Eles participaram de um confronto com a PF, no último dia 2, em uma região que compreende parte dos municípios baianos de Ilhéus, Buerarema e Una, local da fazenda.
Os ferimentos dos índios foram avaliados em um exame de corpo de delito realizado quatro dias depois do confronto pelo Departamento de Polícia Técnica da Polícia Civil do Distrito Federal, para onde os cinco foram levados para depor.
A Folha também teve acesso ao documento, que confirma choques elétricos no pênis de um dos índios e na região lombar de dois deles.
Segundo o laudo, as lesões "elétricas", exibidas em fotos, foram "provocadas por meio cruel". "As lesões em par descritas são, portanto, típicas desse tipo de instrumento, ou seja, são geralmente encontradas em casos desse tipo de trauma [provocado por choques elétricos]", diz o texto, assinado por dois peritos.
A Polícia Federal afirma ter usado um instrumento de choque, chamado taser, para imobilizar os índios, que, segundo o órgão, estavam com facões e resistiram à prisão.
Um inquérito foi aberto para apurar o caso e será acompanhado pela Procuradoria da República em Ilhéus.
Relatos
Não há notícias anteriores, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, de índios torturados pela Polícia Federal.
O relato dos índios à procuradora Luciana Loureiro Oliveira é uniforme. Disseram que faziam parte de um grupo de 80 índios que invadiram a fazenda localizada em uma área reconhecida pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em abril como terra indígena.
Contaram que a PF (seriam de 10 a 15 homens), acompanhada do proprietário do local, os abordou com violência. A PF diz que 13 homens participaram da ação, oito deles integrantes do Comando de Operação Táticas, a tropa de elite da corporação.
Com exceção dos cinco detidos, os índios conseguiram fugir, como também relatou a polícia. Os cinco dizem que receberam gás de pimenta nos olhos e foram imobilizados.
Depois, teriam sido levados para uma casa de secagem de cacau na fazenda, onde teria ocorrido a tortura. "Não dava para ver qual era o instrumento do choque, mas dava para sentir o corpo todo tremendo", disse um dos índios no depoimento ao Ministério Público.
Os índios disseram que foram depois levados para a delegacia de Ilhéus, onde prestaram depoimento antes de serem liberados.
Conflitos
O sul da Bahia tem um histórico de conflitos envolvendo índios, principalmente das etnias pataxó, pataxó hã-hã-hãe e tupinambá. Um dos casos notórios ocorreu em Porto Seguro, em 2000, durante as comemoração dos 500 anos do Brasil.
Há pelo menos dez anos os tupinambás reivindicam a demarcação e a posterior homologação daquela faixa de terra como indígena, sob resistência dos produtores locais. Estima-se que na área, de 47 mil hectares, haja mais de 500 propriedades, entre pequenas chácaras, fazendas (de gado e cacau, por exemplo) e empreendimentos turísticos.
Nos últimos meses, os conflitos se acirraram a partir do reconhecimento da região como indígena. O processo contudo, está em trâmite, faltando ainda os processos de demarcação e homologação --último passo para a conclusão.
Outro lado
A Polícia Federal afirma que não tem conhecimento de tortura ou excessos na abordagem dos policiais aos índios que invadiram a fazenda em Una (BA), mas diz que um inquérito, a ser acompanhado pelo Ministério Público Federal, foi instaurado para apurar o caso.
Segundo a corporação, todas as armas utilizadas na ação foram não letais. O chefe da delegacia da PF em Ilhéus, Cristiano Barbosa, diz que os policiais empregaram "uso progressivo da força" porque os indígenas, armados de facões, resistiram.
Barbosa e o delegado Fábio Marques, responsável pelas questões indígenas, não estiveram na fazenda. Cinco policiais da delegacia foram destacados para acompanhar um grupo de oito policiais do Comando de Operação Táticas.
A instituição disse que os policiais utilizaram um instrumento semelhante a uma pistola, chamado taser, arma que emite choques. "Eles [índios] transformaram a utilização do taser, que dá choque, utilizado por todas as polícias do mundo, em tortura", afirma Barbosa.
Quando foram levados para a delegacia de Ilhéus, disseram os policiais, nenhum dos índios reclamou de excesso ou afirmaram ter sido torturados.
Questionado sobre as marcas de lesões na região lombar e no pênis de um dos índios, o chefe da delegacia de Ilhéus diz que elas podem ser resultado de confronto. "Infelizmente, é parte do combate. Se na hora da luta, da briga corporal, vai pegar no braço e escorregar no peito, ou se vai pegar na perna, escorregar, e pegar no pênis, essa é outra discussão. Na hora em que está envolvido, é difícil de saber."
De acordo com os dois policiais, há vários inquéritos contra índios da região na delegacia da PF em Ilhéus.
"Já não é aquele pessoal que está lutando pela causa indígena, gentil e dócil. Há um histórico de crimes, de incêndios em fazendas. O cenário não é de indiozinhos que estão lá querendo plantar e colher. Diante disso, a PF agiu como tinha que agir", afirmou Barbosa.
A PF suspeita de que índios tupinambás sejam os responsáveis pelo assassinato de um funcionário da mesma fazenda invadida, cujo corpo, com marcas de facão, foi encontrado no último dia 26. O caso ainda está em investigação."
(Fonte: Folha online e Uol)
Tem que devolver as terras para os Tupinambas... tudo aqui era deles antes dos invasores portugueses chegarem, e hoje temos que reconhecer o direito deles na terra.
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