Escrever a respeito de mobilização nacional é ter a oportunidade de estudar fundamentalmente o país, sua situação no contexto global, sua estrutura e conjuntura, mesclando a interface da crítica consciente aliada ao amor, ao patriotismo e ao devotamento que temos por nossa pátria continental, chamada BRASIL.
Escrever a respeito mobilização nacional é vivenciar experiências exitosas. É tornar-se mais brasileiro, mesmo vivendo este momento de incertezas que domina nossas vidas, onde a ruptura de ideais, a situação das nossas instituições e até os laços pessoais que construímos são ameaçados por práticas desumanas e políticas inadequadas, pela ausência de compromisso, de amor e de fé de alguns setores e de boa parcela da sociedade moderna.
O Mundo, hoje, é de uma complexidade jamais experimentada, marcada por rápidas transformações políticas, econômicas, militares, psicossociais e científicas e tecnológicas.
A Nova ordem mundial, a globalização e sua política neoliberal, apontam para uma nova sociabilidade nas diversas esferas da sociedade.
Certamente, para enfrentar a angústia que nos alcança, devemos aprender mais e agir com sabedoria, criando possibilidades de respondermos aos desafios, incorporando novos conhecimentos. Estudando, descobrimos as alternativas para os problemas, nas mais variadas formas de políticas e estratégias.
É preciso, no entanto, ter bastante clareza de que, para que possamos participar desse processo, enquanto cidadãos, profissionais, indivíduos, grupos ou organizações, necessitamos desenvolver formas de instrumentação e acesso aos diversos saberes. Tanto tratando-se do nível macro-social quanto micro-social, da participação de países, de instituições, de empresas ou de pessoas.
O conhecimento, há muito, é considerado a ponta de lança para as mudanças sociais. Esse princípio não sofreu mudanças de fundo, mas de forma.
Assim é que, embora a mediação de uma nova cultura livresca não tenha deixado de existir, novas formas de conhecimentos são cada vez mais decantadas na contemporaneidade, onde os meios midiáticos de comunicação, a informática, a telemática aparecem enquanto grandes condutores de conhecimento, de possibilidades de acesso às informações que são disponibilizadas.
Isso implica no pressuposto de que o saber se tornou a principal força de produção e modificou sensivelmente as relações de trabalho em todo o mundo. O Saber tornou-se o maior desafio na competição mundial pelo poder. Do mesmo modo que Estados-Nações disputaram territórios com o fim de ter acesso à exploração de matérias-primas e mão-de-obra barata, batem-se agora para dominar informações, conhecimentos e saberes.
Assim, a solução para os problemas que dominam a MOBILIZAÇÃO NACIONAL, perpassa pela política educacional, por estratégias, por escolas, por políticas que sejam comprometidas na divulgação, no ensino, na discussão, devendo nosso povo brasileiro reunir saberes, conhecimentos e informações a respeito da MOBILIZAÇÃO NACIONAL.
A cada momento devemos ser multiplicadores da doutrina das idéias que movem e devem promover a Mobilização Nacional. Nossos Trabalhos em equipe, nossos trabalhos individuais, o aprendizado, a experiência pessoal de cada um, todo este somatório de esforços devem ser despreendidos em prol da Mobilização, enfaticamente na fase do seu preparo, para que se um dia desses tivermos que executá-la, estejamos preparados para a nossa defesa, a defesa dos nossos objetivos nacionais permanentes, destacadamente a soberania brasileira.
Daí é necessário que sejamos ousados, criativos, inventivos e tenhamos consciência, força e determinação na multiplicação de idéias para fomentar, desenvolver, construir, consolidar e fortalecer a nossa MOBILIZAÇÃO NACIONAL. Contribuindo, destarte, com a construção do amanhã da MOBILIZAÇÃO NACIONAL, cotidianamente, quer no nosso local de trabalho, através da interação social, palestras, seminários, aulas, exposições temáticas etc., quer em nossas casas, em qualquer lugar, mas sempre montados na seara da verdade e do DEVER-SER.
Para promover a MOBILIZAÇÃO NACIONAL, não é necessário que todas as pessoas estejam reunidas num mesmo espaço físico ou que se conheçam, o que se requer é o conhecimento do objetivo.
Para a MOBILIZAÇÃO NACIONAL, qualquer trabalho, qualquer contribuição, qualquer participação, quer seja coletiva ou individual, é importante. A respeito disso, relata-nos a história que uma única pessoa foi capaz de defender sua nação contra a saga inimiga de um dos mais poderosos Exércitos já existentes na face da terra, o Exército de ALEXANDRE - "O Grande", responsável por conquistas inigualáveis (proporcionalmente à configuração do Mundo naquela época) .
O Fato ocorreu em meados de 330 a. C. quando da conquista da Ásia, logo após a passagem de Grânico, quando Alexandre, preparava-se para mais uma vitória arrassadora, desta vez contra os CITAS. Antes do embate, apareceu um embaixador Cita, que prevendo uma desgraça para seu povo, ousou enfrentar Alexandre, através de uma valorosa arma, A PALAVRA, porquanto disse-lhe:
"Se a ti os Deuses tivessem dado um corpo proporcional às tuas ambições, o universo inteiro seria demasiado pequeno para ti.
Com uma das mãos, tocarias o Oriente e com a outra o Ocidente, e tua cabeça passaria do Sol. A tua ambição é maior do que tu.
Quando tiveres subjugado todos os homens, certamente irás fazer guerra aos rios, aos montes, às florestas, aos astros.
Porventura ignoras que as árvores altaneiras são as primeiras a serem arrancadas pelos vendavais? O leão serve de pasto às aves pequenas e a ferrugem corrói o ferro mais duro? Nada existe neste mundo que seja tão forte que não possa ser destruído por um conjunto de coisas mais frágeis.
Que temos a discutir contigo? Nunca pusemos os pés em tuas terras. Por que negas aos que vivem nesta terra o direito de ignorar a tua presença e o que tu és? Não queremos obedecer nem mandar em ninguém. Saibas que dos Deuses recebemos como dádiva preciosa esta terra, em que nascemos e que rasgamos com os nossos arados. Com os amigos partilhamos o pão das nossas mesas e na mesma taça oferecemos vinho aos Deuses. Quanto aos inimigos, preferimos ignorá-los.
Tu te vanglorias de que vieste em nome da justiça para combater os ladrões. No entanto, tu és o maior ladrão da terra. Saqueaste e dizimaste as terras por onde passaste e ainda vens roubar os nossos rebanhos, os produtos da nossa terra, a nossa paz e tranqüilidade. Em tuas mãos, já não cabem mais as presas. Que pretendes fazer com tanta riquezas, que somente aumentam a sede da tua cobiça e da tua ambição? Para ti, uma vitória é semente de novas guerras.
Podes perseguir os Citas, jamais conseguirás escravizá-los. Nossa pobreza e fragilidade nos fazem leves, enquanto tu terás que carregar o pesado fardo dos despojos das terras que pilhastes. Se és Deus, como tu mesmo dizes, apieda-te dos mortais. Se és homem, pensa realmente no que és. Deixa-nos em paz e seremos bons amigos, pois as mais sólidas amizades se fazem entre iguais e não te iludas em pensares ser amado pelos vencidos. Entre o Senhor e o Escravo não pode medrar nem crescer o fruto da amizade.
Saiba ainda que para selar uma aliança de paz conosco não há mister nem de juramento aos Deuses, pois aquele que não cumpre sua palavra de homem não tem escrúpulo de enganar aos Deuses."
Com este pronunciamento, o Cita desarmou o "Vencedor de Heróis", de toda a sua ganância conquistadora, tornaram-se amigos e o povo Cita foi poupado da guerra e da saga de Alexandre.
A MOBILIZAÇÃO NACIONAL, requer a participação de cada um, dentro da expectativa que possa dispor. Aqueles que podem pegar n'armas, que conduzam a peça bélica; aqueles que podem produzir munição, que executem a tarefa; aqueles que não podem trabalhar, que usem a energia disponível para incentivar os demais à luta, à defesa da pátria, à defesa da liberdade e da vida. Assim deve funcionar a MOBILIZAÇÃO NACIONAL: TODOS, DISPONDO DE TUDO.
O grande herói da independência americana, George Washington dizia: "que estar preparado para a guerra é um dos meios eficazes de conservar a paz".
O tema MOBILIZAÇÃO NACIONAL, não perdeu sua razão, pois continua mais do que nunca atual, ante o estado de coisas que contemplam a conjuntura mundial, como as guerras, os interesses hegemônicos e imperialistas, os olhares ambiciosos de parte da comunidade internacional sobre a Amazônia, a voracidade do tráfico de drogas e armas ou as ameaças guerrilheiras atuantes nas proximidades da fronteira Norte, que nos rodeia tão freqüentemente. Daí ser necessário que as posturas e políticas públicas sejam presentes para contemplá-la.
(Fonte: Discurso do Coronel PM Adail Bessa de Queiroz, por ocasião da conclusão do Curso de Mobilização Nacional, na Escola Superior de Guerra do Brasil, no Rio de Janeiro)
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