Uma empresa de Barueri, na Grande São Paulo, montou sob encomenda e vendeu ao governo líbio, em 2006, 26 veículos blindados voltados ao combate de tumultos populares. O gerente geral da empresa, Amaury Belmonte, disse ao G1 que na época da transação e até a última vez que ele visitou o país, em 2008, não havia a menor perspectiva de que o regime de Muamnar Kadhafi fosse enfrentar uma revolta como a que está ocorrendo agora. Cada unidade saiu por cerca de US$ 500 mil.
Belmonte contou que, entre os veículos montados em Barueri e vendidos à polícia libia, todos pintados de azul, há duas unidades de comando equipadas com câmeras e monitores de vídeo, capacidade para filmar e transmitir imagens, banheiro, geladeira, cama e ar condicionado. "É uma espécie de motor home, uma estação para operação tática, que permite estacionar o veículo, captar imagens e transmitir", afirmou. Os carros equipados com jato d'água suportam carga de 10 mil litros e tem capacidade de derrubar um homem a 30 metros de distância. Além desses, a Líbia comprou veículos para transporte de tropas e de presos.
A empresa paulista foi localizada por um intermediário líbio por meio da internet. "A primeira coisa que eles procuram é qualidade e tecnologia, mas também preço", disse Belmonte. Depois de negociações, segundo ele, "bastante duras", os clientes acertaram a compra. "Eles são muito bons de negociação. É difícil para nós ocidentais negociar com eles, mas são bons pagadores", afirmou.
A montagem e entrega dos veículos exigiu seis meses de trabalho de uma equipe com aproximadamente 30 homens. "Chegamos a trabalhar 22 horas por dia para fazer as entregas no prazo", afirmou.
Belmonte, que esteve na Líbia em 2008 para vender peças de reposição, disse que sempre teve a impressão de um país tranquilo. "A impressão que tive era de um país calmo, muçulmano, com as restrições todas que tem", afirmou.
Nos últimos dias, no entanto, o país tem vivido um caos, com relatos de enfrentamentos entre forças do governo e manifestantes. Segundo fontes locais, mais de 20 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nos protestos.
Os veículos que foram entregues era da empresa então conhecida como O'Gara-Hess & Eisenhardt, filial brasileira da empresa americana especializada em blindagem de automóveis sediada em Alphaville, em São Paulo, e que hoje chama-se Centigon Brasil.
A Centigon, hoje controlada por uma holding com sede na Bélgica, também vende veículos blindados para transporte de valores e faz blindagem de automóveis civis. A empresa exportou veículos semelhantes para a Colômbia, Chile e Peru.
A filial americana é responsável pela blindagem dos "jipões" Hummer do exército dos EUA empregados no Iraque e Afeganistão. O desenvolvimento de veículos blindados foi uma das áreas de maior expansão na indústria bélica americana por conta dos aparatos explosivos improvisados, a maior causa de mortes e ferimentos de soldados americanos no Iraque.
Histórico
A ligação da indústria bélica brasileira com a Líbia é antiga. Foi a venda ao país de 400 blindados de reconhecimento EE-9 Cascavel, armados com canhão de calibre 90 mm, nos anos de 1980, que deu o grande impulso à fabricante Engesa, de São Paulo.
A Líbia usou o Cascavel em disputas de fronteira no Chade e Egito. Os líbios também compraram da Engesa 180 veículos blindados de transporte de tropas EE-11 Urutu.
(Fonte: G1, IHU)
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