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segunda-feira, 28 de junho de 2010

BARULHO DA VUVUZELA CAUSA LESÃO IRREVERSÍVEL

"Uma banda de rock, com suas estridentes guitarras e baterias, é fichinha para ela, a irritante vuvuzela. O motor de uma serra elétrica, trabalhando a todo vapor, beira o silêncio perto dessa corneta. Para competir com o instrumento mais tocado na Copa do Mundo da África do Sul, só mesmo a turbina de um jato. O som ensurdecedor da vuvuzela, que tem animado a torcida e enlouquecido os jogadores nos estádios, está na boca do povo, mas causa sérios danos ao ouvido, com a perda irreversível da audição.

Cientistas do Departamento de Patologia da Comunicação da Universidade de Pretória comprovaram que um sopro na corneta chega a se transformar num ruído de 140 decibéis (dB), equivalente ao de um avião prestes a decolar. Publicado no periódico médico South African Medical Journal, o estudo mediu, em março, a emissão sonora da vuvuzela durante uma partida de futebol com público de 30 mil pessoas e constatou um nível de ruído constante de 100dB.

Embora a vuvuzela, com quase um metro de comprimento, esteja disseminada do outro lado do Atlântico, especialistas brasileiros afirmam que o alerta vale para a torcida verde e amarela, pois apitos, bumbos, buzinas e cornetas nacionais também podem levar à surdez. O zumbido desses instrumentos não ultrapassa o potente cornetão sul-africano, mas supera os 120dB, como mostra outra publicação da África do Sul, o jornal The Star. Seja qual for a fonte para comemorar o gol, o importante é não expor o ouvido a volumes excessivos de ruídos. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) exige que trabalhadores em ambientes que registram acima de 85dB de forma contínua, durante oito horas por dia, sejam obrigados a usar protetores auriculares. “O decibel é uma grandeza logarítmica e, por isso, quanto mais alto o nível do som, muito menor é o tempo máximo de exposição aceitável”, explica o otorrinolaringologista e professor da Fundação Unimed João Luiz Cioglia Pereira Diniz.

Se o ruído for de 95dB, mesmo nível de um piano sendo tocado em alto som, o limite para os ouvidos é de quatro horas, com proteção. Caso o barulho aumente para 110dB, igual ao som emitido por uma serra elétrica, o tempo máximo suportável é de 30 minutos, apenas um terço de uma partida de futebol. Segundo João Diniz, apesar de o aparelho auditivo humano ter mecanismos de defesa, quando há alta intensidade de ruídos por tempo prolongado ou uma grande explosão (como um sopro da vuvuzela no ouvido), ocorre a lesão irreversível das células sensoriais. Elas ficam na parte interna da orelha e são responsáveis por transformar o som, onda eletromagnética, em estímulos elétricos capazes de serem decodificados pelo cérebro. “São células especiais que, uma vez lesionadas, não se recuperam”, ressalta.

O presidente da Sociedade Mineira de Otorrinolaringologia, Márcio Silva Fortini, acrescenta que o famoso zumbido no ouvido, depois de idas a shows, boates e, é claro, a estádios, é um dos indícios de dano ao aparelho auditivo. “A recuperação vai depender de cada um. Há pessoas que já têm uma perda imediata de parte da audição”, diz, lembrando que a exposição excessiva a ruídos não causa mal apenas ao ouvido. “Compromete a memória, o sistema límbico (que controla as emoções) e aumenta a irritabilidade”, enumera. “E, no caso da vuvuzela, ainda há o risco de contrair o vírus H1N1, pois, ao soprar a corneta, você tem contato com a saliva de outra pessoa”, adverte.

Protetor

Os médicos destacam que o cuidado com os perigos do som deve ser ainda maior em ambientes fechados, que concentram o barulho. “Um estádio com milhares de torcedores funciona como um ambiente fechado”, alerta Diniz. Para quem não aceita torcer fora da arquibancada nem dispensa uma torcida barulhenta, junto a grandes aglomerações, a dica é usar o protetor auricular. O ideal, no entanto, é ficar bem longe de sopros exaltados e ensurdecedores.

E, se depender da aprovação dos médicos, vuvuzela e companhia não serão escalados para o Mundial de 2014, no Brasil, apesar de os fabricantes da corneta já planejarem o fornecimento do produto para a próxima copa. “Elas são contraindicadas, pois representam risco real à saúde. As autoridades sanitárias deveriam proibir essas cornetas na Copa 2014. É preciso que elas se preocupem com a poluição sonora, assim como a poluição visual. O dano auditivo é irreversível e traz um alto impacto social', afirma Fortini."

(Fonte: Flavia Ayer - Correio Braziliense)

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