"Muito se falou do legado que os Jogos Pan-Americanos - 2007 deixariam para a cidade do Rio de Janeiro após o seu término. Por conta dessa promessa, feita pelo ex-prefeito Cesar Maia e pelos dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), os cofres públicos foram abertos sem controle, sem transparência e sem responsabilidade. Baixada a poeira, o saldo que se tem do evento é extremamente triste: zero de legado, denúncias gravíssimas de malversação de verbas e nenhum estímulo ao esporte.
A Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) orçou Os Jogos Pan-Americanos 2007 em torno de 400 milhões de reais e se gastou dez vezes mais, no mínimo. O Pan do Rio de Janeiro foi o mais caro de toda a história dos jogos e virou caso de polícia. Várias obras e serviços foram realizados sem licitação ou superfaturadas e o tamanho do estrago e os verdadeiros beneficiados estão sendo revelados pouco a pouco pelo Tribunal de Contas da União (TCU), já que a Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por mim solicitada, apesar de aprovada, foi impedida de realizar os seus trabalhos pelos aliados do prefeito.
Dentre os beneficiados pela farra do Pan 2007, certamente não estão os atletas, nem a população da cidade. Todos os equipamentos construídos foram entregues à iniciativa privada a preço de banana. A Arena Multiuso, por exemplo, foi alugada para a um banco internacional, que, em vez de esportes, realiza espetáculos de toda natureza. O Engenhão também está com suas pistas de atletismo abandonadas e o Parque Aquático Maria Lenk, cedido ao COB por 20 anos, mantém-se sem nenhuma atividade. Esses equipamentos poderiam estar servindo como fomentadores de modalidades olímpicas e poderiam se transformar em espaços para a capacitação de professores de educação física ou escolinhas gratuitas para crianças e jovens.
O Parque Aquático Júlio Delamare, palco do Pólo Aquático no Pan 2007, cuja reforma custou R$ 10 milhões, será demolido para dar lugar a um amplo estacionamento no Maracanã. Esse parque é um dos maiores da América Latina, com 18,5 m², piscina olímpica de 25m x 50m, tanque para saltos de 25m x 25m, com profundidade de cinco metros e piscina coberta para aquecimento de 10m x 25m. Os alunos e nadadores que frequentam o parque estão desolados. Outro equipamento que está com os dias contados é o Estádio de Atletismo Célio de Barros. A cada dia, o que vemos, portanto, é o desmanche do que foi reformado ou construído para a realização dos Jogos Pan-Americanos. É dinheiro jogado fora de forma irresponsável.
Agora, o Rio encontra-se em plena campanha para abrigar os Jogos Olímpicos de 2016 e o orçamento inicial já está na casa dos R$ 30 bilhões, disparado o maior entre as quatro cidades concorrentes - Rio, Madri, Chicago e Tóquio. Quantos desses bilhões serão destinados para atenuar os graves problemas cariocas, como transporte, habitação e saneamento, etc.? O justo legado é quando o dinheiro público é usado para servir aos excluídos dessa cidade, inclusive os seus bravos atletas!
Deixando claro que sou favorável à realização das Olimpíadas de 2016 no Rio, minha preocupação é que o exemplo do Pan 2007, que de exemplar foi somente a atuação do público e dos esportistas, seja lamentavelmente repetido. Por isso, todo cuidado é pouco. Todos os gastos, caso o Rio saia vitorioso da disputa, têm que se ser fiscalizados com extremo rigor, para que não surjam mais escândalos e denúncias de corrupção."
(Fonte: Vereador PSOL-RJ Eliomar Coelho - JB e por e-mail da Fundação Lauro Campos)
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