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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SOMOS TODOS DEFICIENTES

"Chamamos deficientes os portadores de determinadas limitações físicas. Damos tanta ênfase aos defeitos alheios, que não perdemos a oportunidade de destacá-los. Podemos até omitir os nomes de pessoas fisicamente imperfeitas, mas não esquecemos de citar suas deficiências, quando os identificamos apenas como o mudo, o cego, o surdo ou simplesmente o aleijado.

Com medo que descubram nossos defeitos, vamos logo destacando os dos outros. Temos receio de que alguém ouça nossa voz tremer de vergonha ao disfarçar a fraqueza. Que constatem nossa cegueira às virtudes dos outros. Que comprovem a surdez, quando alguém reclama de nossos defeitos. Que somos paraplégicos quando tentamos fugir de nossas próprias deficiências espirituais.

Realmente são deficientes os que não ouvem, ou somos nós que, com perfeita audição, não ouvimos o clamor do irmão aflito, suplicando ajuda para amenizar suas dores?

Será que podemos chamar de deficientes os que não falam, ou somos nós que, possuindo vozes, calamos diante da injustiça? Que não defendemos os que são injuriados, e somente levantamos a voz para humilhar os indefesos e enaltecer os que detêm a força e o poder?

Será que de fato são deficientes os que não enxergam ou somos nós que gozamos do privilégio de ver a alegria do dia nascente e a poesia do pôr do sol e não temos a coragem de enxergar o irmão caído que estende os braços, confiando em nossa fortaleza física? Que fingimos ser cego quando não vemos nem combatemos a injustiça social e fechamos os olhos para que os desamparados continuem espancados, enquanto aplaudimos o vil agressor?

Será que são deficientes os que não caminham ou somos nós que, com pernas fortes, não marchamos ao encontro dos necessitados e em defesa dos que são injustiçados pela crueldade dos homens? Será que são deficientes os que não possuem braços para lutar e vencer ou somos nós cujas mãos não são capazes de fazer afago aos que choram grandes dores? Que temos braços fortes e não seguramos nem acalentamos crianças que choram o desprezo da sociedade perversa que lhes impõe a fome e a sede?

Há quem não entenda como Deus, com infinito poder e bondade, permite vir ao mundo pessoas com limitações físicas, que se arrastam mendigando ajuda. Se o Criador as fez singelas e fracas é porque confiou na generosidade dos que criou com toda a pujança da força física. Fez os mais fracos para ressaltar a grandiosidade de espírito dos mais fortes, a beleza da solidariedade, da fraternidade e da ajuda mútua.

Infelizmente, sem compreender a grandeza da criação divina, somos pobres deficientes, mutilados por um mundo que construímos de ódio, vingança e violência. Exigem-se construções de presídios é porque, indiferentes aos graves problemas sociais, esquecemos de edificar escolas e criar condições para que todos gozem de uma vida, mesmo modesta, mas digna de um ser humano. Se apavorados e intranqüilos pedimos proteção aos nossos tesouros é porque nos esquecemos de dividir um pouco do que possuímos, pagando salários justos aos que trabalham com honestidade ao invés de escravizá-los, num revoltante processo de degradação social. Somos vítimas dos monstros que criamos, alimentados por nossa maldade, ambição e avareza.

Nesse jogo em que ressaltamos os defeitos do próximo e vestimos de seda nosso corpo apodrecido desprezando o espírito de luz que Deus nos entregou, estamos construindo um mundo de revolta e violência. Um mundo que está ferido, agonizante, morrendo em nossos braços, crivado pelo punhal da maldade, vítima de nossos próprios erros."

(Fonte: João Eudes Costa, Escritor Quixadaense - Quixadá/CE)

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