O consumo da maconha deve ser liberado. Ao menos é o que defendem os manifestantes que participaram da primeira Marcha da Maconha em Natal - RN. O evento reuniu na tarde de hoje (30/07) cerca de 300 pessoas entre usuários e não-usuários da substância. A concentração aconteceu na entrada da Praça Cívica da UFRN, às 16h, e a marcha seguiu por dentro do campus, passando pela reitoria e terminando no setor II.
“Convencionou-se que quem faz uso da maconha é vagabundo, desocupado, burro, o que não é verdade”, argumenta Leilane Assunção, membro do Coletivo Cannabis Ativa, entidade responsável pela articulação da marcha. Aluna da UFRN há dez anos, a estudante de doutorado em ciências sociais afirma que o consumo da maconha também ocorre – e principalmente – entre pessoas com alto grau de instrução. “A prova disso é que a maioria das pessoas participando da marcha é universitário”.
Leilane conta que a Marcha da Maconha é algo que vem sendo articulado há pelo menos quatro meses. “Fomos instigados pela necessidade de se promover o debate. Foi uma resposta à postura reacionária da própria universidade”. À época, o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) encaminhou e-mail aos estudantes rechaçando o consumo da substância dentro das dependências da universidade. Ainda houve uma tentativa de realizar a marcha, mas a organização da manifestação teve os dois pedidos de habeas corpus indeferidos.
Hoje, contando com o aval do Ministério Público Estadual, a Marcha da Maconha saiu às ruas. A movimentação, acompanhada de perto pela Polícia Militar, foi pacífica, sendo vedado o consumo, apologia ao consumo ou porte da substância.
O membro da comissão de organização estudantil do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Igor Soares, chama atenção para o fato de que a descriminalização da maconha é um assunto que diz respeito não só aos usuários, mas à sociedade em geral. “Não compro, não vendo e não uso, mas acho salutar que se discuta a questão. É preciso questionar o que faz algumas drogas, como o álcool e o tabaco, terem seu consumo liberado e outras não. O que faz a maconha ser tida como substância ilícita? Há vários interesses envolvidos, e há também a questão do preconceito, mas será que eles devem influir no poder de decisão do cidadão? A maconha é estigmatizada, mas é sabido que o álcool e o tabaco, amplamente consumidos e socialmente aceitos, são bem mais lesivos”, observa.
Leilane, na condição de representante do Cannabis Ativa, diz que o coletivo acredita que a política proibicionista vigente não basta para resolver a polêmica que envolve o consumo da maconha. “A discussão do assunto não pode ser embasada em preconceito. A democracia pressupõe a discussão com a sociedade, a disseminação da informação e o combate à repressão. Temos uma série de estudos sobre a substância que poderiam estar sendo desenvolvidos. A ação analgésica e terapêutica da maconha é amplamente difundida por pesquisadores respeitados como o professor Sidarta Ribeiro”.
Marcha pacífica
Munidos de cartazes e faixas, os participantes da passeata entoavam palavras de ordem enquanto eram seguidos de perto pelos PMs. A marcha, composta em sua maioria por estudantes da UFRN, foi endossada por docentes da instituição de ensino superior, ativistas, movimentos políticos e usuários da substância. O encerramento, no setor II, foi criticado por algumas pessoas que participaram da marcha. “Faria mais sentido eles encerrarem aqui, na Praça Cívica, já que o objetivo é dar visibilidade e fomentar o debate em torno do assunto”, comentou um dos que estiveram na marcha.
(Fonte: Rayanne Azevedo - www.fotec.ufrn.br)
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