O pai do recruta Marcelo Góes, de 18 anos, diz que o filho resistiu a torturas e alega que ele já recebeu menção honrosa em exercício de acampamento. Marcelo entrou no Exército em março do ano passado. Hoje, internado no hospital, diz que não consegue mais ter uma vida normal, acorda desesperado e assustado com o tratamento que teve durante exercício militar. Ele diz que quando levou a namorada em uma cerimônia destinada a familiares começaram os problemas.
O recruta afirma que durante dois meses ouviu o instrutor chamar sua namorada de gostosa. Quando denunciou o fato ao superior, um capitão, ele foi repreendido. A partir de então passou a ser perseguido pelo oficial a que estava subordinado.
Segundo o soldado, durante um exercício, um tenente sempre exigia dele bem mais do que era solicitado aos outros recrutas. Alguns soldados que fizeram o mesmo treinamento confirmam a versão. Góes era obrigado a fazer o dobro e com alguma dificuldade a mais, como tronco nas costas e até duas pessoas nas costas durante caminhadas e imersões em lamaçais.
Segundo o general Eduardo José Barbosa, que responde pela Chefia do Estado-Maior do Comando Militar do Oeste (CMO), tudo será investigado por meio de Inquérito Policial Militar para verificar até onde houve excesso. Em regra, os treinamentos exigem o máximo dos militares, para terem seus limites testados para todas as situações que podem ser enfrentadas na vida real e as pessoas não são preparadas para viverem sob pressão. O treinamento tem esse objetivo, de preparar.
- Na hora que eu fui rastejar eles (instrutores) pisaram sobre uma grade que havia em cima do buraco me afogando na lama. Eu fiquei em desespero. Engoli muito barro, muita lama, vomitei passei muito mal por semanas - diz o recruta Marcelo Góes.
Segundo o soldado, o tenente que pisou em suas costas é um homem grande, pesado. Depois de sofrer essa agressão, teria ficado com uma lesão na coluna e ainda está em tratamento.
- Pedi que parassem de me perseguir e quando eu disse que iria levar o caso ao Ministério Público eles diziam que no Exército não tem lei, o que manda é o regulamento disciplinar do Exército, ele não mudaria isso - disse.
O general Eduardo Barbosa afirma que são inaceitáveis tratamentos que excedam as normas de preparação de tropas, mas admite que é difícil dimensionar essas situações porque cada pessoa tem um limite.
Segundo o CMO, os militares que tenham desentendimentos ou que estejam sob investigação são afastados. Esse não é um caso isolado. Outros jovens denunciaram ter sofrido tortura, desrespeito e humilhação nos quartéis.
- Fiquei preso no obstáculo e o cabo começou a jogar lama na minha boca e falava cala a boca, cala a boca. Eu pedia ajuda e ele falava cala a boca e continuava jogando lama na minha boca. Fez eu comer lama e me chamou de preto nojento - diz outro recruta que reclama de excessos.
Na área do Comando Militar do Oeste , que abrange o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, são 13 mil militares do Exército. Em novembro, um treinamento de sobrevivência no Pantanal acabou tragicamente, com dois mortos. O cabo Diego Augusto Lima Leite, de 21 anos, passou mal. Ele fazia um treinamento no Pantanal. Era o quinto dia de exercícios.
Outro militar que também participou do exercício conta o que aconteceu. Todos tiveram que esvaziar o cantil e caminhar com as armas e caixas cheias de pedras. O cabo Diego carregava uma caixa menor, porém, mais pesada, além da mochila e o armamento. De repente, ele caiu em cima de um soldado.
Além do cabo, mais quatro militares se sentiram mal. O cabo foi socorrido e levado de helicóptero para o hospital, onde morreu horas depois. Outro soldado, Antônio José dos Santos Neto, também morreu. Os demais militares foram orientados a não contar nada, tudo que acontece no campo deveria 'morrer no campo'.
A "lei do silêncio" dificultou até a investigação policial, que precisava de informações dos primeiros atendimentos médicos feitos nos dois militares que morreram, segundo delegado de Corumbá.
Tanto as denúncias feitas pelo soldado de Campo Grande quando as mortes dos militares de Corumbá estão sendo investigadas. Nos dois casos foi pedida a prorrogação dos prazos para a entrega dos relatórios. Segundo as normas do Exército, se comprovados excessos os militares envolvidos podem ser punidos administrativamente. Uma transgressão disciplinar na ficha pode prejudicar toda a carreira de um militar."
(Fonte: TV Morena e O Globo)
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