"Eddie estava sentado no chão da sala, em Denver, no Colorado, brincando com blocos de plástico. A 380 mil km dali, Neil Armstrong informava pelo rádio: "164m... 121... baixando muito bem... 60m... 30m e tudo continua parecendo bem. Inclinando-se um pouco à direita. Está bem. Motores apagados". Eddie, com 11 anos, mostrava-se mais interessado no encaixe das pecinhas coloridas. Em frente, a televisão - uma Zenith preta e branca de 19 polegadas - exibia cenas típicas de um filme de ficção científica. Enquanto isso, em Houston, o controlador respondia a Armstrong: "Ouvimos vocês perfeitamente aqui em baixo, Águia". Foi então que o mundo escutou, às 23h56 (horário de Brasília) de 20 de julho de 1969, a célebre frase: "Houston, aqui é a Base da Tranquilidade. Águia aterrissou".
O homem, enfim, conquistava a lua. Até então território exclusivo dos poetas, o satélite de 4,5 bilhões de anos pertencia agora à humanidade. "Naturalmente, minha família estava toda presente. Eu dividia meu tempo entre o que acontecia na televisão e o meu brinquedo. Aí, me lembro da minha mãe me repreendendo: 'Você não percebeu que a história está sendo feita agora?'. Ah, aposto que eu lembro desse momento melhor do que ela", conta Edward Flournoy, hoje um engenheiro de 51 anos. A partir daquele dia, ficou tão aficionado por astronomia que ganhou um apelido na escola: o patrulha do espaço. Até hoje, participa de fóruns sobre o assunto e está bastante entusiasmado com as comemorações da conquista lunar.
Quarenta anos depois de um dos maiores feitos do homem, comparado por cientistas à descoberta do fogo e da roda, a Terra volta a olhar para a Lua. O satélite caiu no ostracismo desde 1972, quando ocorreu a última missão do projeto Apollo. No total, seis naves tripuladas pousaram em solo lunar e outras três estavam programadas, mas foram canceladas. No início da década de 1970, o Congresso norte-americano cortou as verbas destinadas à exploração da lua. Afinal, a opinião pública já não se impressionava mais com o satélite e a corrida espacial (leia mais nesta página), acirrada pela decisão do presidente americano John F. Kennedy, em 1961, de conquistar a Lua, já tinha vencedor.
Para as gerações seguintes, 1969 ficou mais marcado como o ano do Festival de Woodstock e do lançamento do filme Easy rider. A jornada nas estrelas não passava de uma imagem embaçada, cheia de chuviscos, e da gravação da voz de Neil Armstrong dizendo: "É um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade". Mas agora as coisas estão diferentes. Na quinta-feira passada, quando se comemorou quatro décadas da partida rumo ao satélite, o site de buscas Google, na versão brasileira, registrava 7,3 milhões de pesquisas com a palavra Lua. Para se ter uma ideia, era o mesmo número de acessos em português do nome de Michael Jackson, o assunto do momento.
Nos Estados Unidos, uma extensa comemoração para todo o mês deve reacender o interesse dos norte-americanos pelo assunto. A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) lançou um site especial (www.nasa.gov/mission_pages/apollo/40th/index.html) e a Biblioteca Presidencial John F. Kennedy inaugurou o portal www.wechoosethemoon.org, que recria a missão Apollo 11, com uma série de recursos inimagináveis na época em que o homem pisou na lua. Além disso, haverá exposições, palestras feitas por astronautas de todos os tempos e vídeos com imagens restauradas da viagem ao espaço.
"Naquela época, os recursos eram poucos. Eu tinha oito anos e minha mãe sempre comprava livros, pôsteres e adesivos sobre o espaço. Se você escrevesse para a Nasa, eles também mandavam materiais. Então, eu tinha um enorme quadro da Lua no meu quarto. Apollo era a minha vida", conta o comerciante John Hewitt, que morava em Roswall, na Georgia. "Vi Armstrong pisar na Lua numa minúscula televisão em preta e branca, que ficava na cozinha. Como eu era o caçula, pude conseguir o melhor lugar: o colo do meu pai", lembra. Hewitt diz que a imagem era sofrível. "Depois, quando viram os vídeos, o Aldrin comentou com o Armstrong: 'Puxa vida, eles perderam todo o evento!'. Mas para nós era simplesmente fantástico", afirma. "Hoje, está tudo mais fácil. Pela internet, você vê tudo, em todas as dimensões. Espero que, quando o homem voltar à Lua, os jovens valorizem as facilidades que terão", diz.
Isso não deve demorar. O ambicioso projeto Constallation, da Nasa (leia mais na edição de amanhã), primeiro passo para a colonização de Marte, começa pela Lua. A agência norte-americana prevê ao ano de 2020 como prazo-limite à viagem ao satélite, onde será montada uma grande estrutura para treinar os astronautas que viajarão ao planeta vermelho. "Espero poder ver tudo isso. Tive o privilégio de assistir o homem pisar na Lua com uma imagem boa. Na Austrália, recebemos a transmissão pelo Honeysuckle Creek (estação da Nasa próxima a Canberra) e as imagens eram muito melhores", relata o fazendeiro australiano Nils Goose, que tinha 14 anos na época. "Foi uma experiência extraordinária. Imagine agora. Se tivermos sorte, quem sabe não assistiremos a tudo em três dimensões?", questiona.
Corrida espacial
4 de outubro de 1957
A União Soviética sai à frente dos Estados Unidos na corrida espacial e lança no espaço o satélite artificial Sputnik I, que orbitou a Terra por seis meses. Um mês depois, o Sputnik II levou ao espaço o primeiro ser vivo, a cadelinha Laika. A ideia era monitorar os dados biológicos, mas ela morreu poucas horas depois do lançamento por causa do superaquecimento da cabine.
1º de fevereiro de 1958
Em resposta aos soviéticos, os Estados Unidos mandam ao espaço o primeiro satélite do país, o Explorer 1. Por causa da pressa, foi construído em menos de três meses. Embora o satélite tenha ficado em órbita por dois anos, ele parou de funcionar quatro meses depois de seu lançamento, quando as baterias acabaram.
13 de dezembro de 1958
Sob protestos furiosos das sociedades protetoras de animais, o Exército norte-americano lança ao espaço o macaco-esquilo Gordo, a bordo do foguete Júpiter AM-13. O animal, de 30cm e 1,5kg, voou durante 15 minutos. O objetivo foi estudar os efeitos do voo para futuras viagens tripuladas. Gordo, porém, jamais voltou à Terra por causa de uma falha no cone do nariz do foguete.
29 de maio de 1959
As macacas-esquilos Able e Baker são enviadas ao espaço a uma velocidade de 16 mil quilômetros por hora, durante 15 minutos, alcançando 2,4 mil km de altitude. Elas foram lançadas pelo Exército norte-americano no cone do nariz do foguete Júpiter AM-18. Ao contrário de Gordo, os animais voltaram, sem danos, à Terra.
12 de setembro de 1959
Mais uma vez saindo à frente dos EUA, a União Soviética lança um satélite em direção à lua. O Lunik II viajou a uma velocidade de 11,2 quilômetros por segundo e, pela primeira vez, pousou na superfície lunar.
31 de janeiro de 1961
O chimpanzé Ham é lançado ao espaço numa viagem a 8 mil quilômetros por hora, a uma altura de 250km da órbita terrestre. A experiência norte-americana visava testar os efeitos da gravidade no organismo do macaco, semelhante ao do ser humano.
12 de abril de 1961
Surpreendendo os EUA, a União Soviética parece vencer a corrida espacial. Depois de dois anos de treinamento, Yuri Gagarin é lançado ao espaço pela nave Vostok-1. É o primeiro homem a voar na órbita da Terra. Viaja por 108 minutos, numa velocidade de 27 mil quilômetros por hora.
5 de maio de 1961
Os Estados Unidos mandam para o espaço o astronauta Alan Shepard, primeiro norte-americano a orbitar a Terra. Ele viajou na cápsula Mercúrio-III.
6 de agosto de 1961
O cosmonauta Gherman Titov passa um dia inteiro no espaço e chega a tirar uma soneca na órbita terrestre.
20 de fevereiro de 1962
O astronauta norte-americano John Glenn é o primeiro homem a circundar o planeta. Ele viajou cerca de 130 mil quilômetros e deu três voltas na Terra.
14 de dezembro de 1962
A nave norte-americana Marine 2 faz a primeira transmissão do planeta Vênus. São 40 minutos de som transmitido por sinal de rádio, a 58 milhões de quilômetros da Terra.
13 de junho de 1963
A União Soviética manda pela primeira vez uma mulher ao espaço, Valentina Tereshkova, 26 anos.
18 de março de 1965
A bordo da nave Voskhod II, o cosmonauta russo Alexei Leonov é o primeiro homem a caminhar no espaço, fora da cápsula.
27 de janeiro de 1967
Três astronautas norte-americanos morrem depois de serem lançados do Cabo Kennedy, a bordo da Apollo 1. A nave foi desenhada para um voo à Lua, mas uma pane elétrica destruiu vários sistemas e interrompeu o fornecimento de oxigênio."
Vídeo mostra ligação de Richard Nixon para os astronautas que estão na lua.
O homem, enfim, conquistava a lua. Até então território exclusivo dos poetas, o satélite de 4,5 bilhões de anos pertencia agora à humanidade. "Naturalmente, minha família estava toda presente. Eu dividia meu tempo entre o que acontecia na televisão e o meu brinquedo. Aí, me lembro da minha mãe me repreendendo: 'Você não percebeu que a história está sendo feita agora?'. Ah, aposto que eu lembro desse momento melhor do que ela", conta Edward Flournoy, hoje um engenheiro de 51 anos. A partir daquele dia, ficou tão aficionado por astronomia que ganhou um apelido na escola: o patrulha do espaço. Até hoje, participa de fóruns sobre o assunto e está bastante entusiasmado com as comemorações da conquista lunar.
Quarenta anos depois de um dos maiores feitos do homem, comparado por cientistas à descoberta do fogo e da roda, a Terra volta a olhar para a Lua. O satélite caiu no ostracismo desde 1972, quando ocorreu a última missão do projeto Apollo. No total, seis naves tripuladas pousaram em solo lunar e outras três estavam programadas, mas foram canceladas. No início da década de 1970, o Congresso norte-americano cortou as verbas destinadas à exploração da lua. Afinal, a opinião pública já não se impressionava mais com o satélite e a corrida espacial (leia mais nesta página), acirrada pela decisão do presidente americano John F. Kennedy, em 1961, de conquistar a Lua, já tinha vencedor.
Para as gerações seguintes, 1969 ficou mais marcado como o ano do Festival de Woodstock e do lançamento do filme Easy rider. A jornada nas estrelas não passava de uma imagem embaçada, cheia de chuviscos, e da gravação da voz de Neil Armstrong dizendo: "É um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade". Mas agora as coisas estão diferentes. Na quinta-feira passada, quando se comemorou quatro décadas da partida rumo ao satélite, o site de buscas Google, na versão brasileira, registrava 7,3 milhões de pesquisas com a palavra Lua. Para se ter uma ideia, era o mesmo número de acessos em português do nome de Michael Jackson, o assunto do momento.
Nos Estados Unidos, uma extensa comemoração para todo o mês deve reacender o interesse dos norte-americanos pelo assunto. A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) lançou um site especial (www.nasa.gov/mission_pages/apollo/40th/index.html) e a Biblioteca Presidencial John F. Kennedy inaugurou o portal www.wechoosethemoon.org, que recria a missão Apollo 11, com uma série de recursos inimagináveis na época em que o homem pisou na lua. Além disso, haverá exposições, palestras feitas por astronautas de todos os tempos e vídeos com imagens restauradas da viagem ao espaço.
"Naquela época, os recursos eram poucos. Eu tinha oito anos e minha mãe sempre comprava livros, pôsteres e adesivos sobre o espaço. Se você escrevesse para a Nasa, eles também mandavam materiais. Então, eu tinha um enorme quadro da Lua no meu quarto. Apollo era a minha vida", conta o comerciante John Hewitt, que morava em Roswall, na Georgia. "Vi Armstrong pisar na Lua numa minúscula televisão em preta e branca, que ficava na cozinha. Como eu era o caçula, pude conseguir o melhor lugar: o colo do meu pai", lembra. Hewitt diz que a imagem era sofrível. "Depois, quando viram os vídeos, o Aldrin comentou com o Armstrong: 'Puxa vida, eles perderam todo o evento!'. Mas para nós era simplesmente fantástico", afirma. "Hoje, está tudo mais fácil. Pela internet, você vê tudo, em todas as dimensões. Espero que, quando o homem voltar à Lua, os jovens valorizem as facilidades que terão", diz.
Isso não deve demorar. O ambicioso projeto Constallation, da Nasa (leia mais na edição de amanhã), primeiro passo para a colonização de Marte, começa pela Lua. A agência norte-americana prevê ao ano de 2020 como prazo-limite à viagem ao satélite, onde será montada uma grande estrutura para treinar os astronautas que viajarão ao planeta vermelho. "Espero poder ver tudo isso. Tive o privilégio de assistir o homem pisar na Lua com uma imagem boa. Na Austrália, recebemos a transmissão pelo Honeysuckle Creek (estação da Nasa próxima a Canberra) e as imagens eram muito melhores", relata o fazendeiro australiano Nils Goose, que tinha 14 anos na época. "Foi uma experiência extraordinária. Imagine agora. Se tivermos sorte, quem sabe não assistiremos a tudo em três dimensões?", questiona.
Corrida espacial
4 de outubro de 1957
A União Soviética sai à frente dos Estados Unidos na corrida espacial e lança no espaço o satélite artificial Sputnik I, que orbitou a Terra por seis meses. Um mês depois, o Sputnik II levou ao espaço o primeiro ser vivo, a cadelinha Laika. A ideia era monitorar os dados biológicos, mas ela morreu poucas horas depois do lançamento por causa do superaquecimento da cabine.
1º de fevereiro de 1958
Em resposta aos soviéticos, os Estados Unidos mandam ao espaço o primeiro satélite do país, o Explorer 1. Por causa da pressa, foi construído em menos de três meses. Embora o satélite tenha ficado em órbita por dois anos, ele parou de funcionar quatro meses depois de seu lançamento, quando as baterias acabaram.
13 de dezembro de 1958
Sob protestos furiosos das sociedades protetoras de animais, o Exército norte-americano lança ao espaço o macaco-esquilo Gordo, a bordo do foguete Júpiter AM-13. O animal, de 30cm e 1,5kg, voou durante 15 minutos. O objetivo foi estudar os efeitos do voo para futuras viagens tripuladas. Gordo, porém, jamais voltou à Terra por causa de uma falha no cone do nariz do foguete.
29 de maio de 1959
As macacas-esquilos Able e Baker são enviadas ao espaço a uma velocidade de 16 mil quilômetros por hora, durante 15 minutos, alcançando 2,4 mil km de altitude. Elas foram lançadas pelo Exército norte-americano no cone do nariz do foguete Júpiter AM-18. Ao contrário de Gordo, os animais voltaram, sem danos, à Terra.
12 de setembro de 1959
Mais uma vez saindo à frente dos EUA, a União Soviética lança um satélite em direção à lua. O Lunik II viajou a uma velocidade de 11,2 quilômetros por segundo e, pela primeira vez, pousou na superfície lunar.
31 de janeiro de 1961
O chimpanzé Ham é lançado ao espaço numa viagem a 8 mil quilômetros por hora, a uma altura de 250km da órbita terrestre. A experiência norte-americana visava testar os efeitos da gravidade no organismo do macaco, semelhante ao do ser humano.
12 de abril de 1961
Surpreendendo os EUA, a União Soviética parece vencer a corrida espacial. Depois de dois anos de treinamento, Yuri Gagarin é lançado ao espaço pela nave Vostok-1. É o primeiro homem a voar na órbita da Terra. Viaja por 108 minutos, numa velocidade de 27 mil quilômetros por hora.
5 de maio de 1961
Os Estados Unidos mandam para o espaço o astronauta Alan Shepard, primeiro norte-americano a orbitar a Terra. Ele viajou na cápsula Mercúrio-III.
6 de agosto de 1961
O cosmonauta Gherman Titov passa um dia inteiro no espaço e chega a tirar uma soneca na órbita terrestre.
20 de fevereiro de 1962
O astronauta norte-americano John Glenn é o primeiro homem a circundar o planeta. Ele viajou cerca de 130 mil quilômetros e deu três voltas na Terra.
14 de dezembro de 1962
A nave norte-americana Marine 2 faz a primeira transmissão do planeta Vênus. São 40 minutos de som transmitido por sinal de rádio, a 58 milhões de quilômetros da Terra.
13 de junho de 1963
A União Soviética manda pela primeira vez uma mulher ao espaço, Valentina Tereshkova, 26 anos.
18 de março de 1965
A bordo da nave Voskhod II, o cosmonauta russo Alexei Leonov é o primeiro homem a caminhar no espaço, fora da cápsula.
27 de janeiro de 1967
Três astronautas norte-americanos morrem depois de serem lançados do Cabo Kennedy, a bordo da Apollo 1. A nave foi desenhada para um voo à Lua, mas uma pane elétrica destruiu vários sistemas e interrompeu o fornecimento de oxigênio."
Vídeo mostra ligação de Richard Nixon para os astronautas que estão na lua.
(Fonte: Correio Braziliense)
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