"Um retrato perverso. Cento e dezessete brasileiros são assassinados por dia no País. Em dez anos, entre 1997 e 2007, 512,2 mil assassinatos. No ranking da violência, o País amarga a sexta posição, entre 91 pesquisados, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia, Guatemala, Ilhas Virgens e Venezuela. Os dados fazem parte do mais recente Mapa da Violência – estudo elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e único sobre o tema a abranger todos os Estados do País.
"Esses números são realmente surpreendentes até para nós que estudamos a violência. Porque é totalmente diferente do que se ouve falar do Brasil: um País pacífico, alegre, acolhedor", afirma Tião Santos, coordenador de projetos de segurança pública e juventude do Viva Rio. Exemplos em cidades fora do País e aqui mostram que é possível reverter, ou melhorar, este quadro. O caminho, dizem os especialistas, investimento na polícia e na qualidade de vida das pessoas.
Melhor qualidade de vida
Para Santos, a prioridade é trabalhar com políticas que deem fim ao abismo que separa pobres e ricos no País. “Embora tenha melhorado nos últimos anos, existe uma extrema desigualdade entre as classes sociais mais ricas e mais pobres no País”.
Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) neste ano mostram que cinco cidades brasileiras estão em as 20 mais desiguais do mundo. São elas: Goiânia (10.º lugar), Belo Horizonte (13.º), Fortaleza (13.º), Brasília (16.º) e Curitiba (17.º). Na América Latina, o Brasil, segundo estudo da ONU, é o país com maior distância social. O Rio, na 28.ª posição, e São Paulo, na 39.ª, também são cidades com alto índice de desigualdade, de acordo com o relatório.
O mexicano Eduardo Lopez Moreno, que coordenou o relatório que analisou 138 cidades em 63 países, também destaca que o vínculo entre desigualdade e criminalidade é direto. Diz ele: “cidade mais desigual gera muito mais problemas sociais. Estatisticamente, existe o vínculo”.
O Mapa da Violência é um exemplo. O estudo organizado pelo professor Waiselfisz, em comparações de diferentes índices, mostra que mais do que a pobreza absoluta ou generalizada, é a pobreza convivendo com a riqueza que teria maior poder de determinar altos níveis de homicídio em uma região.
Segundo o estudo, quase 48% da variação dos índices de homicídio total é explicado pela variação dos índices de concentração de renda. Mais ainda, diferentemente do que acontece com o indicador de pobreza, o referente à concentração da renda explica melhor os homicídios juvenis (50,7%). Em outras palavras, os jovens seriam mais afetados pelos diversos efeitos e manifestações da concentração de renda.
Parceria
Para Tião, os governos estaduais, municipais e federal precisam atuar juntos. "Trabalhar em conjunto. Não se trata mais da velha questão do Estado e da polícia. As pesquisas mostram que a segurança pública é o segundo tema mais importantes para os brasileiros hoje. Então se os municípios e os outros entes da federação aprenderem a trabalhar de maneira conjunta, eu acho que a gente tem muita chance de minimizar esse problema e diminuir esses índices".
O trabalho em conjunto também é citado pelo ex-secretario de Defesa Social de Pernambuco Servilho Paiva como modelo para começar a reverter os índices de homicídios que colocaram por vários anos o Estado e Recife no topo do ranking da violência no País. "Estamos no início de uma grande caminhada. A questão da violência não é apenas um problema da polícia”.
Investigar e prender
Já o delegado responsável pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Marco Antonio Desgualdo, defende que a atuação marcante das polícias é um forte inibidor da criminalidade.
Para Desgualdo, é preciso investimento no trabalho das polícias cientificas e na investigação de crimes, além da presença ostensiva dos policiais nas cidades. "Para combater os crimes precisamos de lógica, ciência e legislação, com fortalecimento da investigação. Mas não basta só esclarecer, tem que prender. Tem que ser preso na frente de todo mundo, algemado. Assim, é desmoralizado. A partir do momento que melhora investigação, a população sente a presença da polícia. O bandido já não olha com olhar arrogante e sorriso irônico, como se olhasse pra testemunha: 'ah, você sabe que fui eu? vai falar pra ver o que te acontece'. Ele sabe que vai ser preso"."
Os 10 Países com maiores índices de Homicídios no mundo (ONU - 2007):
1º) El Salvador (50.1 hom/100 mil hab.)
2º) Colômbia
3º) Guatemala
4º) Ilhas Virgens - EUA
5º) Venezuela
6º) Brasil (25.8 hom/100 mil hab.)
7º) Rússia
8º) Porto Rico
9º) Guiana
10º) Equador (16.9 hom/100 mil hab.)
Os 10 Países com menores índices de Homicídios no mundo (ONU - 2007):
1º) San Marino (ZERO hom/100 mil hab.)
2º) Islândia
3º) Ilhas Maldivas
4º) Granada
5º) Aruba
6º) Azerbaijão
7º) Hong Kong
8º) Cingapura
9º) Japão
10º) País de Gales (0.5 hom/100 mil hab.)
Os 10 Estados do Brasil com maiores índices de Homicídios (Mapa da Violência - Julio Jacobo Waiselfisz):
1º) Alagoas (59.6 hom/100 mil hab.)
2º) Espírito Santo
3º) Pernambuco
4º) Rio de Janeiro
5º) Distrito Federal
6º) Mato Grosso
7º) Pará
8º) Mato Grosso do Sul
9º) Paraná
10º) Roraima (27.9 hom/100 mil hab.)
As 10 Capitais de Estados do Brasil com maiores índices de Homicídios (Mapa da Violência - Julio Jacobo Waiselfisz):
1ª) Macéio (97.4 hom/100 mil hab.)
2ª) Recife
3ª) Vitória
4ª) João Pessoa
5ª) Porto Velho
6ª) Belo Horizonte
7ª) Salvador
8ª) Porto Alegre
9ª) Curitiba
10ª) Fortaleza (40.3 hom/100 mil hab.)
Desigualdades
- Fortaleza é a 1ª maior cidade dentre 184 Municípios no Ceará
- Fortaleza é a 4ª maior cidade dentre 5.563 Municípios no Brasil
- Fortaleza é a 80ª maior cidade dentre as quase dois milhões de cidades do Mundo
- Fortaleza é a 13ª Cidade mais desigual/injustiça social/concentração de renda do mundo.
(Fonte: Daniel Torres - iG, Yahoo)
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