"A história é batida no mundo do boxe. Pobreza, pouco estudo e trabalho desde criança, esforço recompensado por uma carreira árdua, mas de sucesso entre as cordas do ringue. O enredo, no entanto, tem um detalhe especial: a protagonista é uma mulher. Rosilette dos Santos, ex boia-fria, pode se tornar, nesta sexta-feira (20/08), campeã mundial do mais masculino dos esporte.
Em meio aos problemas típicos de uma dona de casa (dividir o tempo entre os treinos e os filhos, afinal, sempre gera um debate interno), Rosilette luta nesta noite contra a argentina Marcela "La Tigresa" Acuña, em Formosa, na Argentina. O duelo da categoria supergalo vale três cinturões, das entidades mais tradicionais do boxe: Conselho Mundial (CMB) e Associação Mundial (AMB), que pertencem a Marcela, e Organização Mundial (OMB), que está vago.
Para a brasileira, não precisava de tantos incentivos esportivos. A simples chance de fazer uma viagem internacional já é uma conquista para boxeadora de 35 anos, sete deles como pugilista profissional. "É uma mudança total pelo que passei com minha família. Vim do interior para a capital [Curitiba (PR)] e sou reconhecida pelo que faço no boxe. Aquela menina que pegava no cabo da enxada não é a mesma de agora", conta ao Uol Esporte.
"Eu trabalhava com meus pais ajudando no que podia. A família era pobre. Ia para a roça, capinava. Muitas vezes tinha que trabalhar em um dia para comer no outro. Ganhava cinco, dez reais", lembra a lutadora.
Após resolver sair de casa, para morar com uma amiga, Rosilette conheceu o pugilista Macaris do Livramento, que viraria o personagem principal para mudar sua vida. Ele foi lutar em Castro em 1999 e fez a paranaense "estrear" na platéia de uma luta de boxe. A jovem já havia assistido a nocautes de Tyson na TV, mas nunca ficara pertinho de um ringue.
A relação entre os dois, nascida do encontro, cresceu e ela passou a acompanhar Macaris pelo interior do Paraná. Ele viajava para lutar. Ela acompanhava. Deixou até os trabalhos de doméstica que a sustentavam. "Uma vez, numa cidade no norte do estado, não tinha nada para fazer e peguei uma luva velha da academia para começar a brincar no saco de pancadas. Fui batendo do meu jeito e assim começou. Outro dia já estava treinando dois, três rounds, sozinha", diz Rosilette.
O esforço passou despercebido por Macaris, que, como você já deve ter adivinhado, virou o marido da ex-doméstica. "Na época eu era muito preocupado com as minhas lutas. Estava tão focado que nem percebi [o que ela estava fazendo]. Só quando alguém comentou 'Viu que ela tem jeito?' prestei atenção. Passei a ensinar. Ela tem uma força de vontade muito grande", afirma o boxeador.
A vontade de vencer, e a percepção de que os treinos de boxe melhoravam sua silhueta ("que era toda molinha", como a própria Rosilette define), encorajaram a jovem pugilista a treinar. A luta, contra outras meninas, no entanto, ainda era um passo ousado demais. Só depois de muita insistência Macaris conseguiu: "Ta bom, eu luto", falou o garota.
A estreia amadora foi em maio de 2001. De cara, contra uma argentina. O combate foi feio, sem técnica, mas Rosilette venceu por pontos. Com direito à família toda assistindo. No boxe olímpico foram 13 vitórias, antes da profissionalização em 2003. Nas duas lutas como profissional, duas derrotas. Uma série de vitórias contra lutadoras de pouca expressão permitiu que ela passasse a construir um cartel mais forte. Até 2006.
Nesse ano, Rosilette foi obrigada a se afastar do ringue para cuidar de um novo objetivo: a maternidade. "Pensei que a carreira tinha acabado ali. E, se tivesse parado, não teria conseguido nada", admite ela. "Mas foi o contrário, em 2008 retornei ao ringue e hoje sou o que sou."
As conquistas têm voz própria. Hoje ela ostenta um cinturão mundial, de uma das entidades secundárias do esporte. Como uma de suas fontes de inspiração, Duda Yankovich, campeã mundial em 2006 pela Wiba (Associação Internacional de Boxe Amador), em 2010 Rosilette conquistou o título da Comissão Mundial de Boxe Feminino, como peso galo.
Nesse ano, Rosilette foi obrigada a se afastar do ringue para cuidar de um novo objetivo: a maternidade. "Pensei que a carreira tinha acabado ali. E, se tivesse parado, não teria conseguido nada", admite ela. "Mas foi o contrário, em 2008 retornei ao ringue e hoje sou o que sou."
As conquistas têm voz própria. Hoje ela ostenta um cinturão mundial, de uma das entidades secundárias do esporte. Como uma de suas fontes de inspiração, Duda Yankovich, campeã mundial em 2006 pela Wiba (Associação Internacional de Boxe Amador), em 2010 Rosilette conquistou o título da Comissão Mundial de Boxe Feminino, como peso galo.
Mesmo com um cinturão "pequeno", foi reconhecida. Antes empregada doméstica e boia fria, desfilou em carro de bombeiros na sua cidade natal. E ganhou uma chance de voltar a lutar na Argentina - o desafio, porém, é em uma categoria mais pesada.
Na rotina da mamãe Rosilette, as sessões de treino se dividem com a rotina de cuidar da família. "Homem é fácil falar, ainda mais se for só atleta. Minha história é diferente. Acordo às 6h para 10 km de corrida. À tarde faço musculação leve e depois a parte técnica" enumera. "Fora isso, tenho de cuidar da minha filha."
Para Macaris, agora presidente da Federação Paranaense de Boxe, resta fazer o possível para manter esta engrenagem funcionando. Desde que retornou da pausa na carreira, em 2008, Rosilette perdeu duas vezes, uma na Argentina e uma na Alemanha. Venceu 13, nove seguidas.
"Quando vai começar o treino, o Macaris marido fica fora. Eu cobro mais dela do que dos outros, mas porque é a mãe da minha filha, só quero que esteja bem", explica o marido/técnico, que sabe que a missão será complicada.
Acuña tem 33 anos e um cartel de 34 vitórias (16 nocautes), cinco derrotas e um empate. Ela não perde desde 2005, com 15 triunfos consecutivos desde então, já como campeã do mundo."
(Fonte: Mauricio Dehò - Uol)
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