Com as mudanças da reforma eleitoral, o Brasil poderá viver algo parecido ao que se passou nos Estados Unidos em 2008 durante a campanha vitoriosa de Barack Obama à presidência. Na corrida eleitoral americana, os estrategistas do Partido Democrata jogaram luz sobre a mobilização de simpatizantes na internet e mostraram que a rede pode ser uma grande aliada para angariar votos e dinheiro. Para se eleger, Obama contou com a iniciativa de diversas pessoas não envolvidas oficialmente na campanha. Esses simpatizantes voluntários criaram vídeos e até mesmo redes sociais de apoio ao candidato democrata.
“Agora é a hora da rede social no Brasil”, afirma a estrategista de marketing político Cila Schulman, espécie de “animadora” da Rede PSDB, como ela mesma se apresenta. Cila é a pessoa que está por trás dos perfis oficiais da legenda tucana na internet. “Eu coloco um conteúdo, um vídeo ou uma matéria, por dia para debater nas redes. Procuro atrair as pessoas pelo seu próprio interesse. Animar é entender com quem você quer falar e sobre o que eles querem conversar”, diz. Rede PSDB é o nome dado aos diversos perfis virtuais do partido. Ao contrário do Partido Verde, que tem sua própria ferramenta de rede social, a Rede PV, os tucanos preferiram marcar presença nas comunidades já existentes. “As pessoas estão lá. No Orkut já têm comunidades bastante grandes, com 1 milhão de pessoas que apóiam o PSDB e que se solidificaram na campanha do Geraldo Alckmin”, afirma.
“A internet cada vez mais quebra a lógica de que o marqueteiro cria a imagem do candidato e a vende como um sabonete”. Carnevale, que foi coordenador da campanha de Fernando Gabeira à Prefeitura do Rio, lembra que, em 2008, 10 mil voluntários se cadastraram pela web. “Agora, o militante age silenciosamente, mandando e-mail para as famílias, para os amigos, um link...”. Nessa nova categoria de militância entra também o Twitter, microblog que reúne 8,7 milhões de brasileiros. Cerca de 150 mil twitteiros seguem o pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, ou @joseserra_. Em até 140 caracteres, o atual governador de São Paulo tem a chance de “quebrar o gelo” com seu eleitorado ao falar sobre seus netos ou revelar que curte rock’n roll. Para isso, Serra adotou “rs” como forma de expressar sua risada – embora seus seguidores considerem “rsrsrs” mais careta que “kkk”, “hahaha” ou “hehehe”. “Ele aprendeu a rir na internet. Entendeu que ali é para conversar, não é para ficar panfletando”, conta Cila. Para ela, Serra está no caminho certo. Ao contrário de Dilma Rousseff, a pré-candidata do PT. “Eu não vejo a Dilma tendo esse mesmo tipo de experiência, ela não fica conversando, brincando”. Para ajudar Dilma na tarefa de comunicar-se bem na internet, o PT contratou Ben Self, um dos responsáveis pelo marketing digital da campanha de Obama. No final de setembro desde ano, ele confirmou que já trabalha com a legenda para as eleições de 2010. Pouco mais de um mês depois, no dia 5 de novembro, o PT inaugurou seu novo site.
O secretário de Comunicação do partido, Gleber Naime, que liderou a reformulação da página, diz que quer “diversificar a apresentação de ideias, utilizando as redes sociais e colocando áudio e imagem para alcançar mais gente”. O site traz um link para a Comunidade PT, mas seu acesso é restrito a filiados. “O PT decidiu usar as redes sociais existentes, colocando lá nossas páginas oficiais. O que temos de exclusivo aos filiados é a Comunidade PT, um serviço corporativo para gerenciar as demandas internas”, explica Naime.
Os estrategistas concordam que ficar só na internet seria ineficaz. A televisão e o rádio continuarão sendo os grandes divulgadores das campanhas, pelo menos enquanto durar a obrigatoriedade do horário eleitoral gratuito. Além disso, as legendas vão explorar, em 2010, a biografia de seus candidatos, seja na internet, na TV, no rádio ou nas ruas. “Não vão ser as ferramentas que vão transformar alguém, ou fazer o mesmo sucesso que o Obama. A internet nos Estados Unidos é muito diferente. É muito difícil transpor isso imediatamente”, defende Carnevale.
Doações pela internet
A reforma eleitoral permite que, em 2010, os partidos usem a rede também para receber doações, inclusive com cartão de crédito. Está claro para os estrategistas brasileiros que o chamado “efeito Obama” de micro-financiamento não vai se repetir no País. Em 2008, Obama arrecadou US$ 600 milhões, sendo que US$ 500 milhões foram só pela internet. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva angariou, em 2006, quando doações online ainda não eram permitidas, R$ 90 milhões, 10 vezes menos que seu colega americano. No Brasil, os especialistas acreditam que, no máximo, a mudança na lei brasileira abrirá mais uma opção de arrecadação para as legendas.
O PV já lançou seu site de arrecadação, dentro do projeto Brasil Sustentável. “Não acredito que teremos muitas doações porque o Brasil não tem essa cultura. As pessoas têm muita desconfiança na política. O site é mais voltado para os filiados e simpatizantes”, explica Carnevale. Se cada um dos 259.794 filiados depositar o mínimo pedido pelo partido para cobrir os custos da operação, R$ 20, a legenda receberá mais de R$ 5 milhões.
O PSDB também vai incentivar as doações online, mas ainda não definiu como. “O PSDB sem dúvida vai encontrar uma forma de implantar isso”, diz a estrategista do partido. A ideia, mais do que arrecadar dinheiro, é mobilizar os simpatizantes, segundo Cila. “É uma forma de participação. A grande questão do financiamento aqui vai ser a confiança. Por outro lado, tem uma boa parcela que vai querer dar uma contribuição porque é um ato de cidadania, é uma demonstração de que você quer ajudar aquele candidato”.
Já o PT, por enquanto, não tem projeto de arrecadar dinheiro via internet. De acordo com o secretário de Comunicação do partido, a reforma eleitoral deixou a desejar no quesito financiamento. “Infelizmente o Congresso não legislou como defendíamos. As contribuições continuarão restritivas na internet”, afirma. Ao falar em restrições, a legenda critica a obrigatoriedade de emissão de “recibo, em formulário impresso ou em formulário eletrônico, no caso de doação via internet”, como estabelece a lei."
(Fonte: Nara Alves - Ig)
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