A Conferência Internacional “South America Water from Space II” é
organizada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em parceria com o
Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento da França (IRD), a Agência
Espacial Francesa (CNES) e a Universidade Estadual do Amazonas (UEA). A
tecnologia espacial via satélites tem sido utilizada para contribuir com
o monitoramento hidrológico no Brasil desde 2008, principalmente, em
áreas transfronteiriças e de difícil acesso. Pesquisadores da Europa,
Estados Unidos e América do Sul estarão reunidos em busca de integração,
entre os dias 4 e 7 de novembro, em Manaus, para que possam desenvolver
a missão espacial SWOT (Surface Water & Ocean Topography), que será
lançada em 2021. A CPRM faz parte da equipe científica de
desenvolvimento dessa missão.
A programação do evento contempla
inúmeras palestras para estimular o debate e avanço dessa ciência. Além
disso, também será realizada uma simulação na ilha de Tupé para medir o
nível do rio Negro a partir de receptores de satélites que são
utilizados na validação de dados coletados diretamente do espaço.
Atualmente, cinco satélites fornecem informações sobre o nível de água
dos rios brasileiros, assim como de qualquer outro país no mundo. São
eles: Jason-3 , Sentinel 3a , Sentinel 3b , Icesat 2 e Cryosat-2, sendo
mais de 1.000 estações virtuais em operação apenas na América do Sul.
Entre os satélites que pararam de operar, mas possibilitaram o
levantamento de uma base de dados, destacam-se: Envisat, Jason-2 ,
Jason-1 , Saral e Icesat.
Para realizar previsões de níveis dos
rios, no período de inundações e secas, em pontos de interesse do país, é
preciso observar também o comportamento das águas nas regiões que fazem
fronteira com o Brasil. E a tecnologia espacial tem colaborado para
expandir este monitoramento, estimando os níveis dos rios e a
precipitação das chuvas, além de possibilitar o progresso geocientífico e
complementação do monitoramento realizado por estações pluviométricas e
fluviométricas da Rede Hidrometeorológica Nacional, que é operada pelo
Serviço Geológico do Brasil, em parceria e com financiamento da Agência
Nacional de Águas (ANA).
De acordo com o engenheiro cartógrafo da
(CPRM), Daniel Moreira, as principais áreas transfronteiriças são: o
Alto Rio Negro, com fronteiras com a Colômbia e Venezuela; rio Solimões
em Tabatinga (tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru); rio Madeira
(fronteira com a Bolívia); entre outros pontos. "Além disso, temos
outras bacias além da Amazônica, a exemplo da bacia do rio Paraguai que
também carece de monitoramento principalmente fora dos limites
territoriais brasileiros”, destacou.
“As regiões de fronteira,
principalmente no Norte, são pouco habitadas. Muitas infelizmente tem
conflitos e são rotas de tráfico de drogas, dentre outras atividades
ilegais, o que aumenta a dificuldade e segurança da operação em campo.
Os satélites buscam reduzir essa lacuna de insuficiência e incerteza de
informações também sobre as águas, além da fronteira, nos países
vizinhos”, acrescentou Moreira.
Ainda segundo Moreira, “em geral,
a região Amazônica já traz uma complexidade, pois em geral a distância
dos pontos de monitoramento para as superintendências regionais da CPRM
são enormes”. “Apesar de termos estações em campo automáticas que
transmitem dados através de celular ou comunicação via satélite, essas
estações requerem manutenção com visita periódica, de forma a garantir a
qualidade da informação gerada. Muitas dessas estações só podem ser
visitadas por barco ou por avião. Caso surja um problema, mesmo com
equipamento automático, semanas podem se levar até que o conserto seja
providenciado”, disse.
O líder do grupo de pesquisa na área de
Hidrologia da missão SWOT, Jean-François Cretaux do CNES, o cientista
Ernesto Rodriguez da NASA (Agência Espacial Americana), o diretor de
pesquisa Stéphane Calmant do IRD que é especialista na validação e
calibração de dados de satélites, e outras referências mundiais irão
palestrar na conferência internacional.
A equipe brasileira,
assim como os membros da equipe científica do SWOT, terá acesso primário
aos dados a serem obtidos pela missão e participará ainda da validação e
calibração do satélite, que irá monitorar todos os oceanos e rios do
mundo. Em especial no Brasil serão estudados o Alto Rio Negro, rio
Paraguai e rio São Francisco, diariamente, durante seis meses.
Representantes de diversos países da América do Sul, como Colômbia, Peru, Chile, Bolívia e Uruguai, também estarão presentes.
Um acordo de cooperação técnica entre a CPRM e o IRD será assinado
durante o evento para formalizar a pesquisa de Hidrologia por satélites
entre as instituições. Por intermédio desta parceria foram publicados
diversos artigos em revistas internacionais e capacitação do quadro
técnico da CPRM a nível de mestrado e doutorado. Os pesquisadores e
analistas em Geociências já publicaram dissertações e teses sobre esta
linha de pesquisa. Outros estudos estão em andamento. Entre os
profissionais estão: Alceu Mendel, Ana Carolina Costi, André Santos,
Arthur Abreu, Bernardo Oliveira, Daniel Moreira, Fabio Araújo da Costa,
Luana Martins e Mauro Trindade.
O acordo será assinado por:
Marie-Pierre Ledru, representante do IRD no Brasil; Esteves Colnago,
diretor-presidente da CPRM; Antônio Bacelar, diretor de Hidrologia e
Gestão Territorial da CPRM; e Maria-Glicia da Nóbrega Coutinho, chefe da
Assessoria de Assuntos Internacionais da CPRM.
Além da missão
SWOT, o Serviço Geológico do Brasil também tem expectativa do lançamento
da missão SMall Altimetry Satellites for Hydrology (SMASH), que
pretende fazer o primeiro teste para uma altimetria espacial operacional
com frequência diária, onde serão colocados em órbita 10 nano satélites
exclusivos para o monitoramento hidrológico, sendo possível assim obter
informações diárias do nível de água nos principais rios da América do
Sul.
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