Os números crescem e traduzem a cruel realidade do avanço da criminalidade na quinta maior capital brasileira e sua Região Metropolitana. De janeiro a julho deste ano, nada menos que 768 pessoas foram assassinadas na Grande Fortaleza, contra 577 em igual período de 2008, o que significa um aumento de 33,1 por cento de homicídios nas estatísticas negras da violência urbana.
A maioria dos casos se trata de execuções sumárias, ordenadas pelo tráfico. O número de jovens e adolescentes fuzilados também mostra que estes são as vítimas "preferenciais" dos mercadores de entorpecentes e seus pistoleiros. Quem deve ao traficante e não paga, é sumariamente executado
Do começo do ano até o dia 31 de julho último, nada menos, que 83 garotos e garotas, com idades entre 11 e 17 anos, foram mortos nas ruas da Capital ou dos municípios metropolitanos. A maioria dos delitos ocorreu em Fortaleza. Logo em seguida, no ranking da morte, vêm Maracanaú e Caucaia.
Os números foram catalogados pelo Diário do Nordeste em sua pesquisa própria acerca dos casos de homicídios na Grande Fortaleza, resultado do cruza-mento de informações obtidas junto à Coordenadoria de Medicina Legal da Perícia Forense do Estado do Ceará/Pefoce), Serviço de Verificação de Óbito (SVO) e dos registros de delegacias, hospitais de emergência e da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops).
Crimes
No Município de Maracanaú, a maior taxa de homicídios é registrada no distrito de Pajuçara. Conforme o titular do 29º DP (Pajuçara), delegado Deodato Fernandes, somente este ano já foram instaurados 27 inquéritos para investigar assassinatos. Grande parte ainda está sem solução, por conta do silêncio das testemunhas. Temendo represálias, as pessoas que presenciam os crimes ou, de algum modo, têm informações que podem levar aos assassinos, preferem nada dizer. A repetição de casos de assassinatos levou as autoridades policiais de Maracanaú a montar uma força-tarefa para desarticular os grupos criminosos responsáveis pelas execuções. O trabalho já surtiu resultado, com a prisão de dois chefes de quadrilhas.
TRISTE REALIDADE
Adolescentes protagonizam crimes
Noite da última terça-feira (18). Os moradores da Rua Conselheiro Lafayette, no bairro Jardim Iracema (Zona Oeste da Capital), são surpreendidos com diversos estampidos. Receosos, esperam os tiros cessarem. Depois de algum tempo de silêncio, saem de suas casas e se deparam com uma cena chocante. O corpo de um garoto está jogado no meio-fio. Minutos depois, a vítima era identificada pela Polícia. Tratava-se do garoto Antônio Taílton de Castro, que tinha apenas 14 anos de idade.
O que aconteceu no Jardim Iracema, na semana passada, vem ocorrendo todos os dias - sem exceção - na periferia de Fortaleza. Garotos - crianças e adolescentes - são eliminados de forma brutal e covarde. Os autores das execuções quase sempre não são identificados. As próprias famílias das vítimas decidem "deixar prá lá", isto é, temendo mais mortes, preferem não buscar justiça para que os assassinos paguem pelos crimes que cometeram.
Alvos
São exatamente os adolescentes os principais alvos do crime. Pelos traficantes, são usados como "aviões" (pagos para transportar as drogas). Pelos assaltantes, ficam responsáveis por guardar armas e outros objetos frutos dos roubos.
Exemplo disso ocorre no Conjunto São Miguel, em Messejana, onde, de janeiro até a semana passada, 25 pessoas foram executadas. Ali, os adolescentes cumprem um "importante" papel para os traficantes. Escondem as armas de grosso calibre, as munições e as drogas.
Há duas semanas, policiais da 2ª Companhia do 5º BPM (Messejana) ficaram surpresos quando descobriram que um garoto de 16 anos andava nas ruas e becos daquela comunidade com uma arma de grosso calibre, um rifle Puma 44. Detido, o rapaz não se fez de rogado. Disse para os militares que havia se transformado em um "soldado" do tráfico. Acabou sendo apreendido em flagrante.
O comandante da companhia, major PM Océlio Alves, informou que a captura do garoto foi fruto das constantes operações que a PM tem feito no São Miguel. "Tínhamos informações da existência dessa arma dentro do São Miguel. Só não imaginávamos que ela estivesse nas mãos de um adolescente", afirmou o oficial.
Violentos
Nas duas últimas semanas, também foram os adolescentes os protagonistas de várias histórias de violência retratadas nas páginas dos jornais locais e nos programas policiais da TV.
Um dos casos ocorreu no bairro Genibaú, quando dois garotos, ambos de 16 anos, praticaram um latrocínio (roubo seguido de morte). Era por volta das 13 horas, do dia 12 passado, quando o comerciante Antônio Ferreira Gomes, 53, dono do "Mercadinho Santo Antônio", localizado na Rua Rio Ventura, foi atacado dentro do seu estabelecimento. Conforme testemunhas, ele sequer reagiu ao anúncio do assalto, mas acabou sendo covardemente executado com um tiro na cabeça. "Apuramos que eles (os criminosos) foram logo atirando. Não houve qualquer reação por parte da vítima", contou o soldado F. Silva, da 4ª Companhia do 6º BPM (Conjunto Ceará).
Os garotos fugiram do local do crime sem nada levar da vítima. Dois dias depois, a Polícia fez um cerco e conseguiu deter um deles no Bom Jardim. O comparsa também foi apreendio. Estava escondido no Autran Nunes. Levados de volta ao local do crime, para que as testemunhas os reconhecessem, os adolescentes ouviram gritos de revolta dos moradores e a PM foi obrigada a isolar o local diante do risco de um linchamento. A revolta foi geral.
Dois dias depois, mais um episódio de violência. Um grupo composto por dez pessoas, entre homens e mulheres, foi detido pela PM após protagonizar um "arrastão" nos conjuntos Jereissati e Timbó, em Maracanaú. Entre os detidos havia vários adolescentes. Todos, conforme a Polícia, tinham passado a madrugada de sexta para sábado consumindo drogas (maconha e pedras de crack). Quando amanheceu, saíram às ruas e fizeram várias vítimas.
Lan house
Tarde de terça-feira passada. O comerciante Aprígio de Araújo Almeida, 26, estava na porta de sua lan house, na Rua Ipê, bairro São Gerardo. Aprígio conversava com um amigo quando, de repente, surgiram dois adolescentes armados anunciando um assalto. Indignado, o comerciante tentou reagir, mas acabou também sendo assassinado.
SEGURANÇA
Divisão de Homicídios funcionará em 2010
Para os setores da Segurança Pública, em 2010 a Divisão de Homicídios dará um novo fôlego à Polícia Civil, responsável pela apuração dos delitos. Conforme o secretário-adjunto da SSPDS, José Nival Freire, a divisão vai trabalhar para identificar os responsáveis pelos crimes de morte cuja autoria é desconhecida. "As famílias das vítimas sofrem com o sentimento de impotência e de frustração quando os criminosos não são presos. Há um sentimento de impunidade. Mas, com certeza, o trabalho das delegacias que irão compor a divisão, os homicídios terão os seus autores identificados e indiciados", diz Freire.
Nas delegacias de Polícia dos bairros periféricos, as investigações sobre os assassinatos se arrastam por longo prazo sem que os autores dos crimes sejam identificados. Além de enfrentar o silêncio das testemunhas e das famílias das vítimas, a Polícia carece de profissionais para o trabalho de investigação.
Nas últimas semanas, outro fato causou mais prejuízos a estas apurações. Os policiais entraram em greve e, por 22 dias, o atendimento ficou restrito aos registros de Boletins de Ocorrência (B.Os.) e flagrantes.
Inquéritos
Somente na delegacia que abrange a área do Grande Bom Jardim (o 32º DP) são mais de 500 inquéritos acumulados nos últimos três anos e, destes, cerca de 300 foram instaurados para apurar assassinatos. Com uma estrutura precária, em termos materiais e carência de pessoal, a delegacia não tem como dar vazão à quantidade de procedimentos que, em sua maioria, seguem para a Justiça e retornam para a DP com o pedido do Ministério Público para a realização de novas diligências. Diante da ineficácia do aparelho policial, os criminosos continuam a fazer vítimas.
FIQUE POR DENTRO
A maioria dos homicídios tem ligação com tráfico
As autoridades confirmam que o tráfico de drogas tem sido o maior responsável pelos assassinatos que acontecem na Grande Fortaleza. As dívidas dos usuários com os traficantes acabam, em geral, sendo quitadas com a execução do devedor. Em muitos casos, mesmo presos, os chefes das quadrilhas continuam comandando seus grupos e ordenam as execuções sumárias.
A Delegacia de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc) tem realizado um sistemático trabalho de desarticulação de grupos de traficantes e apreendido armas que são usadas nas execuções. Na semana passada, aquela Especializada desmantelou uma quadrilha que atuava na área da Grande Messejana e acabou encontrando em poder dos acusados uma metralhadora de fabricação americana e até uma pistola, de calibre 45, do Exército Brasileiro.
Na mesma investigação, a Denarc trabalha com a hipótese de o chefe da quadrilha ter ordenado o fuzilamento de um traficante local que estaria tentando manter ligações diretamente com o fornecedor da cocaína trazida para Fortaleza, procedente de Manaus.
Na periferia da Capital, cresce o número de adolescentes envolvidos com o consumo de crack. Esse envolvimento, muitas vezes, termina de forma trágica, com a morte dos garotos que compraram a droga e não pagaram."
(Fonte: Diário do Nordeste)
Olá aqui de Portugal, estive a ver o seu Perfil e o senhor Coronel está de Parabéns,um grande abraço aqui de Portugal.
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