O fato novo desta pesquisa é que pela primeira vez a verde Marina Silva (10%) aparece na frente de Ciro Gomes (9%), cada vez mais enfraquecido dentro do seu próprio partido, o PSB _ um dado que reforça o caráter plebiscitário destas eleições polarizadas pela disputa acirrada entre PT e PSDB, como já aconteceu nas últimas quatro campanhas presidenciais, desde 1994.
Daqui a dez dias, quando a direção do PSB se reúne para definir o destino de Ciro Gomes, com a sua mais do que provável saída do páreo, teremos um quadro eleitoral praticamente definido, com Marina correndo por fora, não se sabe até onde, em busca de quem não quer mais PT nem PSDB, ao lado de uma penca de candidatos nanicos absolutamente inexpressivos.
Serra não só sai na frente, com uma confortável vantagem, mas mostrou até agora uma estratégia de campanha serena, que vem dando certo, com as decisões centralizadas nas suas mãos e nas de seu fiel marqueteiro Luiz Gonzalez, deixando em segundo plano as lideranças partidárias da aliança PSDB-DEM-PPS.
A começar pelo competente discurso de Brasília, o tucano é um curioso candidato de oposição que não faz oposição ao presidente Lula _ ao contrário, até elogia seu governo sempre que pode. Em entrevistas a rádios paulistanas amigas e breves incursões pelas ruas de Salvador e Maceió, limitou-se a falar do futuro, com o bordão “O Brasil pode mais”, e a bater de leve em Dilma, que ele já chegou a comparar com o falecido prefeito Celso Pitta, eleito por Paulo Maluf.
De outro lado, Dilma não foi feliz nos seus primeiros dias de campanha solo, entrando sem precisar em bolas divididas em Minas Gerais e no Ceará, tendo a toda hora que explicar declarações feitas no dia anterior, o que é altamente desgastante.
Ao contrário de Serra, que segue apenas as orientações de Gonzalez, está se formando um comando de campanha cada vez mais inchado a guiar os passos de Dilma, em todas as áreas, sem que até agora se perceba claramente qual será sua estratégia daqui para a frente, além de garantir que dará continuidade às conquistas do governo Lula.
Lula, aliás, só chegou à vitória em 2002, após três tentativas frustradas, quando pegou as rédeas da campanha nas mãos, desde o início, escalou o time que queria, definiu as alianças e deu o norte para todos.
Diante destes contrastes nos lances iniciais da campanha, até que o novo Datafolha apresenta também indicadores favoráveis à candidata do PT, como os números da pesquisa espontânea, em que ela aparece um ponto à frente de Serra (13 a 12), mas podendo acrescentar também os 7% que votariam em Lula, além dos 3% que declararam voto no “candidato do Lula”. Daria 23 a 12 para Dilma na espontânea, uma diferença maior a seu favor do que para Serra na pesquisa induzida.
Em sua análise publicada pela Folha, o colunista Josias de Souza chama a atenção para o que ele qualifica como “dado periférico da pesquisa”, que poderá fazer toda a diferença quando a fase decisiva da campanha começar na televisão, em agosto, após a Copa do Mundo:
“O Datafolha informa, desde dezembro, que há na praça algo como 14% de eleitores que reunem três características básicas. Declaram que, com certeza, votariam no candidato apoiado por Lula. Não são, ainda eleitores de Dilma. Nem sabem que ela é candidata. O grosso deste eleitorado está assentado no Nordeste. É gente pobre, com pouco ou nenhum acesso à informação”.
Donde o analista chega à seguinte conclusão:
“Pois bem, suponha-se que esses eleitores, ao tomar conhecimento da existência de Dilma, optem por votar nela. A candidata de Lula vai a 42%. Foi precisamente com esse percentual de votos (42%) que Lula prevaleceu sobre Serra no segundo turno de 2002″.
Claro que a esta altura cada campanha pode jogar com os números que lhe forem mais favoráveis, e o PT poderá optar pela polêmica pesquisa Sensus divulgada na última terça-feira, em que Serra e Dilma aparecem empatados: 32,7% e 32,4%, respectivamente.
O jogo está só começando e a cada semana daqui para a frente teremos novas pesquisas fazendo balançar a gangorra eleitoral. Os números de agora não definem nada, mas poderiam servir para que os candidatos e seus comandos de campanha corrijam rumos, acertem os discursos e errem menos. Uma eleição também se ganha, como já vimos tantas vezes, jogando no erro do adversário, mais do que nos próprios trunfos.
Na próxima semana, provavelmente na quarta-feira, o Ibope deverá divulgar nova pesquisa presidencial, desta vez encomendada pela Associação Comercial de São Paulo. Até lá, todos terão tempo para entender melhor o que dizem os números do Datafolha publicados hoje no jornal."
Seguem os números abaixo. Entre parênteses estão os percentuais da pesquisa anterior.
Cenário com Ciro Gomes
Serra (PSDB) – 38% (36%)
Dilma (PT) – 28% (27%)
Marina (PV) – 10% (8%)
Ciro (PSB) – 9% (11%)
Brancos e nulos – 7%
Indecisos- 8%
Cenário sem Ciro
Serra (PSDB) – 42%
Dilma (PT) – 30%
Marina (PV) - 12%
Brancos e nulos – 8%
Indecisos- 8%
(Fonte: Balaio do Kotscho - iG e Datafolha)
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