"A Candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff apresentou em seu programa eleitoral um hospital que funciona precariamente. Inaugurado às pressas na última semana pelo governo baiano, o Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana, na Bahia, consumiu quase um minuto do horário eleitoral gratuito da última terça. Segundo a direção da própria unidade de saúde, apenas 27 leitos do Pronto Atendimento estão aptos a receber pacientes. O edital previa 180 no primeiro ano de funcionamento e 250 até o segundo. Os centros cirúrgicos, anunciados como especialidade da unidade, ainda não podem ser usados. Equipamentos, como o tomógrafo, não chegaram. Foram investidos R$ 60 milhões na obra, administrada por uma organização não governamental.
“Eu acho que hospital tinha que ser dessa qualidade aqui. Acho que é um padrão que a gente quer buscar para todos os hospitais”, diz a ex-ministra da Casa Civil no vídeo, depois de serem exibidas imagens internas do local. As áreas estão fechadas e os equipamentos estão parados.
Na sequência, Dilma pergunta: “Como é que você se sente em relação ao hospital? Vocês que trabalham aqui?”. O questionamento é feito para o diretor do Instituto Sócrates Guanães, vencedor da licitação para comandar o hospital, e para Renan Araújo, funcionário da Secretaria de Saúde. Os dois são apresentados apenas como médicos. Araújo diz que “é uma satisfação mudar um paradigma e fazer uma construção da melhor qualidade, com todos os equipamentos necessários para o atendimento completo e humanizado”. Já Guanães afirma que “não há nada de melhor e mais avançado para a segurança do paciente”.
Espera
Apesar de o programa de Dilma exibir profissionais na unidade, faltam servidores. Ontem, de acordo com informações da recepção, apenas um pediatra e um ortopedista estavam no local, que deveria ser “o mais moderno hospital (Planos remodelados) infantil do país”. O número contraria a informação do comando do HEC, de que a equipe atual era formada por um ortopedista, um cirurgião-geral, um cirurgião muco-maxilar, três cirurgiões-pediátricos e um anestesista. Durante a manhã, a fila de espera era de 10 pacientes. No Hospital Geral Clériston Andrade, congestionado com a demanda da segunda maior cidade da Bahia e dos arredores, os funcionários ainda não orientam os pacientes a procurarem a nova unidade. “Ninguém sabe se está funcionando”, disse uma enfermeira que preferiu não se identificar.
De acordo com o material de divulgação, o HEC é a maior unidade do Norte e do Nordeste e a previsão é que realize 48 mil consultas, 24,3 mil cirurgias e 8.172 internações no primeiro ano, além de gerar 700 empregos diretos. Entre as especialidades estão oncologia, nefrologia, cardiologia e UTI. Cirurgias cardíacas e tratamento de oncologia, contudo, só a partir de 2012. “Essa primeira fase é assim. Os profissionais precisam fazer treinamento, conhecer a planta do hospital, os equipamentos. É processo natural”, disse André Guanães.
Aliado do governo Lula, o candidato à reeleição no governo da Bahia, Jaques Wagner, tenta colar a obra na sua gestão. Segundo a campanha petista no estado, o governador investiu R$ 94,2 milhões em três hospitais públicos no interior do estado. O presidente Lula e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, iriam participar da cerimônia de inauguração. Porém, o mau tempo atrapalhou os planos do candidato.
"Essa primeira fase é assim. Os profissionais precisam fazer treinamento, conhecer os equipamentos. É natural” - André Guanaes, vencedor da licitação para construir o hospital.
Sem dedo de Lula
Presidenciável entre as crianças: creche perto do Varjão se mantém sem qualquer incentivo governamental.
As crianças da creche Dona Diva nunca vão esquecer o dia em que a candidata Dilma Rousseff desceu de helicóptero no terreno baldio ao lado, no Núcleo Rural Córrego do Palha, perto do Varjão. A ex-ministra ficou duas horas gravando cenas para o seu programa no horário eleitoral gratuito. Na TV, mostrou uma creche modelo, igualzinha às que promete ajudar no seu governo, se eleita for. O local é realmente bem cuidado, colorido, limpo. Conta com instalações simples, mas acolhedoras. Em nada, porém, depende do poder público. Vive das doações de voluntários. Há dias em que resta apenas um quilo de açúcar na despensa. Após oito anos no governo Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma descobriu a creche modelo. Justamente quando anda atrás de votos.
A creche foi construída e é mantida pela servidora pública Ana Paula Soares, 37 anos. Em 2007, ela pegou as economias que havia juntado com o marido para comprar um apartamento (R$ 60 mil), conseguiu um terreno doado e construiu a casa que hoje abriga 50 crianças, sem contar as que aparecem para fazer refeições diárias. Quatro monitoras tomam conta de crianças de seis meses a 12 anos, todas filhas de mulheres humildes que trabalham fora, a maior parte como doméstica. O gesto de Ana Paula foi uma homenagem à sua mãe adotiva, Diva Martins, que a acolheu aos três meses de vida, apesar de já ter 12 filhos.
“Esta creche é um agradecimento à minha mãe, um agradecimento pela vida que recebi”, conta Ana Paula, que ainda hoje mora num apartamento alugado na Asa Norte. Ela fez magistério e foi aprovada em concurso público para a Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal. Está cedida há vários anos para a Câmara dos Deputados. Hoje, está lotada no gabinete do deputado Antônio Palocci (PT-SP), coordenador da campanha de Dilma. Mas Ana afirma que não foi esse o motivo da escolha da sua creche. “Quem escolheu foi a equipe de produção da candidata. O meu trabalho nada tem a ver com a creche. A sua manutenção é garantida por ajuda voluntária de pessoas amigas e de empresas”, conta.
No dormitório, que conta com somente uma janela, há apenas colchonetes. Camas ocupariam muito espaço. Os livros da pequena biblioteca foram cedidos pelo projeto Casa do Saber. De vez em quando, as crianças vão ao teatro. A dispensa vive uma fase de fartura. Não se sabe até quando. Os banheiros são limpos, iluminados, como a casa e os olhos das crianças que ali passam os dias.
Gravação na greve
Cenas de campanha para televisão da candidata do PT à Presidência gravadas dentro da biblioteca da Universidade de Brasília causaram descontentamento entre os alunos da instituição. O edifício está fechado desde março deste ano por conta da greve dos servidores. Alunos estão impedidos de consultar e emprestar livros ou mesmo de estudar no ambiente. Mesmo com a restrição, a gravação foi autorizada pela reitoria da universidade e pela diretoria da biblioteca.
De acordo com o chefe de gabinete da reitoria, Wellington de Almeida, diversos partidos fizeram pedidos para gravações dentro das dependências da fundação e a nenhum deles foi negado acesso. “Talvez tenha faltado um filtro na seleção dos locais onde as gravações foram autorizadas, já que os alunos estão sem acesso total à biblioteca”, afirmou. Segundo Sely de Souza, diretora da Biblioteca, no prédio são realizados eventos específicos marcados com antecedência, como aulas de professores e uso do auditório. “Quem limita o acesso dos alunos e o funcionamento dos serviço prestados é o sindicato. Ele alega que, em função da greve, não existem funcionários suficientes para controlar o fluxo de alunos”, explica.
Coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Cosmo Balbino diz desconhecer a realização de filmagens para campanhas políticas, mas defende o uso do espaço. “A universidade é patrimônio público. Não deve haver restrições”, afirma.
Há vinte dias, os alunos da universidade podem pedir e devolver livros pela porta dos fundos da biblioteca, mas sem acesso direto ao acervo. Amanda de Oliveira, 19 anos, estudante de farmácia, sentiu falta do espaço para estudo durante o semestre e reclama da restrição imposta aos alunos. “Se uma equipe de filmagem pode entrar na biblioteca, os alunos também deveriam poder. Mas independentemente disso, a questão da greve precisa ser resolvida”, lamenta.
Flávio Silva, 22 anos, aluno de comunicação social, também se sentiu prejudicado: “Acho que não deve haver flexibilização. Se os estudantes não podem usar o espaço, ninguém mais pode”. Ele tinha três livros para serem devolvidos e não teve como fazê-lo até a abertura parcial da biblioteca. Para que as filmagens fossem realizadas, dois servidores da UnB ficaram designados para acompanhar a equipe da produtora. Procurado por esta reportagem, o comitê responsável pela campanha da candidata não quis se pronunciar. Quem limita o acesso dos alunos é o sindicato. Ele alega que não existem funcionários suficientes - Sely de Souza, diretora da Biblioteca da UnB."
(Fonte: Correio Braziliense. Lúcio Vaz - Instituto Dona Diva. Via e-mail da Regina)