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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

USO DE CRACK LEVA À ATROFIA AO CORAÇÃO

"Os efeitos devastadores do crack, subproduto da cocaína consumido por 0,8% da população brasileira entre 12 e 65 anos, são mais graves do que se imaginava. Uma pesquisa realizada pelo patologista e legista Alcides Gilberto Moraes na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) constatou, pela primeira vez na literatura médica, que a droga diminui o peso do coração. "Desde o século passado, já se conheciam os efeitos da cocaína, mas a atrofia do coração nunca havia sido descrita. Foi uma surpresa", conta o médico.

O estudo, conduzido para a tese de doutorado de Moraes, foi feito em camundongos, cuja anatomia cardiovascular é semelhante à do ser humano. Vinte e quatro animais participaram da pesquisa, que também inovou ao ser a primeira a verificar os efeitos da cocaína fumada, e não injetada nas cobaias. O objetivo foi reproduzir exatamente a ação do crack, que é consumido dessa maneira.

Para verificar o efeito da droga em jovens e adultos, foram utilizadas cobaias de idades diferentes: de 21 dias e de dois meses. Os resultados indicaram que o crack age de formas diferenciadas, dependendo do tempo de vida do usuário. Enquanto nos camundongos de três semanas, correspondente à juventude em humanos, a diminuição do coração ocorreu devido à perda das células do miocárdio, nos mais velhos, o menor volume do órgão está associado a outros tipos celulares, como fibroblastos e endotélios. Os motivos ainda não são conhecidos.

A ingestão da cocaína inalada foi possível graças à criação de um equipamento que queimava a droga e depois filtrava a fumaça, para deixar o laboratório livre dos resíduos do crack. Durante dois meses, os camundongos eram colocados numa cápsula onde, por cinco minutos, a droga era queimada. Para que não sofressem overdose, o pesquisador optou por ministrar 5g de crack. A cocaína usada na pesquisa teve origem em uma apreensão feita pela Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes de Marília (SP).

"Foi importante usar um lote único para ter certeza que a droga tinha a mesma concentração", diz Moraes. "De acordo com a ganância do traficante, eles podem misturar a cocaína com outras substâncias, como pó de mármore e farinha, para fazer mais volume. A concentração da droga no crack varia de 15% a 90% e, na nossa pesquisa, a dosagem foi de 57,66%", relata. O médico destaca, porém, que mesmo as pedras com concentração pequena de cocaína são altamente prejudiciais à saúde, pois há inalação de outras substâncias tóxicas.

Vasos

Dois meses depois do início do experimento, as cobaias foram anestesiadas e sacrificadas. Um exame de sangue enviado para a Faculdade de Farmácia da USP comprovou que a cocaína circulava no organismo dos camundongos, sinal de que o método utilizado pelo pesquisador para estimular a ingestão da droga foi eficiente. Na autópsia, o médico legista deparou-se com uma situação à qual está habituado quando examina os órgãos de jovens vítimas do abuso das drogas. "Como sou legista, vejo muitos jovens com arteroscleroses coronarianas, como se fossem pessoas com mais de 60 anos. Um dos efeitos da droga é acelerar a arterosclerose. As consequências são infarto, arritmias e, a longo prazo, vasos espasmos, quando o vaso se contrai e se abre novamente", afirma.

Esses efeitos observados já eram conhecidos. Porém, a novidade foi quando o médico calculou a espessura das artérias e verificou que havia uma diminuição do volume dos vasos. Os camundongos expostos ao crack tiveram um aumento da apoptose (tipo de morte celular) das células do miocárdio. Embora, nesses casos, o organismo produza novas células, elas não são suficientes para substituir as que morreram. Para se adaptar, o coração sofre atrofia. Como consequência, o volume do órgão diminui, aumentam as arritmias e as chances de ocorrer morte súbita.

Preocupado com o consumo crescente de crack na população, principalmente entre jovens, o médico espera que sua pesquisa abra perspectivas para novos estudos. "Pode-se usar outras dosagens ou a associação do crack com o tabaco ou o álcool", sugere. Segundo ele, são combinações fatais e cada vez mais comuns entre os usuários."

(Fonte: Paloma Oliveto - Correio Braziliense)

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