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segunda-feira, 26 de abril de 2010

OS CAMINHOS CONTRA O CRIME

"Um retrato perverso. Cento e dezessete brasileiros são assassinados por dia no País. Em dez anos, entre 1997 e 2007, 512,2 mil assassinatos. No ranking da violência, o País amarga a sexta posição, entre 91 pesquisados, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia, Guatemala, Ilhas Virgens e Venezuela. Os dados fazem parte do mais recente Mapa da Violência – estudo elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e único sobre o tema a abranger todos os Estados do País.

"Esses números são realmente surpreendentes até para nós que estudamos a violência. Porque é totalmente diferente do que se ouve falar do Brasil: um País pacífico, alegre, acolhedor", afirma Tião Santos, coordenador de projetos de segurança pública e juventude do Viva Rio. Exemplos em cidades fora do País e aqui mostram que é possível reverter, ou melhorar, este quadro. O caminho, dizem os especialistas, investimento na polícia e na qualidade de vida das pessoas.

Melhor qualidade de vida

Para Santos, a prioridade é trabalhar com políticas que deem fim ao abismo que separa pobres e ricos no País. “Embora tenha melhorado nos últimos anos, existe uma extrema desigualdade entre as classes sociais mais ricas e mais pobres no País”.

Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) neste ano mostram que cinco cidades brasileiras estão em as 20 mais desiguais do mundo. São elas: Goiânia (10.º lugar), Belo Horizonte (13.º), Fortaleza (13.º), Brasília (16.º) e Curitiba (17.º). Na América Latina, o Brasil, segundo estudo da ONU, é o país com maior distância social. O Rio, na 28.ª posição, e São Paulo, na 39.ª, também são cidades com alto índice de desigualdade, de acordo com o relatório.

O mexicano Eduardo Lopez Moreno, que coordenou o relatório que analisou 138 cidades em 63 países, também destaca que o vínculo entre desigualdade e criminalidade é direto. Diz ele: “cidade mais desigual gera muito mais problemas sociais. Estatisticamente, existe o vínculo”.

O Mapa da Violência é um exemplo. O estudo organizado pelo professor Waiselfisz, em comparações de diferentes índices, mostra que mais do que a pobreza absoluta ou generalizada, é a pobreza convivendo com a riqueza que teria maior poder de determinar altos níveis de homicídio em uma região.

Segundo o estudo, quase 48% da variação dos índices de homicídio total é explicado pela variação dos índices de concentração de renda. Mais ainda, diferentemente do que acontece com o indicador de pobreza, o referente à concentração da renda explica melhor os homicídios juvenis (50,7%). Em outras palavras, os jovens seriam mais afetados pelos diversos efeitos e manifestações da concentração de renda.

Parceria

Para Tião, os governos estaduais, municipais e federal precisam atuar juntos. "Trabalhar em conjunto. Não se trata mais da velha questão do Estado e da polícia. As pesquisas mostram que a segurança pública é o segundo tema mais importantes para os brasileiros hoje. Então se os municípios e os outros entes da federação aprenderem a trabalhar de maneira conjunta, eu acho que a gente tem muita chance de minimizar esse problema e diminuir esses índices".

O trabalho em conjunto também é citado pelo ex-secretario de Defesa Social de Pernambuco Servilho Paiva como modelo para começar a reverter os índices de homicídios que colocaram por vários anos o Estado e Recife no topo do ranking da violência no País. "Estamos no início de uma grande caminhada. A questão da violência não é apenas um problema da polícia”.

Investigar e prender

Já o delegado responsável pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Marco Antonio Desgualdo, defende que a atuação marcante das polícias é um forte inibidor da criminalidade.

Para Desgualdo, é preciso investimento no trabalho das polícias cientificas e na investigação de crimes, além da presença ostensiva dos policiais nas cidades. "Para combater os crimes precisamos de lógica, ciência e legislação, com fortalecimento da investigação. Mas não basta só esclarecer, tem que prender. Tem que ser preso na frente de todo mundo, algemado. Assim, é desmoralizado. A partir do momento que melhora investigação, a população sente a presença da polícia. O bandido já não olha com olhar arrogante e sorriso irônico, como se olhasse pra testemunha: 'ah, você sabe que fui eu? vai falar pra ver o que te acontece'. Ele sabe que vai ser preso"."

Os 10 Países com maiores índices de Homicídios no mundo (ONU - 2007):

1º) El Salvador (50.1 hom/100 mil hab.)

2º) Colômbia

3º) Guatemala

4º) Ilhas Virgens - EUA

5º) Venezuela

6º) Brasil (25.8 hom/100 mil hab.)

7º) Rússia

8º) Porto Rico

9º) Guiana

10º) Equador (16.9 hom/100 mil hab.)

Os 10 Países com menores índices de Homicídios no mundo (ONU - 2007):

1º) San Marino (ZERO hom/100 mil hab.)

2º) Islândia

3º) Ilhas Maldivas

4º) Granada

5º) Aruba

6º) Azerbaijão

7º) Hong Kong

8º) Cingapura

9º) Japão

10º) País de Gales (0.5 hom/100 mil hab.)

Os 10 Estados do Brasil com maiores índices de Homicídios (Mapa da Violência - Julio Jacobo Waiselfisz):

1º) Alagoas (59.6 hom/100 mil hab.)

2º) Espírito Santo

3º) Pernambuco

4º) Rio de Janeiro

5º) Distrito Federal

6º) Mato Grosso

7º) Pará

8º) Mato Grosso do Sul

9º) Paraná

10º) Roraima (27.9 hom/100 mil hab.)

As 10 Capitais de Estados do Brasil com maiores índices de Homicídios (Mapa da Violência - Julio Jacobo Waiselfisz):

1ª) Macéio (97.4 hom/100 mil hab.)

2ª) Recife

3ª) Vitória

4ª) João Pessoa

5ª) Porto Velho

6ª) Belo Horizonte

7ª) Salvador

8ª) Porto Alegre

9ª) Curitiba

10ª) Fortaleza (40.3 hom/100 mil hab.)

Desigualdades

  • Fortaleza é a 1ª maior cidade dentre 184 Municípios no Ceará
  • Fortaleza é a 4ª maior cidade dentre 5.563 Municípios no Brasil
  • Fortaleza é a 80ª maior cidade dentre as quase dois milhões de cidades do Mundo
  • Fortaleza é a 13ª Cidade mais desigual/injustiça social/concentração de renda do mundo.

(Fonte: Daniel Torres - iG, Yahoo)

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