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sexta-feira, 30 de julho de 2010

INSEGURANÇA - QUANDO O FEITIÇO VIRA CONTRA O FEITICEIRO

"Nas disputas eleitorais os debates naturalmente ganham um teor mais passional. Os candidatos procuram conquistar eleitores, e para isso, tentam se apresentar como a melhor opção para solucionar os problemas que afligem a sociedade. Mediando essa luta, equipes de propaganda atuam com a função de equalizar os perfis de seus clientes com as expectativas do público.

Dessa forma, nas principais candidaturas, a preferência por um assunto é determinada a partir de pesquisas que buscam identificar a opinião da população sobre temas universais, como educação, saúde e segurança. Com esses dados, os estrategistas de campanha avaliam como atender as demandas apontadas nos levantamentos. Foi assim, por exemplo, que Lula deixou de pregar contra o Plano Real para tornar-se seu ardoroso defensor, em 2002.

No Ceará, desde as eleições de 2006, o assunto de maior apelo é a segurança pública e seus correlatos: medo, violência e atuação da polícia. Não por acaso o atual governo fez do programa Ronda do Quarteirão o seu carro-chefe na campanha eleitoral passada. A ideia original seria um guarda por quarteirão, com celular, pronto para atender chamados em cinco minutos. Marketing puro. Com o sucesso da proposta, que logrou êxito também na captação de votos, o programa foi mudando para que pudesse ser implantado, até ganhar o formato que hoje conhecemos.

No entanto, como os índices da criminalidade não pararam de crescer, a administração optou por inchar o Ronda às pressas e assim tentar amenizar o problema se valendo da tal “sensação de segurança”. Resultado: a nova polícia, que seria uma solução genial e simples para dar fim a um problema crônico, acabou por adotar os vícios da “antiga” polícia. E como sensação não é o mesmo que realidade, com o passar do tempo, a natureza cosmética do projeto passou a ficar mais evidente, deixando-o sujeito a constrangimentos.

É dentro desse histórico que o lamentável assassinato do adolescente Bruce Cristian se insere. A associação entre o calendário eleitoral, o medo crescente, a ineficiência da ação policial, a frustração da população e um crime que ganhou repercussão nacional, estava contratada desde a eleição estadual passada. O movimento é automático. Não precisa nem de adversários incitando as massas. Os fatos por si, somados à expectativa criada quatro anos atrás, bastam para juntar os elos dessa cadeia de fatos e símbolos.

Como essa associação é inevitável, resta ao governo que busca a reeleição administrar o desgaste certo. Isso não significa que o mesmo resultado de 2006 se repita. Mas é evidente que o episódio deixa a candidatura governista fragilizada, e reforça uma lição que aprendi com o mestre Lucas Pacheco: "nunca prometa algo que não possa cumprir, pois o marketing de campanha poderá afetar o marketing de governo no futuro".

É isso. O governo Cid se vê em crise justamente na área que escolheu como bandeira eleitoral no passado. Agora corre o risco de ver o feitiço virar contra o feiticeiro."

(Fonte: Wanderley Filho - Jangadeiro online. Foto: Wellingron Macêdo do Diário do Nordeste)

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