RELAÇÕES SUPERIORES-SUBORDINADOS E A RESPONSABILIDADE DOS LÍDERES MILITARES

O conhecimento recíproco entre superior e subordinado representa uma tendência que marca a evolução do conceito de chefia e liderança no seio das organizações militares. Tendência esta também verificada nos meios civis, como tradução de uma política pessoal onde o exemplo é uma condição de êxito e os chefes vão fugindo daquele caráter longínquo, coletivo e anônimo.

Necessário se faz restabelecer, ainda que indiretamente, a importância dos contatos entre superiores e subordinados, que eram verificados, antigamente, nos meios militares e, no decorrer do tempo, foram tornando‑se, progressivamente, mais difíceis.

Acerca disso, dizia o coronel J. B. Magalhães, sobre a importância das relações humanas entre superior e subordinado:

“Alexandre era o melhor combatente do seu exército, Aníbal, Mário, César, Pompeu, Cirião e tantos outros, possuíam todos o respeito dos subordinados por serem capazes de combater e de praticar todos os atos da vida em campanha tão bem ou melhor que eles."

O chefe e seus subordinados não devem guardar entre si distâncias muito consideráveis. Devem haver, freqüentemente, contatos diretos. Hoje, entretanto, entre os altos chefes e os mais modestos subordinados, medeiam espaços imensos e inúmeros intermediários. Os contatos diretos, sempre necessários e que os hábeis comandantes nunca desprezam, tornaram‑se raros e sutis; o chefe moderno precisa possuir acentuada capacidade de agir à distância e de influenciar a multidão, seja estabelecendo diretamente relações íntimas com a alma coletiva, seja dirigindo‑se aos próprios indivíduos para, por intermédio deles, considerados isoladamente, atingir a multidão.

A responsabilidade dos líderes militares

A responsabilidade dos líderes militares é de envidar, por todos os meios, esforços que restabeleçam aqueles contatos, de tal forma que se torne impossível o surgimento do caráter longínquo, coletivo e anônimo das chefias de hoje, talvez maior de todos os obstáculos a uma salutar convivência entre superiores e subordinados.

A atualidade nos remete a uma premente necessidade de aplicação de mudanças nas relações entre superiores e subordinados nas Polícias Militares, buscando uma melhora no nível do serviço prestado e na qualidade de vida dos nossos subordinados.

Vale ressaltar ainda que, pelo fato de se conhecer a necessidade de mudança nas organizações, verifica‑se que mesmo nos meios militares há um grande sentido, eminentemente democrático, na atuação dos líderes, embora não sendo a maioria.

Oportuno se torna, indagar a respeito do fato de ser “a disciplina, vigia mestra da organização militar, compatível com a liderança democrática”. Cremos não haver qualquer incompatibilidade pois, democracia nada tem a ver com desordem ou falta de disciplina.

Há quem pense que o comando, para ser eficiente, basta apoiar‑se na força de sua autoridade. Passou a era do chefe autoritário, com o advento do chefe democrático, condutor de seres humanos, com suas paixões, ambições, que podem ser estimuladas, nervos que podem ser abalados, orgulho que pode ser recalcado e esperanças que podem ser realizadas. Nos dias que correm, o chefe deve ser o líder, cuja eficiência repousa na disciplina, mas também na lei moral, na compreensão e na motivação.

O líder não exige obediência sem uma explanação prévia. Estimula a iniciativa, encoraja a cooperação em vez da operação; equaciona problemas, focaliza meios para a solução. Pede a seus subordinados que o conduzam a partir daquele ponto. O líder aceita apropriadamente, conselhos de seus subordinados, porém, jamais lhes transferindo a responsabilidade das decisões.

Assim, entendemos que tanto as situações como os grupos variam; os líderes, também. Portanto, um líder não pode assumir uma determinada postura e eternizá‑la. Mas, ao contrário ele deve assumir uma posição adequada sempre levando em consideração o tipo de tarefa a ser executada, as pessoas lideradas e a situação a ser enfrentada. Por isto, comumente afirmamos que o êxito do líder e de seus liderados está diretamente ligada ao estilo de liderança adotado.

(Fonte: Temas de Chefia & Liderança - Adail Bessa de Queiroz et alli)