"De repente o coração dispara. Os braços e as pernas tremem, algumas regiões do corpo parecem estar adormecidas, o suor escorre pela testa e a sensação de falta de ar é sufocante. Aí vem o medo intenso de desmaiar, de perder o controle e até mesmo de morrer. Ao final de aproximadamente meia hora de agonia tudo começa a voltar ao normal. Quer dizer, mais ou menos. Quem sofre de Síndrome do Pânico – ou seja, 4% da população em geral – nunca sabe quando e nem onde crises como essa voltarão a se repetir.
Considerada um transtorno de ansiedade, a doença só ganhou esse nome em meados de 1980. Por isso, muita gente acha que se trata de um quadro novo e relacionado à modernidade. A verdade é que desde a Grécia Antiga há relatos dos sintomas que hoje caracterizam a enfermidade, mas o diagnóstico sempre apresentou outras denominações (uma delas era “neurose da angústia”).
Apesar desse histórico, ainda não há conclusões sólidas sobre quais motivos levam ao surgimento da síndrome (vale lembrar que ela é três vezes mais freqüente no sexo feminino). De acordo com Luiz Vicente Figueira de Mello, psiquiatra supervisor do programa de ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, “até agora estudos científicos apontam para uma pré-disposição genética associada a fatores ambientais”. Em resumo, isso significa que certas pessoas têm tendência a sentir um medo avassalador mesmo na ausência de ameaças reais.
Eventualidade ou doença?
É muito importante ressaltar que os ataques de pânico podem ocorrer isoladamente ou em situações de estresse (assaltos e acidentes, por exemplo). Dessa forma, não se pode confirmar a existência da doença. “Só estabelecemos o diagnóstico de Síndrome do Pânico quando os episódios são recorrentes, inesperados e geram alterações comportamentais por causa do medo de passar por uma crise”, explica Daniel Philippi de Negreiros, psiquiatra de Florianópolis (SC).
Nesses casos é comum observar uma condição classificada como “agorafobia”, que provoca uma série de limitações à pessoa que apresenta o transtorno. Para ter ideia, ela pode evitar pontes, elevadores, metrô, ônibus e aviões por serem mais difíceis de abandonar durante um ataque súbito de medo. O receio de ter o colapso na frente de amigos também faz com que atividades rotineiras – trabalhar e ir à academia são bons exemplos – virem motivo de estresse e tensão. Assim, para escapar de momentos constrangedores o paciente muitas vezes recorre ao isolamento, tornando-se refém de si mesmo.
O dilema da descoberta
Os ataques de pânico são considerados rápidos: duram aproximadamente meia hora, sendo que os sintomas atingem o auge por volta dos 15 minutos. Por isso, muitas pessoas nem chegam a procurar atendimento médico. “Quando vão ao pronto-socorro, no entanto, costumam buscar uma explicação neurológica ou cardiovascular para o episódio”, conta Negreiros.
Se ainda não há o diagnóstico, fazer avaliações para descartar outras patologias é fundamental. A situação se agrava, no entanto, quando os exames nessas áreas não apontam problemas e o paciente se convence de que a crise não voltará a se repetir: é justamente aí que a investigação tende a ser interrompida.
De volta ao controle
A Síndrome do Pânico não tem cura, mas, de acordo com Mello, é possível controlar as crises após dois anos de tratamento, em média. “Na maioria das vezes indicamos medicamentos e psicoterapia cognitivo comportamental”, completa.
(Fonte: Thaís Manarini - iG. Foto: Getty Images/Photodisc)
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