas Instituições Militares um reduto de mudos, e ouviremos, defronte a qualquer disparate, um ensurdecedor silêncio.
A subserviência como a humildade, que no seu cerne é uma virtude, quando não aponta para a pequenez, facilmente pode ser diagnosticada como fraqueza, e os infectados por elas podem morrer de desmoralização, depois de engolirem cobras e lagartos ou testemunharem, sem retorquir, coisas de seu desagrado ou prejudiciais às suas instituições.
Destarte, cabe lembrar o filosofo Kant, que a propósito sentenciou ”Quem se transforma em minhoca não deve queixar – se, depois, de ser pisado”
Por isso, alguns julgam que a incorporação boçal e soberana daquele adágio pode germinar ao longo dos anos um mal que pode alastrar – se por qualquer militar, independentemente de sua posição hierárquica, levando – o a concordar com qualquer ato falho, desde que enunciado por uma “autoridade”, o que soará ao incauto, como uma grande verdade, mesmo que seja uma insossa venalidade. Por exemplo:
- Sicrano, civil e político, pouco afeito às qualificações e características de um bom cassetete, com “autoridade” sobre a organização, pede à “Guarda de Segurança Aleatória”, que necessita urgente de cassetetes, que na escolha do instrumento a ser adquirido por licitação internacional, não indique o melhor entre os analisados pela Corporação, alegando que a decisão sobre o cassetete poderá ser de cunho político, visando os interesses nacionais e blá, blá... e, portanto, o que menos interessa é a eficiência e o preço do cassetete.
Assim, o devaneio, inconcebível no passado, poderá ser oportuno para os novos tempos.
Contudo, a perplexidade que perpassa na alma do soldado é a mesma que inunda hoje a amorfa Nação Brasileira. Assistimos, não apenas os militares, um assalto contínuo nas tradições democráticas, calamo–nos diante do infausto e do medonho como medrosos ratos.
Homens, de pretensas dignidades, de enaltecidas grandezas medram, não ousam, não reagem. Portanto, não cabe atirar a primeira pedra nos militares. É preciso virar a Nação de ponta cabeça, chutar seus fundilhos para que tenha vergonha, para que acorde.
Breve, muito breve, a sociedade brasileira se submeterá totalmente aos humores e preceitos do Estado, subjugada aos seus desmandos e aos seus ditames.
Alimentamos e acalentamos com extremado zelo um insaciável dragão. Sem destino vagaremos como mortos – vivos em pleno século XXI. Ainda, aparvalhados dançaremos a melodia que tocarem, cantaremos loas aos seus heróis de barro, saltitaremos ao estalar do chicote da besta, adoraremos falsos ídolos como na idade das trevas, e o pior, sem pejo, lamberemos os dedos.
Brasília, DF, 28 de novembro de 2009.
Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira
(Fonte: Por e-mail do Cel EB Castelo Branco)
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