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sexta-feira, 17 de abril de 2009

VIOLÊNCIA EXTRA E INTRAMUROS VI - CONCLUSÃO

CONCLUSÕES

"Os dados que apresentamos revelam que, além da violência física, crianças e adolescentes pobres estão, freqüentemente, sujeitos também à violência psicológica que se manifesta nos processos de avaliação e nas formas de interação que se estabelecem entre diretores, professores, funcionários, alunos e responsáveis. Essas considerações demonstram por que a maioria dos entrevistados tende a valorizar, na "boa escola", o diretor que organiza (19% dos responsáveis), o funcionário que respeita (30% dos meninos) e o professor que impede a bagunça (24% dos meninos).

Os entrevistados valorizam, sobretudo, a segurança e a organização interna da escola (40% no CIEP e 21% na escola comum). A expressão que mais se ouviu nas entrevistas foi "dar-se ao respeito", síntese de um desejo da população residente em áreas pobres de ter reconhecida a sua dignidade, mas igualmente de reconhecer a dignidade do diferente.

É necessário retomar com urgência o debate sobre a educação moral no seu sentido contemporâneo de autonomia moral, entendida como preparação para o exercício da cidadania nas escolhas éticas feitas e no respeito às demais possíveis na convivência pacífica, isto é, naquelas escolhas que não implicam a destruição ou o silenciamento dos outros. Sobretudo, a autonomia na participação na vida pública em seus diversos canais, como princípio condutor e possivelmente redutor de situações de violência."

NOTAS

1) IBGE/INEP, Censo de 1991; IBGE/PNAD de 1995; MEC/INEP/SEEC para concluintes.

2) O cálculo da taxa de mortalidade toma por base 100 mil habitantes.

3) As tabelas foram apresentadas por Mello Jorge (1998), a partir das quais obtivemos a comparação entre Rio de Janeiro e Brasil.

4) O material divulgado na imprensa expressa a preocupação com o fracasso da educação brasileira. Matéria publicada em 1993 na revista Veja apresentou um mapa do fracasso escolar no Brasil. Em um quadro comparativo do índice de evasão escolar no final do ensino fundamental envolvendo dez países (Japão, Alemanha, Uruguai, URSS, Iraque, China, Paquistão, Moçambique e Haiti) o Brasil é classificado em 9º lugar, com um percentual de 82% de evasão. A carga horária semanal do Brasil variava de 12 a 30 horas (ano letivo de 180 horas), ao passo que países como Argentina e Venezuela, com os mesmos dias letivos do Brasil, apresentavam uma carga semanal de 25 a 30 horas.
Dados publicados em 1995 no jornal O Globo revelaram a manutenção dessa situação: enquanto países como Bolívia, Paraguai, Peru, Venezuela, Chile e Uruguai apresentavam um percentual de alunos que concluíram o ensino fundamental de 64%, 68%, 70%, 73%, 85%, 86%, 87% e 92%, respectivamente, o Brasil não atingiu 33%. A respeito da violência que circunda a vida dessas crianças e adolescentes o texto da Veja é contundente: "Pelas estatísticas é mais fácil que uma criança negra nascida na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, nos Alagados do Recife ou na Zona Leste de São Paulo morra dum tiroteio do que chegue à universidade". Como vimos, essa probabilidade de morrer jovem é várias vezes superior à de chegar até a universidade. O texto é ainda bastante crítico com respeito às soluções alternativas apresentadas por alguns intelectuais e políticos para modificar a situação do ensino fundamental: caso do CIEP e CIAC, por exemplo. Registra que os índices de evasão e repetência dos CIEPs no Rio de Janeiro são idênticos aos das escolas comuns, com o agravante de que o custo do aluno é quatro vezes maior: "Os CIEPs fluminenses e os CIACs do governo federal, espécimes gêmeos de escolas de tempo integral, entretêm seus alunos com assistência social e recreação, mas o ensino, que é bom, fica para segundo plano e só ocupa quatro horas do dia." (Veja, "Máquina de cuspir criança", 20/11/1991, p. 52).

5) Um indicador da presença de Bourdieu no campo educacional são as traduções freqüentes de sua obra. Ver, a respeito, a publicação de escritos de Bourdieu sobre educação e ensino, extraídos da revista Actes de la Recherche em Sciences Sociales, organizada por Nogueira e Catani (1998).

6) A pesquisa foi realizada em certas áreas pobres do Rio de Janeiro (favela da Mangueira, no Município do Rio de Janeiro; favelas Vila Nova e Vila Ideal em Duque de Caxias e o loteamento Jardim Catarina em São Gonçalo) focalizando as relações entre escola e segmentos da população pobre. O objetivo era conhecer melhor, da ótica dos vários atores envolvidos, o ensino oferecido a esses segmentos. Assim, no trabalho de campo foram entrevistados crianças e adolescentes (alunos), bem como adultos (responsáveis, lideranças, professores, diretores) a respeito de como eles avaliavam os problemas mais prementes da instituição escolar e a qualidade de seus serviços. No final, foram transcritas e codificadas 246 entrevistas gravadas no programa Dbase Plus. A idéia original da pesquisa era recolher vários pontos de vista para confrontá-los, evitando cair ou na visão dos planejadores ou na dos executores mais imediatos da proposta, ou ainda dos atendidos na escola. Ao contrário do que propõem os compêndios de análise de conteúdo, as entrevistas foram trabalhadas num meio termo entre a "análise temática", análise transversal que recorta o conjunto das entrevistas através de uma grade de categorias projetadas sobre os conteúdos, e a "análise das figuras de discurso", que focaliza as maneiras de dizer já conceituadas pela Lingüística. A interpretação e a quantificação dos dados permitida pelo programa Dbase Plus propostas aqui foram centradas nas afirmações mais repetidas nas entrevistas pelos diferentes atores, quantificando afirmações ou imagens. Quando foram feitas as contagens gerais dos entrevistados e as específicas por bairro, posição na instituição escolar (professores e diretores, alunos, pais) e sexo (alunos homens e alunos mulheres), verificou-se que os percentuais de muitas respostas eram relativamente baixos, enquanto outras haviam sido mencionadas, de alguma forma, por todos os entrevistados. Isso se explica pelo fato de que, não havendo perguntas específicas para cada um dos itens da codificação (ela foi feita a posteriori a partir da leitura das entrevistas), nem todos se referiram espontaneamente aos temas tratados ou elegeram um enunciado como o mais próximo à sua forma de pensar.

7) A repetência do aluno tende a se dar preferencialmente no primeiro segmento do ensino fundamental (até a 4ª série) para 53% dos alunos da escola de tempo parcial e para 56% dos alunos de CIEPs, desigualmente distribuída segundo o gênero: atingiu 60% dos alunos e 46% das alunas entrevistados. O número de anos repetidos também varia: 34% das alunas e 17% dos alunos repetiram só um ano e 44% dos alunos e 20% das alunas repetiram mais de dois anos.
(Fonte: Alba Zaluar e Maria Cristina Leal)

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