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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

PAZ EM FAVELAS VALORIZA COMUNIDADES

"A imagem de janelas blindadas num apartamento com fundos para o Morro Santa Marta, em Botafogo, é o símbolo do que era a delicada relação entre asfalto e favelas, onde a presença do poder paralelo levava a constantes tiroteios. A instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), porém, provoca aos poucos um "efeito borboleta" na região, ou seja, mudanças e benefícios para além das fronteiras das comunidades ocupadas. O aumento da sensação de segurança em Botafogo fez crescer em 30% a procura por imóveis de classe média na vizinhança do Santa Marta.

Para atrair nova clientela, corretores usam a imagem da "comunidade pacificada". Em Jacarepaguá, que amargou a saída de indústrias por causa dos episódios de violência na Cidade de Deus, vislumbra-se a chegada de empresas do ramo farmacêutico e a implantação de uma fábrica de cosméticos.

Na análise do presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Pedro Carsalade, compradores em potencial que não admitiam nem dar uma olhadinha num apartamento de frente para a "comunidade" - como as favelas são tratadas nos anúncios de jornal - agora já aceitam tal possibilidade. O presidente da Abadi lembra que em Botafogo, nos últimos meses, houve poucos lançamentos, o que acaba elevando o valor dos imóveis, por conta da lei da oferta e da procura:

- Por isso, aqueles que não podem pagar muito caro por um apartamento em Botafogo têm como solução os imóveis com fundos para o Santa Marta, de preços mais em conta.

Os moradores do condomínio Promenade, na Rua São Clemente, que dá fundos para o Santa Marta, sofreram com a vizinhança nos últimos anos. A cobertura do prédio tem placas de aço blindado na fachada, mas agora os moradores estão entusiasmados com a ocupação do morro. Apesar disso, ninguém quer aparecer, porque, no passado, traficantes determinaram várias vezes que mo$não fizessem fotos ou deixassem qualquer pessoa usar suas janelas para registrar imagens da favela.

Diante da nova realidade, o prefeito Eduardo Paes decidiu que é hora de retirar o vidro blindado da janela de seu gabinete, no Palácio da Cidade, voltada para o morro. O vidro foi colocado há dez anos, para evitar balas perdidas.

- Agora, posso inclusive trabalhar de janela aberta - diz Paes.

Ele revela que até os serviços públicos melhoraram no entorno de favelas com UPPs. A Praça Corumbá, no acesso ao Santa Marta, passou a ser mais bem cuidada, já que a presença de servidores públicos ficou mais fácil. Para Paes, houve valorização e requalificação da área.

Já o vice-presidente de Assuntos Condominiais do Sindicato da Habitação (Secovi Rio), Leonardo Schneider, concorda com o presidente da Abadi. Mas ele diz que ainda é cedo para fazer um prognóstico da va$ção dos imóveis:

- As pessoas já podem transitar no entorno dessas comunidades sem risco de bala perdida. Os corretores mostram um apartamento em Botafogo e exploram bem essa imagem.

Em Jacarepaguá, o "efeito borboleta" está presente no retorno de empresas para a região. No ano passado, ao cerrar as portas de sua fábrica, limítrofe com a área mais violenta da Cidade de Deus - a localidade de Karatê -, a Ceras Johnson deixou para trás um pátio industrial e centenas de desempregados. Depois de quase um ano, a possibilidade de compra do imóvel por uma empresa do ramo farmacêutico e a implantação da unidade fabril da Wella, a Belfam, em outubro próximo, deixam para trás um capítulo da violência em Jacarepaguá, que ocupa o primeiro lugar no município e o segundo no estado em arrecadação de impostos.

O diretor executivo da Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá (Acija), Aluizio Cunha, comemora o retorno de empresas:

- As indústrias estão mapeando as vagas existentes para usar a mão de obra da Cidade de Deus.

No Leme, hotel vai ser reinaugurado

Morador do Leme e gerente de Marketing da rede Windsor de hotéis - que comprou o Méridien -, Paulo Marcos Ribeiro está duplamente otimista. Para ele, a pacificação valoriza a região. Tanto é que, em um ano, ele vai reinaugurar o hotel.

Mas há os que preferem a cautela e querem ficar neutros, sem dar opiniões a respeito dos efeitos no asfalto das comunidades pacificadas. Caso do Leme Tênis Clube, na Rua Gustavo Sampaio, e do frei Antônio Lacerda, da Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Rua General Ribeiro da Costa, que tem uma filial no Chapéu Mangueira.

Na Zona Oeste, cercado pelo Campo de Gericinó, do Exército, e pelas comunidades do Fumacê e Vila Vintém, até hoje controladas por traficantes, o Jardim Batam virou um oásis de tranquilidade. Ter um imóvel na favela passou a ser o sonho de consumo de vizinhos. Morador do Fumacê, C. conta que antes os traficantes do Batam não permitiam visitas de moradores de outras favelas. Mas, desde a inauguração da UPP, ele passou a frequentar o local para soltar pipa, conversar com os amigos e participar de orações. A tranquilidade da favela vizinha virou objeto de desejo:

- Nossos amigos do Batam vivem uma realidade que pressentimos estar bem perto de nós."

(Fonte: Carla Rocha, Fábio Vasconcellos, Selma Schmidt e Vera Araújo em O GLOBO)

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