Não é muito. Os números permitem outras análises. Comparada ao orçamento geral do estado, a despesa anual média com as UPPs representaria apenas 0,4%. Em relação ao orçamento da Secretaria de Segurança, não passaria de 5%. Os cálculos dos gastos foram feitos, porém, sem levar em consideração as despesas iniciais de instalação, de treinamento de pessoal e compra de equipamentos. Também não foram consideradas as peculiaridades de cada favela ocupada. Dependendo da complexidade da área, as despesas com as UPPs podem oscilar entre R$ 70 milhões e R$ 270 milhões.
- A diversificação é imensa e há inúmeras variáveis. No Santa Marta, no Chapéu Mangueira e na Babilônia, você faz tudo a pé. Ao contrário do que ocorre na Cidade de Deus, que tem vários acessos e é cortada por uma via expressa. Lá, precisa-se de carros. Já para ocupar a Rocinha, são necessários motos e policiais a pé - exemplifica o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Um segundo cenário envolveu um cálculo diferente. Foi usada a relação de um PM para 405 moradores, média atual aplicada nas cinco favelas com UPPs. A conta saiu mais baixa para o estado: R$ 90 milhões anuais.
Além disso, em relação ao efetivo usado, também é preciso levar em conta outros aspectos, como a proximidade entre comunidades de um mesmo complexo. Nesses casos, ocorre uma espécie de "efeito osmose", em que a presença policial na favela vizinha automaticamente provoca um afastamento de bandidos do local, sem a necessidade de mobilização de tropas. O poder bélico da facção criminosa e até a topografia influenciam na estratégia para instalar uma UPP.
- Hoje, estudamos tudo que circunda uma favela. Até se uma bala de fuzil sair de determinado local do Chapéu Mangueira, sabemos agora aonde pode chegar na praia - diz Beltrame, acrescentando que os relatórios de inteligência mapearam todas as bocas de fumo e ainda as "esticas" no asfalto.
- Para isso, é preciso vencer os desafios de dar a todas as favelas titularidade dos imóveis e infraestrutura social e urbana, incluindo segurança. A questão da titularidade tem que ser encarada de frente. Se o valor dos imóveis já triplicou nas comunidades com UPPs, imagina como isso ficaria com a titularidade? - diz ele.
Economista do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), André Urani acredita que o potencial econômico vai mais além e define o fenômeno como "choque de riqueza":
- Além do crescimento do PIB, que mede o fluxo de riqueza, o estoque imobiliário existente aumentará de valor. Vai ter paulista querendo vir morar aqui, americano aposentado trocando Miami pelo Rio.
Para isso, no entanto, diz Urani, é preciso coesão de esforços:
- Vivemos um momento raro, em que há diálogo e uma aproximação entre as diferentes instâncias de governo, sociedade civil e a iniciativa privada. Existe boa vontade, mas falta articulação. A pacificação, por exemplo, não está nas comunidades com PAC ou Favela-Bairro. Para ter eficácia e escala, é preciso juntar agendas.
Entre otimistas e céticos, Beltrame prefere ser realista sobre o momento vivido pelas favelas ocupadas e a possibilidade de uma plena democracia nesses lugares:
- O que criamos foram as condições necessárias para que isso (democracia) se desenvolva. É um processo lento e gradual."
(Fonte: Carla Rocha, Fábio Vasconcellos, Selma Schmidt e Vera Araújo em O Globo)
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