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terça-feira, 21 de julho de 2009

QUAL O SEGREDO PARA UMA VIDA LONGA E FELIZ ?

"O tic-tac do relógio da vida é incessante. Do momento em que se nasce até o último suspiro, envelhecemos. Embora muitos relutem em aceitar o curso natural da trajetória humana, há aqueles que conduzem o passar dos anos com maestria. São pessoas que encaram o tempo como um aliado e chegam aos 70, 80, 90 anos cheios de vitalidade.

Não há dúvidas de que a evolução da medicina colaborou para prolongar a vida de homens e mulheres. Basta lembrar que o brasileiro vive, atualmente, cerca de 72,7 anos, enquanto, em 1960, a expectativa de vida no país era de 52,4 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas especialistas são unânimes em dizer que a longevidade é decorrência dos bons hábitos ao longo da história de cada um. Aqueles que fumam, são obesos, sedentários e não administram bem situações de estresse morrem pelo menos uma década antes do que os que têm uma rotina saudável.

Prova disso é o aposentado Alenn Assis de Almeida. Aos 82 anos, ele esbanja entusiasmo e conta que o esporte sempre esteve em sua rotina. “Eu tinha 9 anos quando comecei a jogar basquete. Na adolescência, fiz ginástica e natação. Morava no Rio de Janeiro e também nadava na praia. Mudei para Brasília em 1961, comecei a praticar judô e conheci ainda os benefícios do ioga. Nunca encarei o esporte como uma obrigação, ele é um prazer”, diz.

E é assim até hoje. De segunda a sexta-feira, as manhãs são dedicadas aos exercícios em uma academia. A alimentação, confessa Alenn, não foi tão cuidada na juventude e recentemente o coração sentiu os abusos. “Imagino que minhas escorregadas na dieta comprometeram a saúde. Há um ano e meio tive um infarto. Mas não tenho dúvidas de que resisti a ele por causa do meu vigor físico”, acredita.

O octogenário não lamenta estar envelhecendo. “É um processo mais que natural. Não fico pensando nos contras de ser um idoso. Meu avô morreu aos 45 anos, meu pai chegou aos 82 com a saúde debilitada. Sempre tive uma postura positiva diante da vida. Tenho 53 anos de casado e procuro aproveitar cada minuto. Ter uma companheira bacana para conversar, passar os dias e viajar é importante, a família é fundamental nessa caminhada”, completa Alenn.

A professora do programa de pós-graduação em gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Anita Liberalesso explica que o equilíbrio emocional abre portas importantes para a longevidade. Segundo ela, à medida que as pessoas envelhecem, ficam mais expostas a fatores de risco à saúde e perdas afetivas ou de posição social. “Ninguém envelhece da noite para o dia. Temos tempo para ficarmos mais sábios, nos adaptarmos às mudanças. A velhice não é sinônimo de declínio e infelicidade. Hoje, além do arsenal da medicina, temos como aliada a informação. Sabemos melhor como prevenir doenças”, observa.

A especialista também ressalta que não é segredo a importância que a educação e a formação têm para a longevidade. “Todas as pesquisas na área da gerontologia apontam que, assim como os cuidados preventivos com a saúde, é importante dar atenção à atividade intelectual. Quem busca o conhecimento tem uma inquietude saudável. Ter espiritualidade, equilíbrio emocional, altruísmo a atitudes positivas nos ajudam a conquistar objetivos na vida, lutar por causas de valor imaterial”, pondera. “E são esses valores que darão força e sabedoria para enfrentar os problemas, aborrecimentos e tristezas comuns na vida de todos nós. Afinal, quem não passa por momentos difíceis, perdas e lutos?”, acrescenta.

Os cidadãos com mais de 60 anos correspondem hoje a 10,5% da população brasileira. O estudo Longevidade no Brasil, encomendado por um banco nacional e conduzido pelo cientista social José Carlos Libânio, demonstra que, aos poucos, o conceito de envelhecimento tem sido melhor assimilado no país. “Consultamos cerca de 2 mil pessoas. A maioria entende que, mais do que uma questão cronológica, a longevidade está relacionada à qualidade de vida, o que significa estar ativo e ser independente. Para 87% dos entrevistados, chegar a essa fase é um privilégio”, diz Libânio.

Descontração

Rir, dançar, conversar e saber extravasar as emoções são bons caminhos para viver mais tempo. Essa é a conclusão de um estudo coordenado pelo geriatra Thomas Perls, da Universidade de Boston (EUA). O objetivo do trabalho era entender o efeito que a personalidade de cada um exerce sobre o tempo de vida. A pesquisa identificou características comuns a pessoas centenárias e seus filhos e mostrou que os mais extrovertidos sabem lidar melhor com o estresse, são menos solitários e menos deprimidos.

Para a coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade (Nepti) da Universidade de Brasília (UnB), Maria Regina Moreira, a extroversão é uma característica que ajuda no convívio social. “As amizades são importantíssimas durante toda a vida, mas para quem passou dos 60, elas são fundamentais. Os amigos nos carregam nas horas difíceis e afastam a solidão, tão temida para os idosos”, afirma.

Além de trabalhar no Nepti, Regina, que tem 69 anos, participa de um grupo da terceira idade que se reúne quinzenalmente para passeios e reuniões sociais. Dele, também faz parte a dona de casa Jusiléa Oliveira da Silva, que, aos 79 anos, faz questão de estar em todas as atividades propostas pela trupe. “Adoro ser independente e, embora more sozinha, estou sempre em companhia das amigas que fiz no grupo. Tenho o espírito jovem e muita vitalidade, jamais fico parada. Considero que esse é realmente um dos segredos da longevidade. A idade chegou sem que eu percebesse”, confessa.

As companheiras de cinema, teatro e exposições concordam com ela e acrescentam: ninguém pode ser feliz sozinho. “Fiquei viúva muito cedo e trabalhei muito para cuidar de seis crianças sozinha. Quando menos esperava, perdi uma filha repentinamente. Ela tinha apenas 38 anos. Chorei muito e enfrentei o luto. As amizades me salvaram”, enfatiza a aposentada Maria José Barbosa.

E os amigos, sempre eles, se encarregam também de incentivar as conquistas pessoais. A farmacêutica aposentada Yeda de Paula Valle, 76 anos, que também integra o grupo da terceira idade, lembra que os desafios rejuvenescem. “Quando superamos medos, mexemos com a nossa autoestima. Canto no Coro Sinfônico Comunitário da UnB. As peças são difíceis. Trabalhamos com compositores consagrados. Imaginei que não conseguiríamos. Recentemente, interpretamos a Segunda Sinfonia de Mendelssohn. As amigas estavam na plateia para aplaudir a conquista”, conta a entusiasmada senhora."

(Fonte: Correio Braziliense)

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