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sábado, 26 de setembro de 2009

DETENTAS CONCORREM AO TÍTULO DE MISS PENITENCIÁRIA

"Na próxima segunda-feira (28/09), o Distrito Federal vai conhecer a dona das mais belas curvas do presídio feminino. São 12 candidatas ao título de Miss Penitenciária que deixarão as celas para desfilar pela primeira vez em uma passarela. Elas foram selecionadas após um ensaio fotográfico feito com 96 inscritas de um total de 450 internas. Além da faixa e da coroa, a vencedora ganhará um prêmio de R$ 700, depositado em uma conta poupança. Como incentivo, todas as participantes ainda receberão um curso profissionalizante oferecido gratuitamente pelo Instituto Fraterna, presidido pela primeira dama Flávia Arruda.

Esta será a segunda edição do concurso, que tem por objetivo ressocializar e levantar a autoestima das presidiárias. “Não é porque estamos presas que somos feias. Somos belas, aliás, belíssimas”, declarou, entre risos, Juliana Navarro, 23 anos. De cabelos ondulados e compridos, a morena de 1,82 de altura e 65kg está confiante e tem ensaiado como vai entrar na passarela, sem deixar-se intimidar pelos gritos e aplausos da plateia estimada em mais de 800 pessoas, entre convidados e outras internas. “Eu estou ansiosa, mas também confiante de que vai dar tudo certo”, disse ela ao Correio. Outra que irradia felicidade é Valéria Aparecida Menezes Barreto, 27 anos. Depois de ser selecionada para participar do concurso de miss, ela passou a se sentir mais valorizada. Na hora da sessão de fotos, Valéria teve direito a maquiagem e a um penteado. Ficou impressionada quando viu o resultado. “Deu uma recauchutada. Fiquei bem diferente e muito bonita”, brincou.

Para participar do concurso de miss, as mulheres tiveram de se comportar e marcar presença nos ensaios de uma hora, três vezes por semana. Uma verdadeira mudança na rotina delas dentro do presídio. No dia do desfile, elas vão dedicar a manhã inteira a arrumar os cabelos e fazer maquiagem. As 12 candidatas desfilarão em trajes de passeio e gala, disponibilizados por parceiros do projeto. Além dos segundo e terceiros lugares, as detentas estão encarregadas de votar naquela que se encaixa no conceito de Miss Simpatia. Cerca de 20 jurados irão decidir quem levará o título de miss.

Para Flávia Arruda, o concurso estimula as internas a buscarem uma vida melhor, longe da criminalidade. “O objetivo é a reintegração dessas meninas. Elas sabem que elas erraram e estão pagando por isso. Eu acredito nos valores da pessoa humana sem abrir mão da aplicação rígida da pena, mas esse trabalho é uma oportunidade de elas reescreverem suas histórias e fazerem tudo diferente”, avalia. No presídio feminino, cerca de 70% das internas foram presas por tráfico de drogas. Michelly Cristina da Silva, 27 anos, já pensa em uma vida nova quando ganhar a liberdade de vez. “Quero trabalhar e cuidar dos meus três filhos”, afirma. Juliana Navarro sonha em cursar artes plásticas em uma faculdade. “Daqui a gente tira muitas lições. A gente tem que procurar fazer disso aqui um aprendizado e não repetir os mesmos erros”, ensina.

Poesia e redação

No próximo dia 28, haverá ainda o Concurso de Poesia e Redação, para eleger as seis mulheres que escreveram as melhores histórias e versos. Kênia Godoi, 28 anos, Daiane Lima, 22, Iara Cristine da Silva, 21, e Cristiane da Penha, 42, estão entre as inscritas. “O direito das mulheres” é o tema da redação. “Toda mulher tem direito de ser respeitada e amada”, lembrou Iara, que também se inscreveu no concurso de poesia, complementando: “Tem muita mulher por aí que é espancada pelo marido”. A vencedora ganhará R$ 500. Quem ficar em segundo lugar levará R$ 300, cabendo à terceira colocada a quantia de R$ 200.

Cristiane resolveu ir além da redação e está escrevendo um livro intitulado Aventuras, tristeza e garra (veja detalhe). Nele, Cristiane conta sua vida desde a infância. Ela é a mais velha de quatro filhos e começou a traficar drogas quando tinha apenas 14 anos para ajudar a mãe no sustento de casa. O tempo passou e Cristiane não conseguiu deixar a criminalidade para poder comprar as coisas que tinha vontade de possuir. “Queria ter dinheiro e ser independente. Eu achava que ia fazer só uma ou duas vezes, mas acabei ficando”, explicou.

Cristiane morava em Ceilândia e tem seis filhos. Eles acreditavam que a mãe trabalhava em uma lanchonete no Plano Piloto durante a noite. “Tinha duas vidas. De dia eu era mãe, tia, avó e dona de casa, e à noite eu era traficante. Queria mudar de vida porque aquela situação já estava me incomodando. Parecia que eu estava indo todos os dias para o meu velório. Só que, quando decidi parar, eu já estava sendo alvo de uma investigação”, revelou. Embora tenha traficado por 26 anos, Cristiane garante nunca ter usado qualquer tipo de droga. Há um ano e oito meses presa, ela garante que vai mudar de vida quando sair da Colmeia: “Agora eu já me sinto livre porque vou sair da prisão e fazer tudo o que há de mais interessante lá fora. Vou correr atrás dos meus sonhos e publicar meu livro”. Enquanto isso, Cristiane se segura para não deixar cair nenhuma lágrima durante sua estadia na penitenciária. “Senão, eu não aguento puxar pena. Só vou chorar quando chegar em casa e abraçar minha família”.

Valorizando as detentas

A ideia do concurso é repetir o sucesso do projeto Miss Penitenciária, que se realiza em São Paulo desde 2004. O trabalho é resultado do Projeto Reconstruindo a Liberdade, idealizado e coordenado pela primeira dama do DF, Flávia Arruda, e realizado pela Coordenação para Assuntos da Mulher – CAM (Sejus).

NÚMERO

450 - Número de detentas da Colmeia. Destas, 96 se inscreveram para o concurso e 12 chegaram à etapa final.

(Fonte: Mara Puljiz - Correio Braziliense)

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