"Tenente brasileiro relata cenas de horror e resgate de colega de escombros no Haiti."
Ricardo Couto, Tenente da Polícia Militar pernambucana, contou pela internet como foi sua experiência durante e depois do terremoto que arrasou Porto Príncipe, a capital do Haiti. Ele faz parte da força de paz da ONU que está no país caribenho. Leia abaixo o relato resumido dele:
"Ontem, eu estava na base em Porto Príncipe quando por volta das 16h50 aconteceu o terremoto. Acreditem: nenhuma montanha russa, nenhum brinquedinho de gamestation poderá na minha vida superar a sensação que senti quando vi o mundo literalmente balançar na minha frente. Foi incrivelmente ridículo eu achar, em um primeiro momento, que estavam batendo com alguma coisa muito pesada no contêiner que eu estava. Paredes do contêiner viraram teto e vice -versa. Todas as coisas do escritório caiam em cima de mim, e comecei a tirar todos que ainda estavam lá dentro."
"Uma canadense estava colada ao chão de tanto medo. Tive que forçá-la a sair. Após isso, o tremor continuou e aumentou. De repente, ouvimos um barulho terrível que vinha do solo como se alguém estivesse jogando uma bomba na gente. Isso durou tempo suficiente para que toda a base fosse jogada de um lado para o outro bruscamente."
"Foi literalmente a pior sensação que já senti em minha vida, pois me senti totalmente inútil sem poder fazer nada diante da grandeza daquele fato. Após o choque, abrimos todos os procedimentos de segurança e liderei um comboio inteiro com o carro que estava sob minha responsabilidade em direção ao quartel do Comando Geral da Minustah [missão de estabilizadora das Nações Unidas no Haiti], porque até então existia uma boato que o prédio inteiro havia caído e que existiam muitos mortos nos escombros do edifício de seis andares. Quando fomos para o trânsito, o caos e o pânico estavam instalados. A população, em sua maioria estava nas ruas com medo de ficar em suas casas, tornando o trânsito por lá um verdadeiro inferno."
"Vi cenas que só vejo em filmes: crianças mortas nos braços de mães e pais que pediam ajuda quando viam nosso veículo, gente morta no meio da rua, casas completamente destruídas, lacerações gravíssimas, idosos necessitando de atenção médica urgente."
"Quando finalmente chegamos perto do hotel Christopher, sede da Minustah, tivemos que parar nosso comboio porque não tínhamos mais como passar pelos escombros. Então, decidi liderar o comboio a pé e me deparei com um pequeno holocausto haitiano. Não acreditava o que estava acontecendo: os seis andares cheios de pessoas haviam simplesmente sido reduzido a meros escombros que não chegavam à altura de um único andar."
"Em seguida soube que tinha um brasileiro a três ou quatro metros enterrado no chão dentro dos escombros. Ao tentar contato com a vítima soterrada até o pescoço com areia, pude perceber que na verdade era um oficial do exército brasileiro. Passamos quatros horas tentando tirá-lo como podíamos, sem meios, e para isso, tive que descer no meio dos escombros para ter acesso a uma pequena abertura que se encontrava em cima da cabeça dele, estando ele soterrado em posição fetal."
"Disse meu nome e, de imediato, ele começou a me chamar pedindo para que eu não o abandonasse. Falei que não se preocupasse pois só sairia dali de duas maneiras: com ele ou com ele!"
"Outro oficial estava soterrado, mas teve sorte e conseguiu ver uma luz e saiu por ela escavando com dificuldade. Ele me ajudou a tirar os materiais pra resgatá-lo juntamente com um contingente de excelentes soldados bolivianos, porém, como alguns já sabem, depois do terremoto, acontecem novos terremotos de grandeza menor que o primeiro e, quando eu estava dentro do buraco para tirá-lo, outros tremores aconteceram. Nessa hora, você só tem uma opção: rezar para não ser outra vítima."
"Depois de quatro horas e meia de muito trabalho em conjunto, conseguimos tirar o oficial do exército são e salvo de lá - tinha apenas escoriações na perna. Ele nasceu de novo naquele dia."
"A sensação de salvar uma pessoa nessa situação já é muito boa, mas imaginem quando essa pessoa se trata de um amigo e companheiro de farda em missão de paz? Nós nos abraçamos e choramos muito de alegria juntamente com todo o contingente boliviano. Foi realmente emocionante."
"Quando voltava para a base estava amanhecendo. Foi aí que vi realmente o que o terremoto tinha feito com o país. Foi simplesmente devastador. Não tenho palavras para descrever o que mais esse povo aguenta sofrer além de miséria, fome, violência."
"Não durmo há dois dias e meio e não lembro a última vez que me alimentei, porém não vou descansar enquanto não achar os corpos ou os sobreviventes de meus companheiros."
(Fonte: Uol)
Ricardo Couto, Tenente da Polícia Militar pernambucana, contou pela internet como foi sua experiência durante e depois do terremoto que arrasou Porto Príncipe, a capital do Haiti. Ele faz parte da força de paz da ONU que está no país caribenho. Leia abaixo o relato resumido dele:
"Ontem, eu estava na base em Porto Príncipe quando por volta das 16h50 aconteceu o terremoto. Acreditem: nenhuma montanha russa, nenhum brinquedinho de gamestation poderá na minha vida superar a sensação que senti quando vi o mundo literalmente balançar na minha frente. Foi incrivelmente ridículo eu achar, em um primeiro momento, que estavam batendo com alguma coisa muito pesada no contêiner que eu estava. Paredes do contêiner viraram teto e vice -versa. Todas as coisas do escritório caiam em cima de mim, e comecei a tirar todos que ainda estavam lá dentro."
"Uma canadense estava colada ao chão de tanto medo. Tive que forçá-la a sair. Após isso, o tremor continuou e aumentou. De repente, ouvimos um barulho terrível que vinha do solo como se alguém estivesse jogando uma bomba na gente. Isso durou tempo suficiente para que toda a base fosse jogada de um lado para o outro bruscamente."
"Foi literalmente a pior sensação que já senti em minha vida, pois me senti totalmente inútil sem poder fazer nada diante da grandeza daquele fato. Após o choque, abrimos todos os procedimentos de segurança e liderei um comboio inteiro com o carro que estava sob minha responsabilidade em direção ao quartel do Comando Geral da Minustah [missão de estabilizadora das Nações Unidas no Haiti], porque até então existia uma boato que o prédio inteiro havia caído e que existiam muitos mortos nos escombros do edifício de seis andares. Quando fomos para o trânsito, o caos e o pânico estavam instalados. A população, em sua maioria estava nas ruas com medo de ficar em suas casas, tornando o trânsito por lá um verdadeiro inferno."
"Vi cenas que só vejo em filmes: crianças mortas nos braços de mães e pais que pediam ajuda quando viam nosso veículo, gente morta no meio da rua, casas completamente destruídas, lacerações gravíssimas, idosos necessitando de atenção médica urgente."
"Quando finalmente chegamos perto do hotel Christopher, sede da Minustah, tivemos que parar nosso comboio porque não tínhamos mais como passar pelos escombros. Então, decidi liderar o comboio a pé e me deparei com um pequeno holocausto haitiano. Não acreditava o que estava acontecendo: os seis andares cheios de pessoas haviam simplesmente sido reduzido a meros escombros que não chegavam à altura de um único andar."
"Em seguida soube que tinha um brasileiro a três ou quatro metros enterrado no chão dentro dos escombros. Ao tentar contato com a vítima soterrada até o pescoço com areia, pude perceber que na verdade era um oficial do exército brasileiro. Passamos quatros horas tentando tirá-lo como podíamos, sem meios, e para isso, tive que descer no meio dos escombros para ter acesso a uma pequena abertura que se encontrava em cima da cabeça dele, estando ele soterrado em posição fetal."
"Disse meu nome e, de imediato, ele começou a me chamar pedindo para que eu não o abandonasse. Falei que não se preocupasse pois só sairia dali de duas maneiras: com ele ou com ele!"
"Outro oficial estava soterrado, mas teve sorte e conseguiu ver uma luz e saiu por ela escavando com dificuldade. Ele me ajudou a tirar os materiais pra resgatá-lo juntamente com um contingente de excelentes soldados bolivianos, porém, como alguns já sabem, depois do terremoto, acontecem novos terremotos de grandeza menor que o primeiro e, quando eu estava dentro do buraco para tirá-lo, outros tremores aconteceram. Nessa hora, você só tem uma opção: rezar para não ser outra vítima."
"Depois de quatro horas e meia de muito trabalho em conjunto, conseguimos tirar o oficial do exército são e salvo de lá - tinha apenas escoriações na perna. Ele nasceu de novo naquele dia."
"A sensação de salvar uma pessoa nessa situação já é muito boa, mas imaginem quando essa pessoa se trata de um amigo e companheiro de farda em missão de paz? Nós nos abraçamos e choramos muito de alegria juntamente com todo o contingente boliviano. Foi realmente emocionante."
"Quando voltava para a base estava amanhecendo. Foi aí que vi realmente o que o terremoto tinha feito com o país. Foi simplesmente devastador. Não tenho palavras para descrever o que mais esse povo aguenta sofrer além de miséria, fome, violência."
"Não durmo há dois dias e meio e não lembro a última vez que me alimentei, porém não vou descansar enquanto não achar os corpos ou os sobreviventes de meus companheiros."
(Fonte: Uol)
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