"O dia de fúria de um policial."
"O inspetor da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Uerner Leonardo Barreira Passos, 39 anos, viveu ontem (04/03) um dia de fúria. Contrariado com a escala de serviço, ele manteve refém o chefe de investigações da 39ª DP (Pavuna) Marcos Eduardo Maia, que estava desarmado, dentro de uma sala da unidade, durante cinco horas e meia. A negociação foi tensa, e Uerner fez várias exigências para se entregar e liberar o colega. Transtornado, ele apontava a pistola na direção de Maia e ameaçava disparar. Cerca de 100 agentes cercaram a delegacia durante as negociações.
“Ele colocava a arma na direção do meu rosto e ficava se balançando. Estava alucinado. Nada o acalmava. Várias vezes cheguei a pensar que ia mesmo me matar. Prefiro enfrentar vários tiroteios em uma favela do que uma situação como essa novamente. Pensei muito na minha família e só pedia calma para ele”, lembrou Maia, depois de ser liberado.
O impasse começou por volta das 13h, quando Uerner apresentou um Boletim de Inspeção Médica (BIM) — documento que oficializa o pedido de licença médica — ao delegado da 39ª DP, Ricardo Vianna Castro, que não autorizou o afastamento do policial. Irritado, o inspetor se referiu ao delegado como você, que exigia ser tratado como senhor, e ainda o chamou de playboy da Zona Sul. Foi quando Ricardo Vianna deu voz de prisão ao agente. Mas a discussão ficou fora de controle e os dois puxaram suas armas.
Nesse momento, Maia, que entrava no gabinete do delegado, presenciou a cena e tentou desarmar o colega, levando-o para uma sala anexa. Mas armado, Uerner conseguiu render o chefe de investigações e o tomou como refém.
Trinta minutos depois, a delegacia já estava cercada por policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Snipers (atiradores de elite) se posicionaram em prédios vizinhos, um helicóptero sobrevoava o local e o delegado Rodrigo Oliveira, diretor de Polícia Especializada, conduzia as negociações.
À medida em que o tempo passava, Uerner fazia mais exigências — uma delas foi trocar socos com o delegado sem que ninguém interviesse, não ser preso e ser transferido de delegacia. “Tenho cultura, cursos operacionais, mas não sou valorizado. Só saio daqui com a imprensa”, gritava ele.
Um dos momentos mais críticos foi quando uma equipe de reportagem foi até a porta do quarto para conversar com o policial. Apontando a arma na direção do inspetor, ele contou à imprensa sua versão, fez acusações contra o delegado e em seguida mandou todos saíram e fechar a porta.
Ex-paraquedista do Exército com cursos até no Panamá, Uerner Leonardo sempre teve dificuldades de relacionamento dentro da Polícia Civil. Admitido em agosto de 1999, o inspetor teve 35 lotações em diferentes unidades desde então. Nesse período, recebeu só uma punição, por ter faltado a um plantão da 40ªDP (Honório Gurgel), em fevereiro de 2008. A suspensão foi de 16 dias.
Professor de Educação Física, ele chegou a ser preparador físico do juvenil do Vasco. Entre muitas histórias de confusão por onde passou, uma se destaca: certa vez, durante a confecção de um RO, arremessou o teclado em um delegado que prestava queixa. Colegas contam que Uerner tinha manias curiosas, como, por exemplo, todos os dias, pontualmente às 17h, parar o que estivesse fazendo para uma série de flexões de braço.
Avaliação psiquiátrica depois de libertação
Uerner se entregou às 18h30. Mais uma vez, exigiu que uma equipe de reportagem filmasse a ação. Primeiro abriu a porta e liberou Maia. Em seguida, tirou o pente da pistola, colocou a arma sobre uma mesa e saiu. Depois, foi avaliado por psiquiatra e levado à Corregedoria da Polícia Civil. De lá, seguiu para um hospital psiquiátrico.
“Ele será tratado. Está afastado e sem autorização para portar a arma. Vai responder administrativamente e criminalmente. Sendo considerado culpado, será expulso”, explicou Ronaldo Oliveira, diretor de Polícia da Capital."
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