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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

LAMPIÃO MODERNO


I

Alguém aí tem resposta

Pra pergunta que eu faço?

Lampião, rei do cangaço

Foi bandido ou foi herói?

Nem sei se esta é a questão,

Pois hoje a corrupção

Tem um punhal cangaceiro

Sem dó e sem piedade,

Sangrando a dignidade

De quem é bom brasileiro.

II

O Virgulino moderno

É bandido refinado:

Exibe carro importado,

Tem jatinho e muito mais.

A caneta é seu fuzil,

Com ela assalta o Brasil

Do jeito que sempre quis:

Feito cupim na madeira,

Fazendo uma buraqueira

Nas finanças do País.

III

Esse novo Virgulino

Não tem chapéu estrelado,

Não sabe dançar xaxado,

Nem canta Mulher Rendeira.

Ele não dorme no mato,

Ama o conforto e o bom trato.

E não agüenta repuxo:

Com seu dinheiro e malícia,

Quando foge da polícia,

Se esconde em hotel de luxo.

IV

Não anda pelas caatingas,

Nem cruza moita de espinho,

Mas constrói o seu caminho

Com muito nome esquisito:

É fraude, é clientelismo,

É pilhagem, é nepotismo,

É propina, é malandragem.

Mas ele não se contenta:

A tudo isso acrescenta

A mentira e a rapinagem.

V

Quando chega a eleição,

Sendo ele candidato,

Promete roupa, sapato,

Dentadura, leite e lote.

Se tem amigo disposto

A sonegar o imposto,

Ele segura a peteca

Com uma frase canalha:

- Se eu vencer a batalha

Eu perdôo essa merreca!

VI

No palanque faz de Deus

O seu cabo eleitoral,

Criando o clima ideal

À exploração da fé.

Seu discurso é de devoto,

Mas sua fé é o voto

Da humilde multidão

Que, inocente, se dobra:

Vira massa de manobra

Nas garras do Lampião.

VII

O seu instinto perverso

É muito sofisticado:

Ele mata no atacado,

Quando desvia milhões

Em cada cheque que assina

O bandoleiro assassina

Gente em escala brutal.

De onde vem a matança?

Da falta de segurança,

De médico, hospital...

VIII

É direito da criança

Ensino de qualidade,

Mas dessa realidade

Pouca criança desfruta.

E quanto ao saneamento,

Não existe investimento

Neste importante setor,

Porque o nosso dinheiro

Vai parar no estrangeiro,

Na conta do malfeitor.

IX

O cangaceiro de hoje

Tem site na Internet

E grava até em disquete

Os seus planos de ação.

Certo da impunidade,

Ele se sente à vontade

Pra dizer sem embaraço,

Justificando a orgia:

- Lampião nada fazia

Já eu roubo mas eu faço!

X

Penso até ser injustiça

Comparar o Virgulino

Lá do sertão nordestino

Com esses cabras de hoje.

Pois de uma coisa estou certo:

Lampião nem chega perto

Desses que, de forma vil

E com bastante requinte,

Saqueiam o contribuinte

Que ainda crê no Brasil.

XI

Ah, capitão Virgulino,

Que andas fazendo agora?

Chega de tanta demora.

Sai dessa cova ligeiro,

Vem retomar teu reinado!

Anda logo, desgraçado,

Chama teus cabras de fama,

Traz Corisco e Ventania,

Quinta-Feira e Pontaria,

Tira o país dessa lama!

XII

Chama Dadá, traz Maria,

Pra te dar inspiração,

Traz Canário e Azulão.

Onde andam Moita Brava,

Jararaca e Zé Sereno,

Que provaram do veneno

Da refrega sertaneja?

E Bem-Te-Vi, bom de briga,

Cantando a mesma cantiga,

Não vai fugir da peleja.

XIII

Não esquece Volta Seca,

Sabonete e Jitirana,

Que viravam caninana,

Nos instantes de combate.

Chama também Zé Baiano,

Pois entra ano e sai ano

E a coisa fica mais feia.

Já são muitos excluídos

E a culpa é de bandidos

Que precisam levar peia!

XIV

Anda logo, que o Brasil

Já se cansou do teu mito,

Ouve o apelo e o grito

Do povo deste país.

Mas cuidado, Capitão,

Cuidado com a mangação

Que pode ser um horror.

Já tem corrupto espalhando

Que, em formação de bando,

Lampião era amador!

(Fonte: Carlos Araújo, por e-mail do Castelo)

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