“A bandeira do arco-íris anunciava o protesto. Era o sinal colorido para que cerca de 30 pessoas acompanhasse o beijo entre casais homossexuais à beira das piscinas do Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como Água Mineral. O beijaço, como foi chamado o movimento, protestou, na tarde dese sábado (23/05), contra um ato homofóbico ocorrido no parque no último dia 14.
A estudante Marina Magalhães, 21 anos, a namorada Tamara Barreto, 24 anos, e uma amiga de 20, realizavam um trabalho de faculdade, por volta das 11h, quando ouviram comentários preconceituosos de um homem e uma mulher ao verem um outro casal de lésbicas trocando carícias. "Diziam coisas do tipo: ‘aquela ali é o homem da relação’ e ‘mulher com mulher até que vai, mas homem com homem é horripilante’", relembra Marina Magalhães.
O casal de lésbicas não se calou. A discussão entre os grupos e outros frequentadores do parque chamou a atenção de funcionários do local que tentaram apaziguar a situação. Mas, indignadas, Marina e Tamara chamaram a polícia. Um relatório sobre o caso foi assinado pelos envolvidos. O boletim de ocorrência não foi feito porque a mulher, que seria a responsável pelos comentários homofóbicos, foi embora do local e não pode ser identificada.
O protesto foi organizado, inicialmente, por Marina, Tamara e Joana*, que não quis revelar o nome verdadeiro. "A manifestação representa a luta pelos nossos direitos. O que aconteceu aquele dia é injúria. Todo mundo tem a sua opinião. Mas, a partir do momento que ela atinge o próximo, é melhor que fique guardada", protesta Tamara Barreto. "Temos o mesmo direito de qualquer casal heterossexual. Não queremos que ninguém ache bonito ou concorde com nossa orientação, e sim, que nos respeite", defende Marina Magalhães.
Além da ajuda dos amigos na divulgação, o beijaço contou com divulgação na internet e apoio de entidades como a Federação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Distrito Federal e Entorno. "Impedir a afetividade entre os casais é uma forma de violência. O movimento é de grande importância. Mas, vale lembrar que o preconceito só diminui quando há políticas e projetos que busquem preveni-lo", diz Jaques Jesus, presidente da federação. Ele aderiu ao movimento acompanhado do namorado Ricardo Diniz, 49 anos.
A direção do parque acompanhou o Beijaço e manifestou oficialmente repúdio a toda e qualquer forma de preconceito, como o ocorrido no dia 14 deste mês. "Aqui é um espaço público. As pessoas podem aproveitá-lo do jeito que quiserem, desde que respeitem as normas de preservação e funcionamento do parque. Vale lembrar que o preconceito partiu de visitantes e não de nossos funcionários", afirma Marina Helena Reinhardt, chefe do Parque Nacional de Brasília, gerido pelo Instituto Chico Mendes.
Paz e amor
De acordo com o decreto 84.017 de 1979 é expressamente proibida manifestações dentro da unidade de conservação ou outras formas de comunicação audio-visual como bandeiras, faixas e cartazes de protesto. A bandeira do arco-íris, símbolo mais conhecido da comunidade gay, e o cartaz escrito Homofobia mata, tiveram que ser guardados na mochila dos participantes. Mas isso não tirou o brilho, e muito menos, o fôlego dos casais homossexuais que beijaram muito nas intermediações do local.
Luis Gustavo Oliveira, 19 anos, e Noberto Amado, 26 anos, deram um banho no preconceito de quem visitava o parque, literalmente. Caíram na piscina de água mineral e não economizaram. "Nunca me preocupei com os outros. Ainda mais agora. Na semana passada, contei para minha mãe que eu era gay e nada mudou", comemora.
Reações diversas
Márcio José Brum, 31 anos, e Sheila Souza, 32 anos, visitavam a Água Mineral no momento do beijaço na tarde deste sábado. E não tiveram nenhum constrangimento em permanecer no local. "Cada um tem a sua opção e isso não muda nada. Temos que respeitar as pessoas", destaca Sheila, auxiliar administrativa.
Técnico em agropecuária, Márcio aprendeu a respeitar a orientação sexual com os amigos. "Tenho amigos gays. E a gente percebe que a diferença não existe. Somos todos iguais", ressalta.
O policial militar Wendel Marinho, 29 anos, respeita o movimento. No entanto, faz questão de deixar claro: "Respeito sim, mas sou cabra macho! Acho meio esquisito esses caras se beijando. Mas cada um é feliz do jeito que quer", completa.
Taniel Costa, também policial militar, concorda com o amigo. "A sociedade não está preparada para isso. Aqui é um parque. Há crianças que frequentam o local. Ver um casal gay se beijando pode confundi-las", diz.”
(Fonte: Correio Braziliense)
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