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segunda-feira, 28 de junho de 2010

HABITANTES DE POMPÉIA TIVERAM MORTES INSTANTÂNEAS



"A erupção do vulcão Vesúvio, que matou cerca de 20 mil pessoas em Nápoles, na Itália, é um dos desastres naturais mais conhecidos da história. Escavações arqueológicas no local — que no ano da tragédia, 79 d.C., abrigava a cidade de Pompeia — descobriram verdadeiras testemunhas do fatídico 24 de agosto. São centenas de corpos fossilizados e modelados pelas cinzas que contam ao mundo como foram seus últimos momentos antes da fúria do vulcão se manifestar. Adultos morreram deitados, como se estivessem repousando. Crianças de 4 ou 5 anos, com as feições calmas, foram surpreendidas segurando as mãos umas das outras. Um homem caído sobre os joelhos, o braço direito apoiado na terra e as costas estendidas, parece tentar se levantar. Todos morreram instantaneamente.

Agora, uma pesquisa feita por cientistas italianos, divulgada na semana passada, afirma ter explicado o que ocorreu com os habitantes da antiga Pompeia. Segundo os especialistas, uma onda de calor altíssimo matou os habitantes da cidade, e não gases, como se pensava até agora. “Muitos moradores morreram soterrados, e os que sobreviveram morreram na segunda fase da erupção, devido a uma onda de calor de 600ºC, semelhante a uma explosão atômica”, conta ao Correio Giuseppe Mastrolorenzo, um dos coordenadores do estudo.

A pesquisa foi realizada por biólogos, vulcanólogos e geólogos do Observatório Vesuviano, ligado ao Instituto de Geofísica e Vulcanologia de Nápoles. Até então, havia apenas uma interpretação das posições das vítimas, consideradas frutos de uma agonia. “Mas agora demonstramos que a morte foi diferente, instantânea”, afirma Mastrolorenzo.

Para chegar a essa conclusão, os especialistas examinaram extratos de cinzas no solo da região, moldes feitos com os restos dos corpos das vítimas guardados no museu da cidade e fragmentos de ossos. “Observamos microfraturas nos ossos, mudanças de cor e processo de cristalização, além da destruição parcial de DNA”, diz o pesquisador. “Essas características são evidências de exposição a altas temperaturas”, esclarece. Para complementar as análises, a equipe simulou o desastre no computador.

Segundo o vulcanólogo, a erupção de 79 incluiu duas fases principais. Na primeira, o vulcão levantou uma coluna de gás e de toneladas de cinzas e lapíli (microfragmentos de rochas), sobre uma área de milhares de quilômetros quadrados a sudeste do Vesúvio. Na sequência, cerca de 12 horas após o início da atividade, essa coluna caiu sobre o vulcão, provocando uma segunda erupção. “Ela produziu nuvens de piroclásticos que envolveram um raio de 20km, a partir do vulcão”, revela. O resultado foi, então, devastador.

Os fluxos piroclásticos mencionados por Mastrolorenzo são conjuntos de gases, cinzas e rochas que podem ser expelidos de vulcões a uma grande velocidade. Esses componentes podem viajar a uma velocidade de até 160km/h, e gás está, normalmente, a uma temperatura entre 100ºC e 800ºC. Os fluxos geralmente se deslocam rente ao solo, acompanhando as irregularidades do relevo. Os gases quentes e a velocidade alta são letais. “A temperatura das nuvens estava queimando, pelo menos, a 300ºC em Pompeia e até 600ºC em Herculano, outra cidade destruída”, diz Mastrolorenzo. “Os moldes das vítimas encontrados na escavação são dessa segunda fase.”

Sem dor

O vulcanólogo explica que a posição em que as vítimas foram encontradas é uma das provas de que a morte foi instantânea. “A posição é a típica de uma reação chamada de espasmo cadavérico, um enrijecimento muscular que ocorre no momento da morte. As vítimas, portanto, morreram na posição na qual estavam quando foram atingidas pela onda de calor.” Mastrolorenzo explica que se a morte fosse por sufocamento, como acreditava-se até a divulgação do estudo, os moldes teriam movimentos. “No sufocamento, a agonia é maior, a pessoa fica consciente por mais tempo e se movimenta.”

A médica especialista em queimados Tereza Pícolo, do Instituto Nelson Pícolo, explica que quando o corpo é exposto a atlas temperaturas sofre mumificação. “O calor é tamanho que causa uma desidratação instantânea de todo o corpo, fazendo com que ele murche e seja também preservado. Além de rápida, essa desidratação não causa qualquer dor.”

O estudo dos italianos também indica que a área de risco em torno do vulcão é maior do que se pensava. Os resultados foram obtidos por meio do cálculo da quantidade de cinzas depositadas nas áreas atingidas pela erupção. “O gás e as cinzas podem conservar a alta temperatura em até 20km de distância do Vesúvio. Pensava-se que onde havia pouca cinza o risco era menor. Mesmo havendo pouco material, a temperatura pode ser muito alta, além de ser a principal causa de morte”, revela ao Correio Lucia Pappalardo, vulcanóloga que participou do estudo.

Os cientistas acreditam que os dados da pesquisa podem ser usados para rever o atual plano de emergência da defesa civil de Nápoles. Hoje, o plano é voltado para 600 mil pessoas. “O Vesúvio é considerado um dos vulcões mais perigosos do mundo, que pode entrar em erupção explosiva e arriscar a vida de mais de 3 milhões de pessoas que vivem num raio de cerca de 20 km do vulcão”, comenta Mastrolorenzo."

(Fonte: Silvia Pacheco - Correio Braziliense)

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