"Como se não bastassem os salários defasados e a carga horária exaustiva, os policiais militares do Ceará enfrentam, agora, mais uma grande dificuldade em suas vidas. Desde o último dia 25 foram suspensas as consignações em folha de pagamento para a compra de medicamentos, alimentos e fardamentos, além de outros serviços que eram prestados à tropa pela Caixa Beneficente dos Militares do Ceará (Cabemce). "Isso chegou para nós como um ´tsunami´. Vamos morrer por inanição", declarou emocionado, em entrevista ao Diário do Nordeste, ontem, o coronel PM Maurício Cruz, presidente da CABEMCE.
A instituição tem 71 anos e conta hoje com um total de 18.500 associados. No dia 25 de maio, foi publicado no Diário Oficial do Estado um Decreto que regulamenta os descontos em folha de pagamento dos servidores públicos estaduais. A partir do decreto e até o cadastramento das consignatárias, ficaram suspensas novas implantações de consignação. Isso significa que, a partir daquele dia, os policiais militares não poderão mais fazer compras no pequeno supermercado da CABEMCE, ou na farmácia conveniada, com desconto em folha. “Ninguém foi avisado ou se preparou. Não houve um prazo para nos ajustarmos. Simplesmente fomos pegos de surpresa, assim como os servidores. Então tem muita gente chegando aqui sem saber. Gente que fica desesperada quando descobre que só estamos vendendo à vista”, contou o coronel.
Segundo Cruz, como a CABEMCE não foi informada de que isso ia ocorrer, investiu mais de R$1 milhão em estoque de alimentos que seriam vendidos, em consignação, para os militares e seus familiares. “Nos três primeiros dias do mês, tínhamos uma movimentação de cerca de três mil pessoas aqui. Agora, não tem ninguém. Lamentavelmente, já estamos tendo até que jogar fora alimentos perecíveis. Há mais de 25 anos trabalhávamos desta forma e muitos policiais, especialmente os que têm menos condições, contavam com este benefício. Já recebemos aqui policiais e familiares chorando, sem ter como comprar à vista”, lamentou o coronel.
Ontem pela manhã, no momento em que a equipe de reportagem visitava o pequeno supermercado da CABEMCE, vazio, uma senhora chegou sem saber da mudança. Ao ser informada de que as vendas só poderiam ser feitas à vista - embora com desconto - ela começou a chorar. “Ia fazer as compras para o mês. Não precisava ter dinheiro na mão, o desconto só vinha no fim do mês. Vamos ficar sem comida”, disse. De acordo com o coronel Maurício, outras várias pessoas tiveram a mesma reação nestes três primeiros dias do mês. Há outros problemas por vir.
A Creche-Escola Tiradentes, que tem atualmente tem 74 filhos de associados da CABEMCE, pagando mensalidades bem abaixo do mercado, corre o risco de fechar. “Não vamos ter como mantê-la. Pagamos uma média de R$ 105 mil em pecúlios e auxílio-funeral todos os meses, vamos ter que cortar outros gastos”, afirmou o presidente da CABEMCE. A creche abriga crianças de idade entre dois e cinco anos, e oferece três refeições para as que ficam em período integral. Além disso, mantém acompanhamento nutricional e odontológico."
(Fonte: Diário do Nordeste)
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