Na conversa, Santos explica para a atendente que dois motoqueiros estavam parados, “só de lho”, diz ele, por mais de cinco minutos. Ele detalha que os motoqueiros “não são moradores da rua. Estão parados há muito tempo e não tiram os capacetes da cabeça”.
A atendente pergunta se ele consegue visualizar os suspeitos. “Não. Não conheço. Estão com capacete na cabeça. Como é que eu vou saber?”, responde Santos. A atendente, então, insiste: “eu peço que o senhor tenha as características do indivíduo para me passar”. O comerciante responde: “está certo. Está bom. Tchau”.
A conversa foi gravada na última segunda-feira, por volta das 7h30. Três horas depois, Santos foi morto pelos motoqueiros com vários tiros. O problema: do outro lado da linha do 190 estava uma atendente de telemarketing que, segundo a Secretaria de Segurança Pública, não percebeu a gravidade da ocorrência.
“É um serviço de emergência e, infelizmente, tivemos um erro. A atendente não percebeu a gravidade. No entender da Secretaria, pela conversa gravada, ela pensou que fosse um trote”, afirmou Lucas Rodrigues Rosário, assessor de imprensa da Secretaria, em entrevista ao Ig.
Palestras
Segundo Rosário, o serviço foi terceirizado em maio de 2009. São 90 atendentes de uma empresa de telemarketing que se dividem em quatro turnos. Ele explica que os funcionários, responsáveis pelo primeiro atendimento à população, são treinados. “É uma capacitação de aproximadamente dois meses, com palestras e simulações de situação de emergência”, afirma. “Nas palestras, eles aprendem que é necessário preencher um protocolo para que a viatura não se desloque sem necessidade”, completou.
Com protocolo preenchido, um coordenador de operação recebe as informações e envia, se houver necessidade, uma viatura da polícia ao local da ocorrência. “O protocolo não foi finalizado. Então, a polícia não foi acionada”, diz Rosário, que enfatiza que já havia informação “suficiente para que a ligação fosse repassada”.
A Secretaria explica que, desde que o serviço foi terceirizado, foram atendidas cerca de 1,3 milhão de ligações na Grande Aracaju. “Nunca tivemos problema”, diz. A funcionária foi demitida.
Ainda de acordo com a Secretaria, por meio de sua assessoria de imprensa, apesar do erro, que resultou na morte do comerciante, não existe a possibilidade de uma mudança imediata no sistema de atendimento. O governo estuda abrir um concurso público para contratação de mais policiais. Hoje, são 5 mil policiais militares. “Se for realizado o concurso, poderemos deslocar alguns militares para trabalhar no 190”, disse Rosário.
R$ 80 mil
Santos, que era dono de uma distribuidora de bebidas, estava com R$ 80mil no caixa. No fim de semana anterior ao ocorrido, havia sido realizado o Precaju, carnaval fora de época, e o comerciante levaria o dinheiro ao banco."
(Fonte: Camila Nascimento - Ig)
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