"No último dia 22, um homem foi assassinado no bairro Genibaú. Ele foi a vítima de número mil na estatística de homicídios."
"Noite de terça-feira passada (22). Eram precisamente 22h52 quando o telefone tocou na sala de atendimento da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). Do outro lado da linha alguém informava de um suposto tiroteio na Rua 21 de Novembro, no bairro Genibaú (Zona Oeste da Capital). Logo, o oficial de operações tratou de enviar ao local da ocorrência uma viatura do Ronda do Quarteirão. Minutos depois, veio a confirmação. Mais um assassinato em Fortaleza. Aquele era o milésimo homicídio do ano, registrado na Grande Fortaleza.
A vítima, um jovem identificado como Glaucenildo Barbosa Laureano, de 20 anos. Seu nome iria se somar a outros 999 na triste lista das pessoas executadas na Capital e Região Metropolitana em exatos oito meses e 21 dias.
O milésimo assassinato do ano consta da estatística elaborada pela Editoria de Polícia do Diário do Nordeste, que acompanha, diariamente, os registros de homicídios na Grande Fortaleza. Os crimes de morte viraram um desafio para a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado, que não encontra solução para por fim às execuções sumárias.
"Isso virou pandemia no nosso Estado", admitiu o secretário da Segurança, Roberto Monteiro, durante reunião com os delegados de Polícia Civil no auditório do Batalhão de Polícia Comunitária, na última quinta-feira (24). Segundo ele, 58 por cento dos homicídios na Grande Fortaleza são execuções sumárias. Monteiro admitiu isso frente a uma platéia de mais de 100 delegados, inclusive os mais de 70 recém-empossados.
Armas de fogo
Dos mil homicídios ocorridos desde o dia 1º de janeiro até as 22h52 da última terça-feira (22), 813 foram praticados com armas de fogo, o que representa 81,3 por cento dos casos, uma prova inconteste de que armas clandestinas continuam nas mãos de criminosos, especialmente de assaltantes, seqüestradores e matadores profissionais à serviço dos grandes traficantes de drogas.
E são as dívidas do tráfico as responsáveis pela maioria dos crimes de morte ocorridos na Grande Fortaleza. Traficantes não perdoam os usuários devedores. Quem compra droga e não paga, acaba eliminado. Isso tem se repetido praticamente todos os dias nos bairros periféricos da Capital e mesmo na zona nobre. Outro fato constatado nas estatísticas são as mortes cada vez mais crescentes de jovens e adolescentes.
Nas estatística da violência também aparecem as comunidades da Grande Fortaleza mais atingidas com os crimes contra a vida. Na Pajuçara, distrito do Município de Maracanaú, 31 homicídios já foram registrados este ano. No Conjunto São Miguel, em Messejana, onde ocorre uma intensa e violenta disputa entre traficantes de drogas pelo domínio da área, já são 28 assassinatos. No Planalto Ayrton Senna, 19; no Bom Jardim, 33; e no Município de Pacajus (Região Metropolitana), já ocorreram 27 execuções este ano.
Comentários
As matérias publicadas pelo Diário sobre a violência na Grande Fortaleza têm sempre recebido comentários de dezenas de leitores. As opiniões são as mais diversas, mas convergem para uma mesma preocupação com o aumento da criminalidade.
"Fiz de tudo, mas o vício falou mais alto"
Glaucenildo Barbosa Laureano, 20, é a vítima de número mil dentre os homicídios registrados este ano, na Grande Fortaleza. Mas Glauciano não é só um número nessa estatística, que se assemelha a uma ´guerra silenciosa´. Ele era filho, irmão, enteado e neto. Assassinado a bala no último dia 22, as 22h52,no bairro Genibaú, hoje (28) seus parentes e amigos irão celebrar a missa de sétimo dia pela sua morte.
A reportagem do Diário do Nordeste conversou com os parentes do rapaz assassinado e descobriu que o outrora menino sonhador acabou nas mãos de traficantes de drogas e, possivelmente por eles, teve sua vida ceifada de forma brutal.
A dona de casa Gláucia Barbosa, 37 anos, mãe de Glaucenildo, contou que "fez de tudo" para tirar o filho do mundo das drogas, mas segundo ela, "o vício falou mais alto". Inicialmente, o discurso de Gláucia, é semelhante ao de centenas de mães, que perderam seus filhos este ano, na ´guerra´ injusta, que tem de um lado os traficantes de drogas e do outro os usuários endividados.
Entretanto, na história de Gláucia, Glaucenildo e seus familiares, ocorreram mudanças de estado para que ele se livrasse do tráfico. "Mudei de Natal para Fortaleza há dois anos, pensando que assim livraria ele das drogas, mas não teve jeito. Vim só entregar meu filho aos bandidos", lamentou.
Segundo a mãe, o garoto estudou até o 5º ano e depois que se viciou foi internado uma vez, mas ao sair do hospital voltou a usar drogas. "Aquilo (lugar onde o filho foi morto) é um matadouro para execução de seres humanos. Dizia para ele deixar de andar lá, mas ele sempre ia. Um amigo dele foi morto há pouco tempo ali e ele havia escapado, mas dessa vez, eles (traficantes) conseguiram", disse.
Outros casos
Mas a estatística não parou em Glaucenildo. Ainda restam três meses para 2009 terminar e outras dezenas de pessoas já foram assassinadas da semana passada para cá. Somente entre as 18 horas da última sexta-feira (25) e o fim da tarde de ontem, mais 10 vítimas de homicídios tinham sido entregues pelo rabecão da Coordenadoria de Medicina Legal (CML) às mãos dos médicos legistas.
Quase sempre as vítimas de assassinatos são homens, jovens e mortos por razões semelhantes. Muitos dos nomes contabilizados na estatística elaborada pelo Diário eram de rapazes envolvidos com drogas.
Dez homicídios registrados
Vinte e três corpos foram examinados pela Coordenadoria de Medicina Legal (CML), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), no período compreendido entre a noite da última sexta-feira (25) e a tarde de ontem. No balanço parcial da violência no fim de semana, dez homicídios foram registrados na Grande Fortaleza. Depois dos assassinatos, os acidentes ficaram em segundo lugar como causa das mortes, com outros dez registros. Os números finais da violência no fim de semana, só serão conhecidos na manhã de hoje.
A seqüência de crimes de mortes começou na noite da sexta-feira com casos registrados em quatro bairros da Capital. O primeiro, ocorreu as 18h50, na Rua Sobreira Filho, no Bonsucesso. Lá, o decorador Paulo Sérgio Leite da Silva, 42, foi morto com sete tiros. O acusado, um homem que estavam em uma moto preta, fugiu logo após cometer o crime.
Já durante a madrugada e a manhã de ontem, mais três vítimas de homicídios davam entrada no Serviço de Verificação de Óbito (SVO), sede provisória da CML. O primeiro foi identificado como Marcelo Monteiro da Silva, 25. Segundo dados da Polícia, ele foi vítima de um atentado a bala, na última sexta-feira no bairro Colônia (Zona Oeste da Capital), foi levado para o IJF-Centro, onde morreu.
Mais tarde populares encontraram o corpo do adolescente José Valderlan Rocha de Sousa, 17, no canteiro central da Rodovia BR-116, na altura do quilômetro 52, em Pacajus. Peritos da Coordenadoria de Criminalística (CC), examinaram o corpo no local e confirmaram uma perfuração a bala.
Segundo o cabo PM Aloisio Costa, da 5ª Companhia do 1º BPM (Pacajus), parentes do jovem informaram à Polícia que ele havia saído de casa na tarde de sábado e estava sumido desde então. Conforme o PM, ele não tem antecedentes criminais. A tia do adolescente, Elisiane Freitas, 25, afirmou desconhecer os motivos do crime."
FERNANDO RIBEIRO
EDITOR
(Fonte: Jornal Diário do Nordeste)
"Noite de terça-feira passada (22). Eram precisamente 22h52 quando o telefone tocou na sala de atendimento da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). Do outro lado da linha alguém informava de um suposto tiroteio na Rua 21 de Novembro, no bairro Genibaú (Zona Oeste da Capital). Logo, o oficial de operações tratou de enviar ao local da ocorrência uma viatura do Ronda do Quarteirão. Minutos depois, veio a confirmação. Mais um assassinato em Fortaleza. Aquele era o milésimo homicídio do ano, registrado na Grande Fortaleza.
A vítima, um jovem identificado como Glaucenildo Barbosa Laureano, de 20 anos. Seu nome iria se somar a outros 999 na triste lista das pessoas executadas na Capital e Região Metropolitana em exatos oito meses e 21 dias.
O milésimo assassinato do ano consta da estatística elaborada pela Editoria de Polícia do Diário do Nordeste, que acompanha, diariamente, os registros de homicídios na Grande Fortaleza. Os crimes de morte viraram um desafio para a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado, que não encontra solução para por fim às execuções sumárias.
"Isso virou pandemia no nosso Estado", admitiu o secretário da Segurança, Roberto Monteiro, durante reunião com os delegados de Polícia Civil no auditório do Batalhão de Polícia Comunitária, na última quinta-feira (24). Segundo ele, 58 por cento dos homicídios na Grande Fortaleza são execuções sumárias. Monteiro admitiu isso frente a uma platéia de mais de 100 delegados, inclusive os mais de 70 recém-empossados.
Armas de fogo
Dos mil homicídios ocorridos desde o dia 1º de janeiro até as 22h52 da última terça-feira (22), 813 foram praticados com armas de fogo, o que representa 81,3 por cento dos casos, uma prova inconteste de que armas clandestinas continuam nas mãos de criminosos, especialmente de assaltantes, seqüestradores e matadores profissionais à serviço dos grandes traficantes de drogas.
E são as dívidas do tráfico as responsáveis pela maioria dos crimes de morte ocorridos na Grande Fortaleza. Traficantes não perdoam os usuários devedores. Quem compra droga e não paga, acaba eliminado. Isso tem se repetido praticamente todos os dias nos bairros periféricos da Capital e mesmo na zona nobre. Outro fato constatado nas estatísticas são as mortes cada vez mais crescentes de jovens e adolescentes.
Nas estatística da violência também aparecem as comunidades da Grande Fortaleza mais atingidas com os crimes contra a vida. Na Pajuçara, distrito do Município de Maracanaú, 31 homicídios já foram registrados este ano. No Conjunto São Miguel, em Messejana, onde ocorre uma intensa e violenta disputa entre traficantes de drogas pelo domínio da área, já são 28 assassinatos. No Planalto Ayrton Senna, 19; no Bom Jardim, 33; e no Município de Pacajus (Região Metropolitana), já ocorreram 27 execuções este ano.
Comentários
As matérias publicadas pelo Diário sobre a violência na Grande Fortaleza têm sempre recebido comentários de dezenas de leitores. As opiniões são as mais diversas, mas convergem para uma mesma preocupação com o aumento da criminalidade.
MÃE DESABAFA
"Fiz de tudo, mas o vício falou mais alto"
Glaucenildo Barbosa Laureano, 20, é a vítima de número mil dentre os homicídios registrados este ano, na Grande Fortaleza. Mas Glauciano não é só um número nessa estatística, que se assemelha a uma ´guerra silenciosa´. Ele era filho, irmão, enteado e neto. Assassinado a bala no último dia 22, as 22h52,no bairro Genibaú, hoje (28) seus parentes e amigos irão celebrar a missa de sétimo dia pela sua morte.
A reportagem do Diário do Nordeste conversou com os parentes do rapaz assassinado e descobriu que o outrora menino sonhador acabou nas mãos de traficantes de drogas e, possivelmente por eles, teve sua vida ceifada de forma brutal.
A dona de casa Gláucia Barbosa, 37 anos, mãe de Glaucenildo, contou que "fez de tudo" para tirar o filho do mundo das drogas, mas segundo ela, "o vício falou mais alto". Inicialmente, o discurso de Gláucia, é semelhante ao de centenas de mães, que perderam seus filhos este ano, na ´guerra´ injusta, que tem de um lado os traficantes de drogas e do outro os usuários endividados.
Entretanto, na história de Gláucia, Glaucenildo e seus familiares, ocorreram mudanças de estado para que ele se livrasse do tráfico. "Mudei de Natal para Fortaleza há dois anos, pensando que assim livraria ele das drogas, mas não teve jeito. Vim só entregar meu filho aos bandidos", lamentou.
Segundo a mãe, o garoto estudou até o 5º ano e depois que se viciou foi internado uma vez, mas ao sair do hospital voltou a usar drogas. "Aquilo (lugar onde o filho foi morto) é um matadouro para execução de seres humanos. Dizia para ele deixar de andar lá, mas ele sempre ia. Um amigo dele foi morto há pouco tempo ali e ele havia escapado, mas dessa vez, eles (traficantes) conseguiram", disse.
Outros casos
Mas a estatística não parou em Glaucenildo. Ainda restam três meses para 2009 terminar e outras dezenas de pessoas já foram assassinadas da semana passada para cá. Somente entre as 18 horas da última sexta-feira (25) e o fim da tarde de ontem, mais 10 vítimas de homicídios tinham sido entregues pelo rabecão da Coordenadoria de Medicina Legal (CML) às mãos dos médicos legistas.
Quase sempre as vítimas de assassinatos são homens, jovens e mortos por razões semelhantes. Muitos dos nomes contabilizados na estatística elaborada pelo Diário eram de rapazes envolvidos com drogas.
NO FIM DE SEMANA
Dez homicídios registrados
Vinte e três corpos foram examinados pela Coordenadoria de Medicina Legal (CML), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), no período compreendido entre a noite da última sexta-feira (25) e a tarde de ontem. No balanço parcial da violência no fim de semana, dez homicídios foram registrados na Grande Fortaleza. Depois dos assassinatos, os acidentes ficaram em segundo lugar como causa das mortes, com outros dez registros. Os números finais da violência no fim de semana, só serão conhecidos na manhã de hoje.
A seqüência de crimes de mortes começou na noite da sexta-feira com casos registrados em quatro bairros da Capital. O primeiro, ocorreu as 18h50, na Rua Sobreira Filho, no Bonsucesso. Lá, o decorador Paulo Sérgio Leite da Silva, 42, foi morto com sete tiros. O acusado, um homem que estavam em uma moto preta, fugiu logo após cometer o crime.
Já durante a madrugada e a manhã de ontem, mais três vítimas de homicídios davam entrada no Serviço de Verificação de Óbito (SVO), sede provisória da CML. O primeiro foi identificado como Marcelo Monteiro da Silva, 25. Segundo dados da Polícia, ele foi vítima de um atentado a bala, na última sexta-feira no bairro Colônia (Zona Oeste da Capital), foi levado para o IJF-Centro, onde morreu.
Mais tarde populares encontraram o corpo do adolescente José Valderlan Rocha de Sousa, 17, no canteiro central da Rodovia BR-116, na altura do quilômetro 52, em Pacajus. Peritos da Coordenadoria de Criminalística (CC), examinaram o corpo no local e confirmaram uma perfuração a bala.
Segundo o cabo PM Aloisio Costa, da 5ª Companhia do 1º BPM (Pacajus), parentes do jovem informaram à Polícia que ele havia saído de casa na tarde de sábado e estava sumido desde então. Conforme o PM, ele não tem antecedentes criminais. A tia do adolescente, Elisiane Freitas, 25, afirmou desconhecer os motivos do crime."
FERNANDO RIBEIRO
EDITOR
(Fonte: Jornal Diário do Nordeste)
Sou do Rio de Janeiro e irei a fortaleza em dezembro. Percebi que deverei agir da mesma forma como na minha cidade.
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